CAPÍTULO 25

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CALLYEN

Eu não sabia o que esperar depois que eu contei sobre minha vida nas mãos de Ykner, em Hybern. Eu não havia falado os detalhes sobre os exércitos que ele estava montando na iniciativa de recuperação. Também não havia mencionado os planos ou os números, mas sabia que, em algum momento isso seria questionado e eu não me oporia a contar cada detalhe que eu sabia sobre isso.

Mesmo que eles não me mantivessem entre si, eu procuraria uma forma para destruí-lo, mesmo que isso me custasse a vida. No momento, eu não tinha nada a perder mesmo. Com esse pensamento eu me levanto com um pouco de esforço. Não sinto os efeitos do veneno em meu sistema, de alguma forma a Grã Senhora havia conseguido por meio de seu sangue limpa-lo de mim. Ninguém me disse isso, mas eu soube por meio da Manipulação que havia sido ela. A sensação de ter seu corpo jogado numa fogueira enquanto você sente queimar já não existia mais, mas o corte na minha barriga ainda doía, e por causa do veneno minha cura não estava tão rápida como deveria. Iria demorar no mínimo dois dias para que a ferida se fechasse totalmente.

Suspiro. Observo o quarto mais uma vez dessa vez mais atentamente. Havia detalhes dele aqui, desde o cheiro marcante de terra e vento, o cheiro de madeira e couro. Os livros sobre estratégias, história sobre Prythian e sobre as terras humanas. Mapas e mais mapas espalhados pela estante. Ao lado, uma estante com algumas armas. De pé, observo a cama onde eu estava posta alguns momentos antes, e era enorme. De madeira negra e nobre, grande o bastante para acomodar asas, com lençóis igualmente negros. Mais a frente entre uma parede e uma das enormes janelas, estava um vão que eu supus ser o banheiro. Caminhei para lá, sentindo que eu estava invadindo.

Olhei-me no espelho que estava preso a uma das paredes e retirei o curativo que ainda estava em minha bochecha direita e verifico que o corte ainda estava fresco. Maldito veneno.

Inspiro. Com cuidado puxo a bainha do vestido que eu estava usando, passando por meus braços e cabeça. Eu não estava de sutiã e uma faixa de tecido estava enrolada firmemente ao redor do meu estômago, e estava manchada com sangue. Puxo o ar novamente enquanto eu tiro cuidadosamente as faixas, respondo o ferimento. Era profundo. Valissa, que eu torcia para que essa hora estivesse queimando no Inferno de além mundo com seu próprio veneno, teve um bom golpe, e com a ajuda do veneno, teve um bom estrago.

Retiro o restante da roupa e entro na banheira, pouco me importando de estar invadindo o espaço dele, eu precisava de um banho, urgentemente. A ferida arde em contato com a água morna, mas quase que imediatamente eu sinto meu corpo relaxar com o contato. Não sei quanto tempo eu permaneço naquela banheira, mas quando eu saio encontro uma fêmea Illyriana de pele negra e cabelos cacheados, as asas membranosas bem fechadas as costas, ela mantinha uma bandeja com curativos a sua mão. Imaginei ser uma curandeira para ajudar com meus ferimentos, e eu estava correta.

— Como está se sentindo? — a fêmea questiona tentando me manter distraída enquanto verifica a ferida em minha barriga.

— Dolorida. — digo num sopro e puxo o ar quando ela limpa a ferida com um pouco de mais de força.

— Desculpe. — ela diz com uma careta. — Foi uma briga feia, hein?

— Ah a outra pessoa está morta agora, garanto. — falei e a fêmea sorriu, balançando a cabeça como se o que disse fosse uma piada. Ela não podia imaginar que eu falava a verdade.

Se o golpe que eu dera no peito de Valissa não a tivesse matado, com certeza o veneno fora injetado diretamente em seu coração, se é que ela tinha um, a teria matado em menos tempo que o normal. Ela conseguiu atravessar de volta para Ykner, mas com certeza o veneno teve seu trabalho, isso eu tinha certeza.

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