73 - She's Gone.

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16 ANOS ATRÁS

  Harry e James estavam sentados em frente a TV; já passa das 2:00 A.M.
 
A mãe dos meninos havia saído para trabalhar no clube, como fazia todos os dias, a vizinha paga para cuidar deles não pôde ir trabalhar, logo os meninos ficaram sozinhos, mas tudo bem, eles já tinham 8 anos, não eram mais crianças - ao menos era isso que James dizia antes de depositar um beijo na bochecha da mãe, sempre que ela saia de casa.

Mas já era tarde, ela deveria ter chegado há uma hora atrás.

  Com os pequenos olhos verdes grudados nas figuras que apareciam na pequena tela a sua frente, Harry não percebia o irmão inquieto, deitado no pequeno e velho sofá, atrás dele.

- Harry? - O garoto de cabelos ondulados e fartos chama o irmão, que não escuta. - Harry?!

  O pequeno pé de James vai contra as costas do irmão, o empurrando levemente.

- O que é? - O outro o encara.

- Por que a mamãe não chegou? - Ele estava apreensivo, seus dedos agarravam a barra do casaquinho de lã que vestia.

- Eu não sei, acho que ela já deve estar vindo. - Harry tentava esconder a preocupação. Tranquilizar seu irmão era mais importante que seus próprios medos.

Alguns minutos em silêncio. Os olhos azuis inquietos estavam marejados.
  Harry permacia sentado no tapete,  intercalando a atenção entre a TV e a janela coberta por gotas de água deixadas ali pela chuva intensa que caia.

- Harry?

- O que é agora, James?

- Meu coração está doendo. Eu estou com saudades da mamãe.

  Lágrimas discretas caem, eles podiam sentir que havia algo errado.

Nesta mesma noite, Anna voltava do trabalho sozinha. As gotas grossas de chuva caiam sobre sua cabeça desprotegida, enquanto ela se apressava para chegar em casa, onde sabia que seus filhos estariam esperando. Eles eram o motivo pra ela não desistir.
 
Mesmo quando aquele homem desconhecido se esgueirou para fora da escuridão, agarrando seus cabelos castanhos e puxando-a para o beco.

Mesmo quando suas mãos pesadas rasgaram suas roupas e apertaram seu pescoço.

Mesmo quando ele a pressionou contra a parede fria e húmida, ela ainda lutou.
 
  Anna se debatia tentando escapar do estranho que a segurava e a tocava.
   Lembrando dos filhos que não tinham mais ninguém com quem contar, ela tentou fugir, porém seu abusador era mais rápido e conseguiu alcança-lá, cravando uma faca repetitivamente em suas costas.

  Quando Anna foi deixada no chão, com a chuva molhando seu corpo despido e levando o sangue que corria para fora de suas feridas, ela não pensava em si mesma, mas sim em seus pequenos filhos, que haviam sido deixados sozinhos no mundo.

(...)

"Na manhã de hoje, em Londres, o corpo de uma mulher foi encontrado por um jovem que passava perto do local. Anna Styles, 25 anos, carregava apenas uma bolsa com documentos, e a foto de duas crianças. No corpo haviam sinais de luta e abuso sexual, segundo a perícia, a causa da morte foi hemorragia devido a ferimentos causados pela faca que o culpado usou. O objeto foi deixado no local..."

  Era a notícia que estava em todos os noticiários da cidade.

  Na tarde do dia seguinte, dois policiais bateram na porta amadeirada que logo foi aberta pela criança que os encarava, curioso.
  Os meninos foram levados para a delegacia, onde responderam mais perguntas do que achavam possível.
  James chorava desesperadamente, apesar de não entender a situação - ninguém tinha coragem de dizer que sua dedicada e amável mãe estava morta. Harry consolava o irmão, abraçando-o, enquanto ouvia atentamente as perguntas do delegado sobre seus parentes próximos.
  Alguns anos atrás, ele havia visto sua mãe chorar baixinho ao encontrar a foto de um homem jovem guardada dentro de um livro. Ali, ele descobriria que aquele homem se chamava Robert Daltton, e era seu pai.

Não demorou para que aquele homem, que para eles era um completo estranho, chegar.
  Ele não era diferente da foto, apenas parecia mais calvo e cansado, suas roupas eram folgadas, porém novas. Em momento algum Robert cumprimentou os meninos, ele apenas se limitou a ouvir os policiais e assinar vários documentos enquanto assentia várias vezes seguidas e deslizava as mãos pelos cabelos.

Os gêmeos estavam sentados em um dos bancos que ficavam próximos a parede, lado a lado. Uma pequena toalha cinza cobria seus pequenos e trêmulos corpos, enquanto James matinha a cabeça escondida no pescoço do irmão que ainda o abraçava.

  Naquele momento, eles não tinham ideia de tudo que estava acontecendo ao redor ou de como o rumo de suas respectivas vidas estava prestes a ser alterado.

(...)

  A casa era pequena e parecia deserta no momento em que Robert abriu a porta.

   Os meninos haviam sido avisados que precisariam passar certo tempo na casa do pai, em Holmes Chapel. Roberto os colocou no carro e os guiou em silêncio, durante todo o tempo.
   Pareciam estranhos naquele momento, não pai e filhos.
 
  Quando pararam em frente a uma casa de madeira e os garotos receberam a ordem de descer do carro, tudo parecia estranho. A rua era calma e uma floresta se erguia atrás de cada casa, como um bosque. 
De mãos dadas, os meninos caminharam relutantes até o primeiro degrau da pequena escada que levava até a varanda, onde Robert já estava ao pé da porta, girando a maçaneta.

- Parece que essa vai ser a casa de vocês, por quanto.  - Ele havia balbuciado, entrando no local.

  James e Harry pararam no batendo, encarando o interior do local. Eles não se sentiam em casa, e nem queriam.

- Harry, eu quero ir para casa, a mamãe já voltou? - James sussurrava, agarrando a manga do casaco que o irmão usava.

Antes que sua pergunta fosse respondia, uma silhueta surge, adentrando a sala vagamente. Uma mulher loura sorridente caminhava devagar, balançando a criança que trazia em seus braços. A menina vestia roupas rosadas e tinha um laço preso aos cabelos.

Os olhos de Harry pousaram sobre ela e não a deixaram. Ele estava fascinado por aquela pequena e delicada boneca - ao menos era como ele a enxergava.

- Entrem, vocês precisam se conhecer. - Robert faz um sinal para os gêmeos, que continuem imóveis.

  Ele vai em direção à mulher, pegando a menina nos braços e sorrindo para a pequena, que devolve o gesto e o abraça.
  Caminhando vagamente em direção às duas pequenas silhuetas na entrada da casa, o homem se agacha, deixando a bebê frente a frente com o rosto dos meninos, que a encaravam com curiosidade.

- Aquela é Roselee - ele aponta para a mulher, que acena gentilmente - e esta é a filha dela, Skye.

Não Abra A Porta Para Estranhos [H.S]Where stories live. Discover now