69 - Before.

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- E você é um completo lunático.

  Skye tentava desajeitadamente folgar as cordas que prendiam seus punhos enquanto tentava manter os olhos de James fixos nos seus, mas sem o êxito esperado.

   O rapaz inclina a cabeça e abre levemente a boca, desacreditado.

"Quem essa pirralha pensa que é?"

- Você ficou mais irritante com o passar do tempo, sabia? - Ele pisca algumas vezes.

  James levanta-se, caminhando em passos curtos até parar ao lado da cadeira onde Skye estava presa. O rapaz crava a faca que segurava no braço direito da cadeira, à apenas alguns centímetros da mão da garota, que se encolhe em reflexo, em seguida lançando-lhe um olhar que dizia:

"Sem gracinhas, ou não vou errar da próxima vez"

  Ele se direciona a grande janela desprotegida, alguns metros a diante, parecendo despreocupado.

  Seus olhos se mentiam fixos no céu nublado quando ele começou a falar vagamente, mais para si mesmo, do que para a garota...

- ALGUNS ANOS ANTES -

O gramado do campo de futebol do colégio ainda era verde, apesar do outono estar se aproximando.
  Os dois jovens corriam de mãos dadas, tentando não ficar sob a luz do grande holofote que, por motivos de segurança, era mantido ligado durante a noite toda.

As risadas da garota são abafadas pelas costas da mão do rapaz contra sua boca.

- shh - Ele sussurra.

Ela apenas ria mais, com seus olhos verdes marejados.

- Anna, eles vão nos pegar!

Ele franze as sobrancelhas quando sua mão é afastada.

- Você é tão fofo quando está com medo, é inevitável sorrir. - A garota deposita um leve beijo em seus lábios.

A adrenalina fazia seus corações dispararem.

Seus olhos estavam fixos um no outro. Só existiam os dois naquele momento. O sorriso largo deixa os olhos de Anna, quando uma lágrima desliza sobre sua bochecha rosada.

- Por quanto tempo vamos continuar nos escondendo? Eu quero ser sua, quero que todos saibam disso, Robert.

- Sua mãe me odeia, para ela eu não passo de um menino órfão - um sorriso triste surge no canto de seus lábios - mas vamos aproveitar o tempo que nós temos agora, que tal?

  Ela assente devagar, sentindo aa mãos do namorado apertarem sua cintura e puxá-la para mais perto.

(...)

- Não, mamãe, por favor!

Anna implorava, enquanto as empregadas, por ordem da mãe, jogavam suas malas abertas na calçada.

Apesar de estar nos primeiros dias, o inverno daquele ano parecia o mais severo de todos. A discussão havia começado aquela manhã, quando a mãe da jovem havia encontrado um teste de gravidez em seu quarto. O resultado: positivo.

- Eu não criei minha única filha para ser uma vadia que engravida antes de terminar o colégio! - A voz da mulher loira era alta e intimidadora.

  Pedestres que passavam no momento olhavam com pena para a garota humilhada, ajoelhada na calçada, recolhendo seus pertences.

- Mamãe, por favor... - Era tudo o que conseguia balbuciar entre soluços agressivos.

  A mulher que já se preparava para voltar para dentro de seu palacete, para ao pé da varanda, antes de virar e lançar um olhar de desprezo para a filha.

- Não me chame assim - Seus olhos frios exalavam uma sinceridade decepcionante - A partir de hoje, eu não tenho mais filhos.

  Os flocos finos de neve cobriam os cabelos castanhos da moça. Seu coração parecia ter se partido em mil pedaços ao ver sua mãe dar as costas e fechar a porta atrás de si, abandonando-a para sempre.

  Anna teria chorado mais intensamente. Ela teria gritado e implorado para entrar em casa se, naquele momento, ela soubesse que seria a última vez que veria sua mãe.

(...)

A casa onde Robert morava era pequena. Desde que seus país morreram, há cerca de um ano, em uma acidente que chocou toda a Londres, ele cuidava de si, trabalhando em um emprego de meio período depois da escola.

- Merda, merda, merda... - Ele sussurra, com os dedos enrolados em seus cabelos, e os cotovelos apoiados nos joelhos, enquanto encarava o chão.

Anna estava de pé, o encarando. Seus olhos vermelhos e inchados ainda deixavam escapar algumas lágrimas enquanto ela segurava com força a alça da mala que tinha em mãos.

- Me desculpa. - Soluça baixo.

- A culpa não é sua - Robert levanta-se, caminhando até ela - Olha, a culpa é minha, eu deveria ter usado proteção, eu sei. Mas, eu mal consigo me sustentar, como eu vou criar uma criança?!

Sua fala era rápida. Seus olhos agitados estavam fixos no rosto da garota. Ele queria que ela o entendesse. Mas ele não percebia que ela não tinha escolha.

Nehum dos dois adolescentes tinha escolha. Precisavam arcar com as consequências das suas atitudes, embora, parecesse impossível naquela situação.

Com sorte, conseguiriam acabar o colégio antes dos nove meses da gestação se completarem.

(...)

O choro alto ecoava por toda a casa.
Por mais que Anna tentasse, o bebê não parava de chorar, enquanto o irmão brincava silenciosamente no berço.

- shh meu amor, fique quieto, por favor. - A mãe o embalava em seus braços, andando em círculos pela casa, suplicando carinhosamente para o filho se acalmar.

- Qual o problema dele?! - Robert abre a porta da casa repentinamente.

Sua roupa ainda estava suja de graxa e o boné prendia seus cabelos fartos. Ele havia passado a trabalhar na fábrica da cidade, após concluir o colégio. Agora ele precisava sustentar uma familia de quatro pessoas sozinho.

Uma expressão zangada estava estampada em seu rosto.

- Dá para ouvir o choro dele da rua, Anna! Você faz ideia de como isso é irritante? Os vizinhos devem nos odiar! - Ele joga a bolsa que carregava em cima do pequeno sofá.

- Eu sinto muito. Eu já fiz de tudo, eu não sei o que ele quer.

Anna tinha acabado de completar 18 anos, mas precisava cuidar de uma casa e de dois filhos que dependiam dela. E ela não fazia a menor ideia do que deveria fazer.

- Como se não bastasse ter gêmeos, você é irresponsável o suficiente para não saber lidar com eles.

  Robert havia mudado no último ano. Havia se tornado ríspido e impaciente, diferente do garoto gentil à quem Anna havia entregue seu coração. E, pior, havia depositado sua confiança.

  Ela soube que confiar nele foi seu maior erro na noite em que ele saiu de casa reclamando do choro das crianças, e nunca mais voltou.

Não Abra A Porta Para Estranhos [H.S]Where stories live. Discover now