Capítulo 1 • Sua Alteza, Eveline da Alpia-Ístria

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SOUBE IMEDIATAMENTE QUE ALGO ESTAVA errado quando meu pai enviou um dos oficiais da Guarda Vermelha para me escoltar até sua sala, menos de cinco minutos após o plantão especial na tevê iniciar

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SOUBE IMEDIATAMENTE QUE ALGO ESTAVA errado quando meu pai enviou um dos oficiais da Guarda Vermelha para me escoltar até sua sala, menos de cinco minutos após o plantão especial na tevê iniciar. Um maníaco havia explodido uma bomba em Berlim, leste do reino da Germânia, enquanto as pessoas faziam vigília na praça de São Alexandre, a principal e mais famosa da cidade. Muitos tinham morrido. Inclusive crianças.

Brigitte e eu nem tivemos tempo para assimilar o que estava acontecendo quando o oficial bateu à porta do meu quarto. Era tarde, mas, sem pestanejar, ela me fez trocar de roupa e se pôs a mexer no meu cabelo, muito mais agitada do que de costume, enquanto eu continuava atônita, encarando as cenas de terror que não paravam de ser repetidas de novo e de novo no plantão noticiário.

As pessoas desesperadas correndo em todas as direções, o barulho das sirenes, a polícia tentando conter os curiosos; todas aquelas imagens pareciam tão surreais que qualquer um que ligasse a tevê naquele momento poderia achar que se tratava de um filme de baixo orçamento sobre a terceira grande guerra, mas não. Era tudo real, e estava acontecendo naquele exato momento.

— Eve, se você não ficar parada nunca vou conseguir terminar! – Brig reclamou, as duas mãos determinadas segurando meus cabelos no alto da minha cabeça para prendê-los em um coque.

— Desculpa. – respondi baixinho, me obrigando a ficar imóvel, mordendo o lábio inferior para testar a dor. Eu estava chocada e nervosa, e não era só pelo horror que via. Meu pai nunca tinha me chamado em seu gabinete numa hora daquelas.

Na verdade, meu pai nunca havia me feito uma convocação oficial. Sempre que queria falar comigo, ele batia na porta do meu quarto e perguntava se podia entrar. Formalidade era algo que nunca havia existido entre nós e aquela era a razão para meu coração estar tão inquieto. Eu não queria admitir, mas meu subconsciente parecia já saber o que me esperava.

Quando Brigitte finalmente se deu por satisfeita com minha aparência, assumi minha postura mais séria, levantei da pequena banqueta almofadada que ficava de frente para a minha penteadeira e saí do meu refúgio, ciente de que caminhava para o desconhecido. Do lado de fora do quarto, o oficial que trouxera a convocação esperava para me escoltar até a ala administrativa do palácio de Vienna e, enquanto eu andava naquela direção, meus saltos ecoavam pelos corredores vazios quase tão alto quanto a indignação que se avolumava dentro de mim. Quem teria coragem de cometer tamanha atrocidade?

Em toda Germânia, grupos de pessoas haviam se reunido em parques e praças de suas cidades num ato simultâneo de amor e solidariedade. Aos cinco meses e meio de gravidez e com 44 anos de idade, a rainha Aletta – a plebéia que havia ascendido ao trono e conquistado o país inteiro com o seu carisma e empatia – corria sérios riscos de vida ao levar adiante sua única gestação a ultrapassar a marca dos cinco meses. Tinha sido a notícia de que ela se afastaria da vida pública que estivera nas manchetes dos jornais na semana anterior e por isso o país inteiro se preocupava. Foram seis os abortos espontâneos que ela sofrera ao longo de seu casamento com o rei. Seis.

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