Capítulo 2 • Logan Adams

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A ÚLTIMA COISA QUE EU precisava era participar de mais uma cerimônia galante sobre o meu pior pesadelo

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A ÚLTIMA COISA QUE EU precisava era participar de mais uma cerimônia galante sobre o meu pior pesadelo. Mas como dizer não a uma convocação do rei em pessoa?

Meu único conforto era saber que o centro das atenções naquele evento seria o capitão Josias e não eu. Ele sim merecia todas as homenagens que a humanidade pudesse fazer. O capitão foi muito mais que apenas meu superior ou mentor, ele era meu amigo, e se não fosse por ele, eu teria morrido naquela maldita ilha.

Foi durante uma tempestade no Oceano Pacífico que nós naufragamos. O nosso navio, Queen Beatrix, um cargueiro de bandeira germânica, começou a verter água após uma explosão na casa de máquinas ter feito um rombo no casco. O capitão deu a ordem de evacuar a tripulação mas se recusou a deixar a ponte de comando e o leme sem supervisão até que todos estivessem nos botes. Mark e eu éramos primeiro e segundo imediatos respectivamente e cumprimos nossas ordens sem o questionar. Nós dois chegamos a voltar até a ponte de comando para buscar o capitão, mas quando estávamos atravessando o convés para chegar aos botes, uma onda gigante nos atingiu e nós três caímos no mar.

Mark teve sorte. Após ficar horas à deriva foi resgatado por um dos botes da nossa tripulação, mas o capitão e eu tivemos um destino mais sombrio. Quando caímos na água, eu o segurei pelo colete salva-vidas e não soltei mesmo quando já não tinha mais forças para nadar. O capitão tinha mais de 60 anos e eu sabia que ele morreria afogado se o soltasse. Nós ficamos horas à deriva e, quando as cãibras começaram a ficar insuportáveis, cheguei a pensar em me entregar e deixar que as correntes nos levassem em paz. Mas, o piado de uma gaivota renovou as minhas esperanças. Se havia gaivotas no céu, então tinha de haver terra por perto.

Reuni o que restava das minhas forças e nadei na direção do pássaro, rebocando comigo o capitão. Em pouco tempo outras gaivotas foram aparecendo e logo a silhueta de uma pequena ilha despontou no horizonte. Foi nela que passei os dois anos mais longos da minha vida.

Na ilha inabitada, o Capitão e eu nos tornamos muito mais próximos do já éramos. Ele manteve o foco e a perseverança, por ele e por mim. Nós construímos uma cabana precária, pescávamos próximo aos corais, bebíamos água dos cocos e tentávamos continuar vivos na esperança de sermos resgatados, mas o resgate nunca chegou e o Capitão adoeceu. Não pude fazer nada, a não ser ficar ao lado dele segurando sua mão enquanto o assistia morrer.

Naufragar, estar à deriva no meio de um oceano, ser obrigado a morar em uma ilha hostil, passar fome, sede e frio, nada disso tinha me assustado até aquele momento. Houve momentos em que temi pela minha vida e, principalmente, pelo meus pais e amigos que não tinham ideia de que eu ainda estava vivo. Porém, nada daquilo se comparava à perspectiva de ficar sozinho naquela ilha.

A coisa mais difícil que já tive que fazer na vida foi me obrigar a levantar após ter enterrado o capitão numa das praias daquela ilha. Eu sabia que, com ele, enterrava também uma parte de mim, só não tinha ideia de que seria parte da minha humanidade. O tempo que passei na ilha depois daquilo se tornou um borrão, uma mancha indistinta na minha memória da qual não quero me lembrar. E, mesmo que eu tenha sido resgatado e tenha voltado para casa, mesmo que eu tenha consciência que fiz o necessário para sobreviver, ainda me sinto sozinho.

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