XXIV

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- E agora, vai me entregar a chave ou não? - Doralice encarava Simons, que continuava paralisado com Érika em seu colo - Anda, garoto! Ela não vai sobreviver se ficarmos aqui parados. Deixa de ser palermo.

Doralice fitava o céu, que estava parcialmente nublado e isso a deixava impossibilitada de ver a lua, que estava ofuscada pelas nuvens. De qualquer forma, de nada adiantaria agora. Voltou os olhos para Simons e ele continuava sem se mover.

Ela se aproximou dele e tocou em seu ombro.

- Garoto vampiro, temos que levá-la para o quarto. Ela vai morrer se continuarmos aqui sem fazer nada. Está me entendendo? - ela tentou lhe dar um choque de realidade.

Simons finalmente despertou do seu momento de transe.

- Tudo bem. O que eu posso fazer? - Simons perguntou.

- Pegar a chave do bendito quarto já é um bom começo. Vai logo, deixa que eu carrego ela.

- Você consegue?

- É moleza.

No mesmo instante, o corpo de Érika começa a flutuar, posicionando-se ao lado de Doralice.

- Viu? Eu disse. Agora, por favor, se apresse.

- Quarto 33. - ele disse.

Simons entrou no hotel e foi até o balcão buscar a chave. Doralice seguiu pelo corredor em direção às escadas, com o corpo de Érika flutuando do seu lado esquerdo, na altura dos ombros. "Vai ficar tudo bem amiga", ela disse sem olhar para Érika.

No quarto, Doralice colocou Érika na cama. Ela pegou uma toalha para limpar o sangue pelo corpo de Érika. Simons estava quieto, andando de um lado para o outro no quarto.

- Tem como você parar com isso, garoto? Está me deixando agoniada. - Doralice o repreendeu.

- Ela vai ficar bem?

Doralice percebeu o quanto ele parecia mesmo preocupado.

- Vai... - ela fez uma pausa - Mas não sei em quanto tempo. Ela nunca tinha sido ferida dessa maneira e deveria estar se curando. Quem a atacou é muito poderoso.

- O que vamos fazer? - sua voz saiu nervosa.

- Ela precisa da luz da lua cheia. Quando é a próxima?

- Eu deveria saber a resposta?

- Sem a luz cheia, talvez leve tempo para trazê-la de volta. O que eu posso fazer é mantê-la viva e cuidar de seus ferimentos.

- E eu?

- Você precisa encontrar quem fez isso.

- Você não está vendo o que fizeram com ela? Que chances eu tenho?

Doralice ficou boquiaberta.

- Você é muito frouxo para um vampiro. Não esperava covardia de alguém claramente apaixonado.

Simons pigarreou.

- Do que está falando?

- Como eu disse, eu sinto as coisas. Você tem que sair agora, preciso terminar de limpar os ferimentos dela.

- Se sabe das coisas, então sabe que eu já vi ela nua.

- Eu mandei você sair. À propósito, preciso que desça e traga minha bagagem.

- Não pode fazê-la voar até aqui em cima?


Doralice ignorou o comentário.

- E traga vodka também, se tiver bebida nessa espelunca.

Simons virou-se para sair, dando uma última olhada para Érika. Ao ver o rosto dela machucado, sentiu uma pontada no coração.

Ele retornou cinco minutos depois, com a bagagem em uma mão e um litro de vodka na outra.

- Você demorou. Anda, me dá a bebida aqui. - ordenou Doralice.

Simons lhe entregou a garrafa. Ela retirou a tampa e deu um longo gole.

- Pensei que a bebida era para ajudar a limpar os ferimentos dela.

- Onde você viu isso? Em algum filme? A bebida era para mim, por conta da casa, aliás. O que eu preciso para limpá-la está naquela mala. Abra-a e traga a caixa preta para mim.

Pronto, mais uma para achar que mandava nele.


Simons abriu a mala, encontrou a caixa e entregou para Doralice. Ao vê-la abrir, se deparou com vários tipos de folhas e ervas.

- Você é algum tipo de macumbeira? - ele perguntou cheio de curiosidade.

- Não.

- Feiticeira?

- Uma bruxa. - ela respondeu, concentrada em um dos ferimentos de Érika.

"Isso explica o vestido esquisito", Simons pensou.

- E qual a diferença?

- Feiticeiras são forjadas, assim como você e Érika foram, mesmo que tenha sido de uma maneira acidental. Bruxas são humanas que fizeram um acordo.

- Acordo com quem? - Simons ficou ainda mais curioso.

Ela o encarou e sorriu.

- O que isso quer dizer? - ele questionou.

- Que talvez todas as lendas de livros de fantasia sejam reais.

Simons ficou em silêncio, observando Doralice colocar as folhas sobre os ferimentos de Érika e fazer alguma espécie de oração baixinha em uma língua que ele não entendia. O corpo dela começou a absorver aquilo, até que não restasse mais nada. De repente, Érika começou a se contorcer, como se estivesse em um estado de convulsão desenfreada.

- O que está acontecendo com ela? - alarmou Simons.

Doralice colocou a mão sobre ela e gritou "Prohibere!" e o corpo de Érika parou se debater no mesmo instante.

- O que foi isso? - Simons insistiu em saber.

- Apenas uma reação ao encanto. Ela vai ficar em coma por um tempo, mas vai ficar bem.

- Por um tempo? Quanto tempo?

- Não sei dizer. Uns dias, talvez.

Merda. Não, não, não.

- Você não pode fazer mais nada agora?

- À menos que você me traga uma lua cheia, não.

Doralice levantou da cama, foi até a mala de Érika e pegou outra toalha, seguindo para o banheiro para molhá-la. Ela tirou o excesso de água, dobrou a toalha e retornou para a cama, colocando o pano úmido na testa de Érika. Pegou um dos lençóis e cobriu seu corpo despido. Após isso, virou-se para Simons.

- Ela está estável por enquanto. Vamos descer, vou precisar de outra garrafa dessa. - ela apontou para o litro de vodka pela metade - E também temos que descobrir o que aconteceu, garoto vampiro.

A EscolhidaWhere stories live. Discover now