68 - Styles.

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   Lá no fundo, ela já esperava por isso.

  Neste momento, Skye estava sentada em uma cadeira de madeira velha no centro da sala. Tinha as mãos amarradas ao lado do corpo e a cabeça estava tombada sobre o peito.

  Logo a frente, o homem alto estava sentado sobre uma pilha de tijolos, seu corpo estava curvado com os cotovelos apoiados nos joelhos. Em sua mão direita havia uma faca de caça preta, na mão esquerda estava o pano de algodão que ele usava para limpar a lâmina.

  Seus olhos frios vez ou outra pousavam sobre a garota adormecida, e permaneciam ali por um longo tempo.

  Havia algo peculiar nele. Apesar de ter uma aparência acima da média, uma postura firme e um sorriso encantador - quando se permitia apresentá-lo - seus olhos pareciam um céu nublado. Eles carregavam uma dor capaz de perturbar quem se atravesse a encara-lo por alguns minutos seguidos.

  Aquele homem definitivamente havia sentido a dor da perda e da rejeição. Ele, definitivamente, havia abandonado a racionalidade há muitos anos atrás.

  Com um gemido baixo, Skye abre lentamente os olhos, para dar-se conta de onde estava. Um liquido quente banhava o lado esquerdo de seu rosto, e sua cabeça doia muito quando a ergueu, encontrando o homem sentado logo em fente.

- Achei que você não iria acordar. Estou aliviado. - Ele parecia despreocupado

Alguns minutos de silêncio.

- O que foi, você não quer conversar comigo? - Franzindo o cenho, ele finge estar magoado. - tsk tsk, não era isso que eu esperava, Skylar, quer dizer, você não sabe quanto tempo eu gastei planejando isso. Na verdade, eu não sabia quais palavras eu deveria usar quando o momento chegasse.

  Levantando-se, ele caminha alguns passos, ajoelhando-se em frente a cadeira onde Skye estava presa.

- Sabe, você me deixa nervoso. - Sorrir, sádico.

Skye mantinha os olhos fixos em seus próprios joelhos.

- Quem... - A garota sussurra - quem é você, de verdade?

O rapaz estreita os olhos.

- Acho que eu tenho que me apresentar direito. - Suspira, erguendo-se e caminhando vagamente pelo ambiente frio e úmido. - Meu nome é Styles...

  Ele para de andar, tendo uma das mãos no bolso da calça jeans, e a outra mão ainda segurando a faca, que brincava entre seus dedos.

James Styles.

  Um ruido alto é ouvido alguns metros atrás de Skye.
Antes que a garota possa virar o rosto para procurar o que havia causado aquele som, uma silhueta magra cambaleia através da sala, atravessando as telas verdes, e caindo ao lado de Skye.

  Era uma garota. Era a garota por quem todos procuravam no hospital. A paciente do quarto 312. Era...

- Talyta! - James exclama, apoiando as mãos nos quadris.

  A garota ainda usava o uniforme hospitalar, assim como Skye.  Seus cabelos escuros estavam cobertos de poeira, as mãos amarradas atrás das costas e a boca coberta por um pano.

  Era uma das quatro pessoas que estavam presas e Skye havia visto antes de ser atingida, com certeza era.

- Você acabou de interromper uma conversa importante, sabia? - O rapaz caminha até ela, agachando-se ao seu lado.

  Os olhos de Talyta gritavam por socorro quando as mãos de James alcançaram seus cabelos, puxando sua cabeça para trás violentamente.

- Está vendo isso, Skye? - Ele aponta sua faca para a garota, que agora tinha lágrimas cobrindo o rosto. - É isso o que acontece com quem mexe onde não deve.

- Se afaste dela... por favor. - Soluça, sentindo um nó se formar em sua garganta.

- Eu não quero machuca-la, não mesmo. Mas, sabe, as vezes as pessoas não nos dão escolha. Essa vadia me seguiu quando eu sai do galpão certa noite, você faz ideia de como isso é invasivo?! - Ele agia como se, de alguma forma, fosse a vítima da situação.

  Mas não era ele quem tinha uma faca sendo pressionada contra o pescoço.

  Talyta agitava a cabeça freneticamente enquanto tentava se livrar das mãos que a mantinham presa.

- Solta ela. - A voz de Skye saiu quase inaudível.

  O som da faca de James deslizando sobre garganta da moça em um movimento rápido e inesperado, preenche o ambiente. Em alguns segundo, Talyta estava deitada sobre uma poça de sangue. Seus olhos ainda abertos encaravam Skye, repletos de horror e desespero.

O ambiente agora estava mais silencioso. Continuava frio, úmido, coberto de poeira, mas agora havia uma sutil diferença; o odor acobreado preenchendo o local, invadindo as narinas de Skye e fazendo-a lembrar que havia o corpo de uma garota assassinada ao seu lado.

  James disse que não iria mantê-la ali, para alertar Skye de que ele não estava brincando.

Definitivamente não estava.

- Você não está traumatizada, está? - Ele inclina a cabeça. - Quando nós éramos crianças eu estava constantemente sendo acusado de te deixar traumatizada.

  Ele prende uma risada. Estava sendo irônico

- Isso me deixa nostálgico. Quer dizer, a família está reunida outra vez. - Ele aponta para a direção onde estavam as outra três pessoas, aparentemente desacordadas. - Só falta uma pessoa.

- Você sequestrou a minha familia?

  Skye estava começando a recordar. Os três rostos que havia visto mais cedo eram familiares. Aos poucos, lembranças fragmentadas invadiam seus pensamentos. Talvez a amnésia fosse temporária. Talvez, ela finalmente pudesse lembrar de quem realmente é.

- Não. Eu apenas trouxe a nossa família para uma reunião

- Você não não faz parte da minha família. - Sua voz era embargada, porém estava preenchida por raiva.

Ela finalmente lembrava.

- É claro que eu sou. Tanto eu, quanto meu irmãozinho que você parece conhecer muito bem.

Harry.

- Aliás, eu fiquei realmente magoado por você não ter me reconhecido. Até o papai me reconheceu. - James volta a sentar-se sobre a pilha de tijolos - Ele ficou tão  desesperado quando Harry decidiu alugar aquele maldito galpão. Foi divertido assistir.

- Cale a boca, desgraçado. Ele não é seu pai! - Skye grita enquanto se debate, tentando afrouxar as cordas ao redor de seus pulsos.

Nada daquilo não fazia sentido. Aquele homem estava louco.

- Ai é que você se engana, Skylar. Por mais que eu odeie esse fato, Robert é meu pai.

Ele inclina o corpo, apoiando o queixo nas mãos.

- Ele não é o seu pai.




Não Abra A Porta Para Estranhos [H.S]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora