IX

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Simons sentia que agora tinha a vantagem, tudo já começava a fluir perfeitamente. Não sabia o que tinha motivado ela a mudar de ideia, mas agora não perderia a chance, agarraria a oportunidade como animal que captura sua caça. Precisaria se alimentar em dois dias, e considerava tempo mais que suficiente para enlaçar Érika. Ela poderia ter bancado a durona e marrenta, mas logo estaria caidinha por ele. Era assim com todas as garotas que o conheciam, todas cediam ao seu charme no final. E essa, em particular, por ter dado uma de difícil, tornaria tudo mais emocionante na hora da ação. Simons resolveu que passaria na floresta, visando adiantar as coisas para si mesmo, evitando assim qualquer imprevisto.

Simons era sempre muito metódico quando precisava ser, calculava os detalhes de suas ações, levando em contas as margens de erros e possíveis encrencas. Enquanto sob controle à sua sede, sua personalidade era até bem diferente da que ele exercia em seus momentos de glória. Costumava ser cauteloso e até parecia bobo para alguns, talvez não tão esperto e até manipulável. O máximo em que poderiam rotulá-lo era como só mais um babaca que iludia mulheres em troca de uma noite de sexo. Ele era assim, fingindo ser alguém que não era, ou era alguém fingindo ser assim.

Ele e Érika combinaram de saírem no domingo, exatamente quando os dois dias de controle de Simons chegassem ao fim, quando suas vontades estivessem no ápice e quando seria sua folga. Perfeito! Ainda era quinta-feira e os dois se cruzariam bastante pelo hotel, e assim poderiam acertar mais detalhes, ou talvez ela continuasse dando patadas nele até o bendito encontro. Érika guardou para si a informação de que era uma detetive, considerando que ele não precisava saber no momento, e ele acabaria descobrindo mesmo, já que logo ela estaria entrevistando os outros convidados da festa, com certeza ele trocava mensagens com os amigos, deveria ser popular e era atualizado das notícias sobre o que acontecia na cidade, seja lá o que de mais emocionante acontecesse ali. Então era só deixar rolar sem pressa. Simons garantiu que mostraria para ela os melhores lugares de Setville e que ela descobriria que aquela cidade não era tão pacata e ruim assim. Será mesmo? Érika procurou parecer empolgada e disposta, considerando que talvez aquele garoto presunçoso não fosse tão mal assim. E disse para si mesma que era apenas trabalho. Era óbvio que o tipo dele teria atraído Sophia. Era bem possível que ele a tivesse visto. Mas deixaria para tocar no assunto no suposto encontro de domingo. Já havia tido um dia cheio, então queria agir como uma pessoa normal.

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Simons passou a madrugada com Érika em mente, planejando como e em que momento deveria agir, as imagens passavam em sua mente como algo que já tinha acontecido. Se bem que era fácil visualizar tudo após três assassinatos. A ideia de levá-la para conhecer Setville já tinha sido sua tacada de mestre, assim ela não questionaria quando ele tomasse um rumo diferente. Tudo bem que ele não sabia o que ela fazia durante o dia, se ficava no hotel ou saía para algum lugar. Na verdade, ainda não sabia nada sobre ela, e esperava que ninguém mais soubesse. Assim ninguém sentiria falta quando ela desaparecesse. Só precisava encontrar uma maneira de se livrar das malas dela sem que Kalista percebesse. Bom, ele tinha acesso à chave do quarto 33, não seria difícil. Mas no domingo? Teria que inventar uma boa desculpa para entrar no hotel, depois que realizasse seu plano. Durante esse meio período, aproveitaria para conhecer mais sobre Érika e sua rotina durante a ausência dele. Achava até uma pena alguém vir de outra cidade só para morrer em Setville.

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Como sempre, Kalista chegou às 4:00h. Simons entrou no carro, ligou o motor e pisou no acelerador. Precisava ser rápido. Pegou a estrada que tinha se tornado bem familiar nas últimas semanas. Seguiu para a floresta. Estacionou exatamente onde estivera da última vez. Lembrou-se de Sophia. Era quase como se ainda pudesse ouvir os gritos dela, como se ainda pudesse sentir o cheiro do sangue dela. Passou a língua nos caninos e sorriu. Abriu o porta-malas do carro e tirou uma pá lá de dentro, adentrando em seguida na floresta. Teria de escolher um lugar especial e longe dos outros corpos, para o caso de um dia um deles chegasse a ser descoberto, a polícia tivesse dificuldade em encontrar os outros. Caminhou por boa parte da floresta, carregando a pá nos ombros, até chegar próximo de um riacho. Começou a cavar. Por sorte, não se cansava. Cavou o suficiente para colocar um corpo naquele buraco, deixando o barro ao lado no ponto de ser posicionado de onde havia sido removido. Seria ali que enterraria Érika. De longe, alguém o observava.


A EscolhidaWhere stories live. Discover now