70 - Our History

8.5K 1K 372
                                    

  James estava quieto, com as mãos escondidas nos bolsos do jeans azulado, ainda olhando para o lado de fora.

  Ele toma o ar, deixando que preencha seus pulmões, antes suspirar e olhar para seus próprios sapatos. Pensativo.

Skye estava em silêncio, ouvindo tudo atentamente.

Ele volta a olhar para o céu, ainda era madrugada.  Não havia estrelas.

Seus braços se cruzam sobre seu peito, antes que ele continue falando.

__________________________________________________

 
  Anna não sabia o que fazer.

Robert não voltava para casa há duas semanas, e a pouca comida e mantimentos para as crianças estava no fim.

Por mais que odiasse admitir, ela sabia que ele havia os abandonado.

  Era novembro de 1992, aniversário de 9 meses dos gêmeos. Estavam cada vez mais espertos e saudáveis.

Todas as noite, após colocá-los para dormir, Anna chorava ao lado do berço; ela sabia que os filhos mereciam um vida melhor.

Ao entardecer, Anna abriu a porta que dava para a calçada estreita e ajoelhou-se. A comida havia acabado,  não havia um marido para sustenta-lá, uma familia para os acolher, ou amigos para dar apoio. Ela não conseguia trabalhar, a cidade era preconceituosa e, por mais que ela procurasse, ninguém iria contratar uma jovem mãe solteira apenas com o ensino médio concluído.

Ela chorava baixinho, quando sentiu uma mão tocar levemente seu ombro.

- Você não é a garota da escola Middletown? Soube que foi expulsa de casa. - As notícias se espalhavam rápido, e os comentários eram cruéis.

  Anna reconhecia aquele rosto. Aquela garota ruiva e magra havia estudado com ela. Nas mesma turma, talvez? Ela não lembrava, de fato.

Mas, definitivamente, a garota a conhecia.

- Meu nome é Audrey. - Ela estende a mão.

Anna, ainda ajoelhada, pondera sobre o que poderia ser aquela situação. A menina, Audrey, nunca havia falado com ela na época da escola. Suas roupas escuras e curtas, apesar do frio, faziam uma interrogação surgir em sua mente.

Anna segurou sua mão, e naquele momento, estava prestes a iniciar uma amizade que duraria até o dia de suas mortes, poucos anos depois.

(...)

 
  Anna não estava acostumada a receber tanta atenção, apesar de estar há meses naquele trabalho.

  As roupas apertadas e reveladoras a incomodava tanto quanto as mãos dos homens desconhecidos que tocavam sem permissão.

  Audrey havia conseguido para ela uma vaga como garçonete no clube noturno onde trabalhava como dançarina. O salário era baixo, e era necessário passar a madrugada fora, porém, ela se sentia recompensada ao perceber que poderia comprar mantimentos para seus filhos, e pagar uma vizinha para cuidar deles durante suas horas trabalhando.

  Mas Anna não gostava daquele lugar. Era escuro, exceto pelas luzes neon trazendo uma atmosfera sensual para o lugar. No palco, as dançarinas usavam bikinis e faziam movimentos provocantes, enquanto os homens espalhados ao redor do local as observavam entre um gole e outro de bebida.

- Ei, bonitinha! - Um homem, por volta dos 40 anos segura o braço de Anna, enquanto ela servia drinks em sua mesa.

Ela era cliente VIP.

- Hoje eu decidi testar uma coisa mais nova, que tal? - Ele sorrir para os outros homens sentados ao seu redor.

  O cheiro de cigarro era suficiente.

- Eu quero você para hoje, o que acha? Eu posso garantir que não vai encontrar ninguém que pague melhor do que eu!

  Em um impulso, o punho de Anna vai contra o rosto do homem.

  Ela sabia que algumas meninas passavam a noite com os clientes, mas não ela. Ela não aceitava ser tratada como um objeto, principalmente por um homem com idade para ser seu pai.

(...)

  A chuva caia incessantemente, encharcando o roupa da jovem, que usava uma pequena bolsa vermelha sobre a cabeça, na tentativa falha de proteger-se contra a água.

- Droga! - Ela sussurra, encaixando a chave na fechadura.

A casa estava silenciosa. A vizinha que era paga para cuidar dos meninos já havia ido embora. Ela sempre ia embora quando eles adormeciam, por mais que isso preocupasse Anna. Eram só crianças, não deveria passar um minuto sozinhos. Mas não havia muito para se fazer.

Ela entra devagar, deixando os sapatos ao lado da porta, enquanto um rastro de água a seguia enquanto cruzava a sala, em direção ao único quarto ocupado.

Sobre uma cama de casal, os meninos dormiam tranquilamente.

  Anna havia trabalhado durante o dia todo. O clube estava há duas semanas sem abrir durante a noite, devido a denúncias. Mas eles não parariam de funcionar, então passaram a trabalhar de dia durante os fins de semana.

  Saindo do banheiro, com uma toalha ao redor do corpo, ela senta-se na cabeceira da cama, observando os filhos. Apenas quando seus olhos encontram o relógio de mesa, ela nota algo que havia passado despercebido durante todo o dia

23:52 - 1 de fevereiro de 1996

Era aniversário dos garotos. Estavam completando 4 anos e a jovem mãe, que trabalhava duro todos os dias,  havia esquecido.

- Mamãe não pôde comprar presente. - Ela sussura, acariciando os cabelos encaracolados de ambos. - Mas eu amo vocês.

  Depositando um beijo delicado sobre suas pequenas testas, uma lágrima, presa há muito tempo, escapa, caindo sobre o rosto de uma das crianças.

  Ao sentir o líquido quente, o menino abre os olhos devagar, levando a mão até o rosto da mãe, limpando aa lágrimas que vieram a seguir.

- Não chora - Ele balbucia, sua voz estava carregada de sono.

- Tudo bem, meu amor. - Anna sorrir entre as lágrimas - Está tarde, volte a dormir. Eu te amo, James.

- Te amo, mamãe.

Não Abra A Porta Para Estranhos [H.S]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora