Capítulo 46 • Natalie Kammer

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EU SABIA QUE ASSIM QUE atravessasse o centro de Bremen o caminho até Haven seria rápido e tranquilo

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EU SABIA QUE ASSIM QUE atravessasse o centro de Bremen o caminho até Haven seria rápido e tranquilo. Mesmo assim talvez fosse a hora de aceitar que dirigir, ainda que por menos que meia hora, era o suficiente para fazer meu ombro doer até quase me deixar louca. O que era uma merda.

Era a primeira vez que eu a buscava em algum lugar. Normalmente, essa tarefa cabia a John, mas meu irmão achava que me envolver no dia-a-dia da minha sobrinha e afilhada seria uma ótima oportunidade para voltar a ter uma vida normal. Como se fosse possível ter uma vida depois de ter visto tudo o que eu vi.

Uma coisa precisava admitir: passear com Liv não era ruim. Fazia tanto tempo que eu não andava por aquelas ruas que a cidade tinha se transformado em uma estranha para mim e Liv, sabendo disso, me apontava as coisas que achava mais relevantes como, por exemplo, a melhor sorveteria, o melhor parquinho para brincar de amarelinha e, claro, o estúdio onde fazia balé.

O sinal fechou e eu diminuí a velocidade, deixando que o carro continuasse lentamente até parar por completo antes da faixa de pedestres. Tirei a mão direita do volante e girei o ombro, tentando inutilmente fazer a dor incomoda desaparecer. Ao meu lado, Liv tentava alcançar a mochila no chão do carro e, quando o fez, puxou de lá um estojo.

— Ah, não! – reclamei – Você não vai desenhar aqui, vai?

— É que não deu tempo de terminar na casa da Layla. – respondeu de forma prática – E eu só preciso pintar as nuvens.

Da mochila, ela tirou um caderno de desenho e o apoiou por sobre as perninhas enquanto fechava o zíper e a devolvia ao chão.

— Esse é pra quem? – quis saber enquanto a observava folhear o caderno à procura da página certa.

— Para o meu pai, claro! – explicou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Liv adorava presentear com desenhos. John dizia que era a forma que havia encontrado de dizer eu te amo para as pessoas com que se importava, mas ela só tinha sete anos e era nova demais para compreender o significado das palavras, o peso que nos obrigavam a carregar. Se dependesse de mim, Liv permaneceria daquele jeito, feliz e inocente, por pelo menos mais uma década.

— Compreendo sua pressa. Você quer entregar assim que chegar, certo? – quis saber e ela, sorridente com sua recém adquirida janelinha, acenou com a cabeça – Sinto muito Liv, mas não posso deixar você pintar no carro em movimento.

— Mas... – ela gaguejou tristonha, fazendo um bico enorme que, John já havia me avisado, ela sabia usar muito bem quando queria conseguir alguma coisa.

Okay. Eu dava conta. Aquilo não era uma emergência. Desde que não começasse a chorar, estávamos de boas.

— Não pense que estou sendo injusta. – expliquei, decidindo que ser o mais verdadeira possível era o melhor método que podia adotar – Se sofrermos um acidente todos os lápis que estiverem fora do estojo virarão projéteis. E acredite em mim nisso: dói muito quando eles acertam a gente. E eu já deixei você sentar no banco da frente. – completei – Se o seu pai souber que você estava usando lápis de cor com o carro em movimento e com a minha permissão, eu tô frita! Tenha piedade da sua dinda, meu amor!

Flores Que Renascem do Fogo | Flores Reais #1 ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora