CAPÍTULO 5

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CALLYEN

Forcei minha mente a tentar me recordar de quais motivos me trouxeram até aqui. Quais eram os reais motivos por trás das marcas ao redor dos meus pulsos, e dos sinais, como tatuagens negras pelo meu corpo. Seja lá o que os Grãos Senhores haviam avistado por trás da barreira de Diamante Negro que se erguia em minha mente, seja lá quais foram as resoluções que eles tomaram através da comunicação silenciosa através do laço que mantinham... Eu não vi, eu ainda não sabia.

Forcei meu corpo para fora da cama. Aos poucos a dor fora diminuindo, principalmente depois do que a Grã Senhora me dera para beber. Eu precisava, eu tinha que lembrar de alguma coisa. O motivo principal pelo qual eu fugirá, o alerta que ainda se.mantinha sobre mim, ao qual minhas lembranças se recusavam a me mostrar.

Olho ao redor do quarto novamente, reparando em pequenas coisas que não havia percebido antes. A porta adjacente que levava a um banheiro. Simples, porém enorme. A banheira mesmo, parecia ter sido esculpida da própria montanha, numa inclinação para fora, onde acima podia se admirar o céu brilhante e abaixo a queda em um precipício nevado. Voltei ao quarto, grande e espaçoso, tapetes ornamentavam o lugar, ricos e finos... As cortinas, assim como os lençóis de seda da cama, eram negras, esvoaçantes pela brisa calma que entrava no lugar.

Eu não havia percebido antes, mas o cheiro estava em todo o lugar. O cheiro de terra e chuva e vento. Pinheiros e neve. O cheiro dele.

Sento-me no chão, de frente a umas das muitas janelas abertas do quarto, cruzando as pernas em posição de Lótus, as palmas voltadas para cima e o olhar no horizonte, sentindo-o ficar vítreo. Deixo fluir, o poder abaixo da minha pele, rastejando pelos meus ossos, carne e sangue... Deixo que as sombras fluam, de um lado... E do outro, deixo a luz... Tentando equilibrar os dois, um em cada palma, mesmo que meu controle sobre o último seja mais difícil. Que, geralmente, ela vem a ser consumida pelas sombras que me atormentam, formando uma esfera de cor lilás e densa e que doía ao tentar segurar antes que ela entrasse em combustão espontânea e engolisse a si mesma em minha mão.

Vago por entre as lembranças... Eu estou em casa, que não é minha casa, mas eu estou lá... Presa. Consigo sentir as correntes ao redor dos meus pulsos, prendendo os meus pés, em minhas asas, queimando e cortando a cada movimento. Não vejo muito, apenas sinto, a dor lacerante a cada vez que ele marca os sinais com brasa quente em minha pele, para controle. Não me recordo direito, é tudo um borrão e eu não vejo seu rosto. Mas sei que me descontroles, sei que ele fora longe demais na última vez, sei que as sombras se misturaram a luz e geraram o Caos... Sei que...

O cheiro é o primeiro que me invade. Fecho a mão esquerda, apagando a centelha de luz, quando sinto a presença escondida em Bolsões de seu próprio poder. Sei que ele está aqui, me observando, protegido pelas próprias sombras.

— Não é educado, sabe... Espionar. — eu digo, também fechando as sombras ao redor da minha outra mão. Não ouso olhar na direção onde ele aparece, as sombras se dissipando ao seu redor.

Respirei seu perfume, me virando devagar para olhá-lo, sem levantar do chão. Pela Mãe, se o seu Grão Senhor era um dos — se não o — machos mais lindos que eu já vira, eu não vira muitos então. Porque ele era lindo. A expressão séria e impassível, ele fixou os olhos cor de avelã e mel, como se contraste o universo dentro deles, com as sombras rodeando ali, me chamando, sobre mim. Ele me observou, parando os olhos por alguns segundos em minhas mãos e pulsos, mas se recusando a permanecer ali por muito tempo.

A roupa negra, como uma armadura perfeitamente entalhada em seu corpo esguio, mas forte. Manoplas negras cobriam parcialmente suas mãos, pedras azuis polidas descansavam em seu dorso, cicatrizes cobriam a maior parte de pele visível. As asas, perfeitamente fechadas atrás de si, se moveram um pouco enquanto ele ajeitava a postura, mantive meu olhar ali por alguns segundos, as observando. O modo como ele, elegantemente, as sustenta fora do chão, ou a graciosidade que elas acompanhavam o mínimo dos movimentos. Seu rosto permaneceu inexpressivo, deixando que eu o observasse, pois eu sabia que durante esse tempo, ele fazia o mesmo.

Senti o puxão antes mesmo que qualquer outra coisa, os sentimentos se chocarem contra mim, dolorosamente, mesmo com os escudos erguidos ao redor da minha mente. E sem mais nem menos, eu estava em sua mente. Dentro de seu escudo negro de Onix duro e impenetrável, numa cela escura, sem janelas, onde apenas ele e a escuridão existiam. A dor da solidão, de ser e estar sozinho; as asas de um menino se atrofiando a cada dia sem poder levantar vôo, fazer o que foram criadas para fazerem. Senti o óleo e o fogo consumindo suas mãos e a dor de um menino doce e solitário ao ser lançado sem experiência nenhuma num campo de batalhas para treinar o que não sabia; senti os olhares de repúdio para ele dos outros machos, o bastardo... Senti seu alívio e conforto pela aceitação de Rhysand e Cassian, seus amigos, irmãos. Senti sua lealdade como sendo a minha mesma; as sombras como seu lar e suas aliadas. O medo da guerra, as batalhas sangrentas e o alívio de poder voltar ao seu lar, A cidade da Luz Estelar, aos seus amigos, família e a dor constante do seu amor não correspondido. A sensação, infame, de inferioridade, de não ser digno de amá-la; de tê-la.

Como se um elástico se partisse eu fui expulsa de sua mente com um puxão de ar. Soltei um xingamento baixo enquanto puxava a respiração devagar. Me concentrando novamente a realidade ao meu redor. Se ele percebeu o que eu fiz, não deixou transparecer. De onde estava ele se envoltou em sombras novamente, eu podia ouvir seus sussurros, dizendo a ele sobre mim, sobre confiar em mim... E mesmo que seu rosto não transpareça nada, seus olhos permitiam ver o seu estado de confusão antes que ele desaparecesse no canto escuro que abrigara.

Quanto a mim, eu ainda tentava entender aquela extensão do meu poder, que eu não tive controle... Que eu se quer sabia que tinha.

N/A: não se acostumem com caps todo dia

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N/A: não se acostumem com caps todo dia... Tô escrevendo conforme me vem a cabeça... Vai ter capítulos mais longos, outros mais curtos... Mas tô fazendo com muito carinho... Espero que vocês gostem, compartilha com as amigas, deixa aquele voto, comenta se tá gostando...

Beijo e até mais meus amores...

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now