Capítulo 3 • Sua Alteza, Eveline da Alpia-Ístria

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EU NÃO TINHA ESQUECIDO O que tio Pieter havia me pedido antes do café da manhã

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EU NÃO TINHA ESQUECIDO O que tio Pieter havia me pedido antes do café da manhã. Eventualmente, eu faria o que tivesse que fazer, mas não me aproximaria do senhor Adams no meio de uma homenagem póstuma ao homem que ele viu morrer e enterrou com as próprias mãos, e disse aquilo a meu tio antes de sairmos do palácio.

Tio Pieter compreendeu meu ponto de vista e prometeu convidar o senhor Adams a ficar conosco por mais uns dias. Assim, eu teria tempo para convidá-lo para alguma coisa informal que pudesse nos aproximar sem ter que profanar a memória de ninguém.

No caminho até o parlamento, abri o dossiê sobre o senhor Adams que um agente da PSG havia me entregado. Nele havia vários relatórios e outros documentos, mas duas fotos, especialmente, chamaram minha atenção. Uma em que o senhor Adams aparecia cheio de vida, com o rosto corado de saúde e um olhar determinado, e uma outra, tirada dias após o terem resgatado.

Ele estava tão magro naquela segunda foto que era possível ver o contorno proeminente dos ossos por baixo da pele extremamente queimada e ressecada pelo sol. Os lábios estavam descascados e machucados, e os olhos, antes verdes como joias, pareciam nublados por uma névoa de tristeza. Porém, o que realmente mexeu comigo foi a expressão vazia e aterrorizada que ele tinha. Só quem viu a morte de perto por mais de uma vez poderia ter uma expressão daquelas.

Quando desci do carro, tinha o coração descompassado e estava decidida a não colocar o plano de tio Pieter em prática. Mesmo que nossas intenções fossem as melhores, se usássemos o que aconteceu com o senhor Adams daquele jeito frio e calculista, não seríamos melhores do que Van Basten.

Tinha que existir uma outra forma de fazer o povo gostar mais de mim. Eu poderia intensificar minha participação em projetos sociais, aumentar minhas visitas aos centros de cuidado com animais abandonados ou mesmo visitar hospitais. Tio Pieter poderia até pensar em outra pessoa popular para usarmos no plano original. Eu não me oporia a nada e faria tudo que me fosse sugerido de bom grado, desde que ele deixasse o senhor Adams em paz.

Durante a cerimônia, não tive coragem de olhar na direção do senhor Adams por medo do que encontraria. O que eu tinha visto naquela foto era difícil demais de se esquecer. E a verdade era que eu estava me sentindo péssima. O que eram os meus problemas diante do que ele tinha passado? Nada! Não eram nada!

Assim que a cerimônia acabou, tentei dizer a tio Pieter que precisávamos mudar nossos planos, mas ele andou diretamente na direção do senhor Adams e logo em seguida me chamou para nos apresentar.

Caminhei até lá sabendo que seria apenas uma questão de tempo até ter que olhar para aquele homem, então, em vez de prolongar a situação, tomei coragem e o encarei. Os olhos verdes ainda estavam longe de conter a mesma vivacidade e força de antes, mas pelo menos já não pareciam tão vazios. O corpo dele estava mais forte, a saúde aos poucos voltando à sua totalidade, e a pele bem cuidada, mesmo que ainda marcada. Fisicamente, ele estava quase curado, mas eu sabia que a grande ferida ainda estava aberta dentro do coração e que provavelmente nunca iria se curar completamente.

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