Ícaro chegou na delegacia e se deparou com o policial Edgar no portão, que logo o olhou dos pés à cabeça.
- O que você quer, rapaz? - aquele velho tom de desdenho.
- Eu vim falar com o delegado Martinez.
- Isso não é mais hora para visitas, rapaz.
Ícaro suspirou, incomodado por ele ter usado a palavra "rapaz" duas vezes.
- Diga que é o sobrinho dele, Ícaro Vines.
- Se é sobrinho do delegado, então por que não usou seu telefone para ligar para ele dizendo que está aqui?
Para a sorte de Edgar, Ícaro não era como Simons, ele não agia por impulso. Quando não precisava fingir ser um idiota, era na verdade muito refinado e polido, tanto na postura quanto nas palavras. Tinha classe e muito autocontrole, e era exatamente isso que o estava impedindo de arrancar fora o coração daquele policial merdinha naquele mesmo instante.
Para a salvação de Edgar, o delegado Martinez surgiu pela porta logo em seguida. Seus olhos expressaram surpresa ao ver Ícaro ali.
- Este rapaz disse que é seu sobrinho, delegado. - se pronunciou Edgar.
- Sim, ele é. Deixe-nos à sós, oficial Edgar. Aproveite e vá tomar um café. - o delegado deu a ordem, ainda encarando Ícaro.
- Sim, senhor. - obedeceu o policial.
Ícaro e o delegado Martinez permaneceram em silêncio até que Edgar estivesse longe o suficiente.
- Eu já não avisei para não aparecer aqui na delegacia, Vines? - começou o delegado.
- Eu não podia esperar, tio. Descobri uma coisa importante.
- O que houve? Trouxe o que seu pai pediu?
- Sim. - e tirou do bolso a seringa contendo o sangue de Érika. - Aqui está.
O delegado Martinez pegou o objeto da mão de Ícaro.
- Então, o que você descobriu?
- Talvez tenhamos um problema.
- Que tipo de problema? Fale logo de uma vez! - bradou o delegado, impaciente.
- Uma bruxa.
O delegado Martinez empalideceu-se. Aquilo não era possível, não tinha como ser.
- Que história é essa, Vines? Desde quando faz esse tipo de piada?
- Não é piada, tio.
- E como você tem tanta certeza disso? - o delegado exigiu saber.
- Simons me contou.
- Aquele vampiro de merda nem sabe direito o que ele mesmo é.
- Eu não teria tanta certeza disso. - Ícaro rebateu.
- E por quê?
- Eu vi a detetive, lembra? E ela já está quase 100% curada. Mesmo com os poderes dela, levaria mais tempo. Simons me disse que quem cuida da detetive é a melhor amiga. Ela se chama Doralice. Pense delegado, como a melhor amiga não saberia o segredo da outra? Como viria de longe para cuidar dela se não soubesse?
- Bruxas não existem, Vines. A P.S. Foundation cuidou disso há muito tempo atrás.
- Melhor prevenir do que remediar.
O delegado resolveu se dar por vencido.
- Tudo bem, eu ligarei para o seu pai. Vou pedir reforços. Agora vá.
Edgar apareceu logo em seguida com um copo de café na mão. Ele soprou o vapor e bebeu um gole, observando o delegado e Ícaro se cumprimentarem em uma despedida. Ícaro lhe lançou um olhar ameaçador e Edgar congelou por um instante. Ele não entendeu o motivo da súbita reação em seu corpo. Afinal de contas, poderia acabar com aquele garoto mimado com facilidade.
- Não sabia que tinha um sobrinho, senhor delegado. - comentou o policial.
- Sabe como é o trabalho, não permite que a gente tenha tempo para conversar sobre a vida pessoal.
- Mas está tudo bem, senhor?
- Tudo ótimo, oficial. Volte ao seu posto. Tenho que ir agora. Tenha uma boa noite, Edgar.🦇
Em casa, o delegado Martinez pegou o celular e telefonou para o doutor Vines. Ele atendeu no terceiro toque.
- Martinez? - o doutor disse do outro lado da linha.
- Sim, sou eu.
- Conseguiu a minha amostra? - perguntou o doutor Vines.
- Sim, estou em posse do material. Mas talvez tenhamos um problema.
- O que houve?
- Ícaro me contou que há uma bruxa cuidando da detetive Érika.
- Impossível! - bradou o doutor Vines do outro lado da linha.
- Foi o que pensei. Mas gostaria de solicitar mais homens para a missão. Somente por cautela profissional.
- Bruxas não existem, Martinez. Cuidamos disso há muito tempo. Você conhece a história.
- Eu sei. De qualquer forma, solicito uns homens à mais, por gentileza. - o tom de voz do delegado parecia ter uma espécie de súplica.
- Que seja. Mas me traga a garota o mais depressa possível. - ordenou o doutor.
- Estou trabalhando nisso. - e desligou o telefone.🦇
Pela manhã, o delegado Martinez chamou pelo policial Eliot. Entregou-lhe uma encomenda, destinada ao prédio da P.S. Foundation em Only Faster. Deu instruções específicas ao policial para não abrir a embalagem e para entregar somente na recepção do prédio endereçado. Eliot pegou a viatura e se dirigiu para a cidade vizinha.
Durante o trajeto, percebeu na pista marcas de pneus que levavam para fora da estrada. Resolveu parar e verificar do que se tratava. Desceu do carro e traçou o caminho pelas linhas escuras no asfalto. Adentrou na floresta, quando avistou um carro. Eliot conhecia aquele veículo, era do seu parceiro, Alan. Verificou dentro do carro e descobriu que Alan não estava ali. Talvez tivesse caminhado até a cidade, pois não era tão longe dali. Se perguntou o porquê de o amigo não ter telefonado então. Decidiu que descobriria o motivo assim que chegasse em Only Faster.
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A Escolhida
VampireApós o desaparecimento de 3 garotas na pequena cidade de Setville, o delegado Martinez não parece saber o que fazer para encontrá-las. Com o rumor de um possível serial killer à solta naquele lugar, a comunidade cobra por respostas. Temendo pela seg...