Não Abra A Porta Para Estranhos [H.S]

76 - Kill Her.

Os pequenos olhos de Skye vagaram sob a luz fraca do quarto e pousaram sobre o garoto que dormia tranquilamente ao seu lado.
  Ao encarar a janela, seus pensamentos foram invadidos pelas milhares de possibilidades. O papai Noel realmente estaria no bosque? Ela poderia provar para seus amigos da escolinha que seus presentes realmente eram deixados pelo Bom Velhinho?

Era uma oportunidade única que estava sendo concedida por Harry, a pessoa em quem ela mais confiava, aquele que ela via como um irmão.

- Eu quero ver o papai Noel. - a menina sussurra, apertando firme a orelha do coelhinho de pelúcia.

- Ótimo! - o menino à sua frente sorri, estendendo-lhe a mão.

Cautelosamente Skye levanta-se da cama, deixando o cobertor de lado e trazendo consigo apenas seu Bunny.
  James já estava vestindo seu casaco e suas luvas, tendo um gorro sobre a cabeça.

O garoto abre a porta devagar, sem conseguir evitar um pequeno barulho vindo da madeira velha, fazendo Harry, que ainda dormia, mover-se vagamente.

Ele suspira em alívio ao perceber que o irmão não havia acordado. Tudo ainda estava seguindo conforme o planejado.

Eles andam devagar pelo corredor, parando em frente ao quarto de Skye.

- Hazz, eu vou calçar as botas. - Skye solta sua mão, entrando no quarto.

O menino revira os olhos, apontando a luz da lanterna que carregava consigo para dentro do quarto. Ele apenas observa enquanto Skye, desajeitadamente, calça as galochas rosadas.

- Anda logo, papai Noel vai embora! - ele balbucia, já irritado.

- Vou procurar minha capa. Espera. - a menina adentra um pouco mais na escuridão, abrindo a porta de seu guarda-roupas, o que impossibilitava que ela visse o que se passava no corredor onde James se encontrava.

  O garoto tinha os braços cruzados sobre o peito e encarava algum ponto no chão, quando sente seu braço esquerdo ser puxado bruscamente, fazendo-o tropeçar e parar em frente a porta que dava para o sótão.

- O que você está fazendo?! - os olhos do menino encontram-se com a imensidão verde do olhar assustado do irmão.

- Eu que pergunto, o que você está fazendo? Onde está Skye? - Harry segurava firmemente oa braços do irmão.

- Está no quarto dela. - ele responde, desinteressado.

- Por que você a trouxe para cá? O que você pretende?

James bufa, empurrando as mãos do irmão para longe do seu corpo.

- O que você acha? Eu só vou levar a bastarda para dar um passeio.

- Você está louco? Ela tem cinco anos, onde você quer levá-la em pleno inverno? Ela pode ficar doente.

Harry acena com a cabeça, reprovando a atitude do irmão. Em seguida ele se dirige até o quarto de Skye, pretendo trazê-la de volta, porém é impedido pelas mãos de James que o puxam, jogando-o contra a parede.

- E daí se ela ficar doente e morrer? Não seria melhor se fôssemos só nós dois, outra vez? Pelo menos assim o Robert lembraria que nós somos os filhos dele de verdade. - Seu tom era um pouco mais alto do que deveria.  Sua voz estava trêmula, porém uma maldade inexplicável dominava seu olhar.

- James, ainda somos nós dois. - Harry coloca as mãos sobre as bochechas do irmão - Mas agora nós temos uma família maior, e Skye faz parte dela. Ela é nossa irmã, temos qie protegê-la da mesma forma que protegemos um ao outro.

James estava calado, escutando atentamente as palavras do outro. O corredor escuro e frio era preenchido pela presença dos dois, e a sensação de desespero que Harry emitia discretamente, ao tentar convencer o irmão a não machucar outra pessoa.
  Harry notava a falta de afeição de James por qualquer  pessoa após a morte da mãe, só nunca imaginou que poderia chegar à esse ponto.

- Agora eu vou buscar Skye e vamos todos voltar a dormir, tudo bem?

James apenas deixa o olhar cair para o chão, relaxando os braços ao redor do corpo. Acreditando que havia convencido o irmão, Harry suspira aliviado, afastando-se e caminhando sobre a madeira escura.

  James solta a lanterna no chão, fazendo um barulho ecoar pela casa adormecida. Em um movimento rápido ele agarra os ombros de Harry, empurrando-o contra a porta do sótão, que se abre e faz o garoto cair no chão.

- Desculpe, irmão. - James sorri, antes de trancar a porta.

O som abafado dos gritos de Harry implorando para que James não machuque Skye são deixados para trás quando ele abaixa-se para pegar a lanterna, caída do no chão.

- O que foi isso? - Skye surge ao longe, usando uma capa de chuva amarela e abraçando seu bixinho de pelúcia.

- Acho que o James caiu da cama. - Ele sorri, segurando a mão se Skye e puxando-a em direção às escadas.

- Espera, será que ele se machucou? - a menina para no primeiro degrau, franzindo o cenho.

- Tenho certeza que não, agora vamos! - aquele tom autoritário definitivamente não pertencia ao verdadeiro Harry. Infelizmente, Skye era jovem demais para perceber.

Do lado de fora a neve branca cobria o jardim e as calçadas. A Lua cheia resplandecia no céu, vigiando a pequena Holmes Chapel, cujos moradores encontravam-se dentro de suas casas - a não ser pelas duas  crianças que caminhavam furtivamente em direção a entrada do bosque, localizada atrás das pequenas casas amadeiradas, como um grande e sombrio quintal.

Dentro da casa, Harry batia desesperadamente contra a porta de madeira velha, que range cada vez mais alto, despertando Robert, que levanta-se da cama onde Roselee ainda dormia, e caminha em direção à fonte do barulho.

- Qual o problema desses meninos? - ele resmunga, coçando os olhos.

  Ao girar a maçaneta, um Harry completamente assustado surge do outro lado da porta. O menino empurra Robert, correndo pelo corredor e abrindo a porta do quarto de Skye.

- O que houve? - Roselee surge, encostando-se no batente da porta de sua quarto.

- James levou ela! - Harry desce as escadas rapidamente, procurando na sala e em seguida na cozinha.

- Do que você está falando? Levou quem? - Robert o segue.

- Skye! - Harry agarra os ombros do homem alto, olhando-o em seus olhos - Ele levou Skye, ele vai matá-la!

Robert pode compreender o desespero no olhar do filho, assentindo freneticamente e correndo em direção ao cabide, pegando seu casaco mais quente.

- Roselee, chame para a polícia, eu vou procurar eles!

- O que está acontecendo? Para onde ele levou a minha bebê? - As lágrimas já cobriam as bochechas da mulher que descia as escadas, assustada.

- Ele vai levar ela para o bosque! - Harry responde, pegando o telefone em cima da mesa de canto e colocando-o mas mãos trêmulas de Roselee. - Chame a polícia agora e diga para procurar lá, tudo bem?

O som da porta de entrada fechando alerta que Robert já saiu para buscá-los, sozinho.
Harry corre logo atrás, lembrando-se apenas de calçar os sapatos.
  O menino vai em direção ao pai.

- Harry, espere em casa, você vai acabar ficando doente, eu vou trazer eles! - Robert apressa o passo, ao perceber que Harry usava nada além dos sapatos e do pijama.

- Eu não posso ficar parado esperando, ele é meu irmão! - o menino estava correndo com suas pernas curtas, para alcançar o mais velho.

- Harr, por favor! - ele para de andar, assim que chegam à entrada do bosque.

- Eu não vou voltar! - as lágrimas beiravam seus olhos.

Robert suspira, abaixando a cabeça, em seguida o homem tira o casaco e coloca sobre as costas do filho, acariciando seus cabelos.

- Tudo bem, então me ajude a trazê-los em segurança.