CAPÍTULO 10

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CALLYEN

Eu sinto as correntes ao redor dos meus punhos, apertando, não, não apertando, queimando a pele da mesma forma que ele marca os sinais contra minha pele. Eu grito a medida que o suor desce por minha testa e costas. Eu grito quando ele move a lâmina em brasa marcando as espirais, e eu imploro para que ele pare, eu clamo por salvação ou para que ele simplesmente se apiedeça de mim e pare com as torturas. Mas ele diz que eu preciso disso, só assim ele poderia controlar o que eu seria, para o bem de todos eu precisava ser controlada e ele, bem, eu era dele agora e ele usaria isso.

Eu o vejo, ele era bonito apesar de ser um monstro. A pele bronzeada e os cabelos negros em cascatas até os ombros. Eu o achará bonito quando meu pai me vendeu para ele, mesmo que eu o deteste por ele ter comprado, literalmente. Eu o odeio por ele só ter feito isso para poder controlar seja lá o que eu fosse. Eu o odeio por ele estar fazendo isso para sua maldita vingança, para recuperar aquilo que lhe fora tomado... E odeio meu pai mais que ele próprio, por permitir que ele fizesse isso comigo.

Ele insere a lâmina fervente mais fundo na pele do meu braço e eu sinto o poder correndo por meus ossos, subindo a carne, rastejando na pele, e eu grito quando ela se liberta sem meu controle, numa nuvem lenta e destrutiva.

Mãos se prendem em meus ombros, apertando e sacudindo ao mesmo tempo em que eu rolo por meu próprio corpo, puxando a lâmina que instintivamente eu sabia onde estava, não, não instintivamente, as sombras me sussurravam... Eu sabia que a havia pego, e sabia que em meio a escuridão — estranhamente quente — eu a tinha posto contra a jugular se alguém... Milésimos de segundos antes desse alguém retomar a lâmina de mim e lança-la em algum lugar do quarto. As mãos que estavam em meus ombros foram para meu rosto, os polegares apertando minhas bochechas... Aos poucos meu foco voltou e eu recuperei a ciência de onde estava... A Corte Noturna... Lembrei quem eu era, mas não o que queriam de mim, nem de onde e quem eu fugi. Pisquei algumas vezes para o escuro que me rodeava, a sensação quente agora era de brasa contra pele, mas eu foquei nos olhos dele, cor de avelã e mel derretidos e fundidos juntos, brilhantes como se  contivesse o Universo dentro... Próximos demais.

Senti um puxão na mente, e algo raspando em minhas costelas, como o passar uma pena, a sensação de formigamento e reconhecimento, um sopro em minha coluna. Fique calma, o sopro dizia, com o som firme da voz dele. O estrondo soou em minha cabeça, por dentro do meu escudo, e também que ele não moveu os lábios para que as palavras saíssem. Respirei fundo, me deixando sentir seu toque, quente e acolhedor... O cheiro cítrico de madeira, e vento e chuva, misturado com... Abro os olhos e olho para o local ao redor, completamente destruído. Cinzas e brasa ainda quente ao redor da cama, no chão de pedra da Lua, nas paredes e cortinas. A única coisa que não havia sido completamente destruída era a cama, que por um milagre estava apenas com pequenos buracos. Era ruim, mas não como o resto do quarto.... E eu não pude deixar de imaginar o estado das minhas roupas uma vez que tudo estava em farrapos de cinzas no quarto.

Azriel se mantinha próximo ainda, a ponto de eu sentir sua respiração lenta, inabalável e ininterrupta soprando com meu rosto, ambas as mãos ainda acalentavam meu rosto, os polegares formando pequenos círculos, me acalmando.

Fique, calma.

O sussurro do vento, das sombras, de sua voz soou novamente.

Não me deixe.

Pensei de volta e, pensei ter visto sua expressão mudar, como se houvesse tomado um choque, ou compreendesse algo. Mas que rapidamente, ele fez voltar ao seu habitual semblante sério, fugindo do meu alcance ao mesmo tempo que os outros surgiram no quarto.

A expressão de choque estava visível nos semblantes de todos, menos de Rhysand que me observava quase com uma compreensão amigável e dele, que me não me observava, e sim analisava cada mínima reação.

— Bem... Temos que tomar cuidado então, seus pesadelos podem me custar uma mansão nova. — O Grão Senhor zomba, fazendo os outro bufarem com sua afirmação. Amren, literalmente rola os olhos para isso.

Olho ao redor novamente, e também para mim. Todo o quarto era um montoado de cinzas e metal retorcido, pequenas marcas ainda estavam queimando, já o meu vestido não passava de retalhos.

— Pesadelos? — digo num sussurro baixo. Olho o estrago deixado novamente. — Desculpe.

— Nuala e Cerridwen a ajudarão com outro cômodo. Creio que o restante de nós já possamos voltar ao que estávamos fazendo. — Amren e Morringan soltaram um grunhido enojado, e então percebi que Feyre não estava no aposento. Não pensar o que eles estavam fazendo antes de serem interrompidos por mim. Cassian, que eu nem percebi ali minutos antes, apenas soltou uma gargalhada estrondosa com os braços cruzados sobre o peito, olhando a cena.

Eu senti a presença dos meio espectros antes que elas surgissem em seus próprios Bolsões de sombra de um dos cantos do quarto destruído. Os olhos negros de ambas se abriram um pouco mais ao perceberem a destruição do lugar e ao focar em mim, ainda sobre a cama, de pé, estagnada com o acontecimento.

As espectros me ajudam a sair da cama, todos os outros menos Azriel e Cassian já tinham saído do quarto, o Encantador de Sombras caminha lento até um dos cantos do quarto, onde algo brilha prateado na poeira negra. A Reveladora da Verdade. A adaga que eu coloquei contra seu pescoço minutos antes. Não sei se ele percebe que o olho por tempo demais, mas sei que Cassian percebe. Tanto pelas sensações de estranheza que ele emana de si própria, quanto pelo olhar categórico e analista que ele lança do Encantador para mim enquanto eu decido acompanhar as espectros para fora do quarto.

Nuala e Cerridwen me acomodaram em outro quarto, na ala Oeste pelo caminho que tomamos. As espectros gêmeas, me ajudaram com as roupas, retirando um vestido branco de frente única e costas nuas, que descia em cascata de tecido fluído abaixo da cintura, e o colocaram na cama. Depois, me informaram que a banheira estava pronta e sumiram em própria escuridão. O banheiro era o mesmo formato e tamanho do outro, acho que todos os quartos desse lugar compunham o mesmo desing... A banheira, um vão com água corrente posto para fora, como uma piscina esculpida da própria pedra da montanha.

Retirei com cuidado a peça de roupa destruída, observando as marcas e símbolos pelo corpo. Prendo a migalha de concentração nas minhas costas, fazendo as minhas asas surgirem. Nos três dias que estive aqui, elas melhoraram muito, bem como as marcas das feridas, agora esbranquiçadas, em minha pele. A única coisa que não havia sido totalmente recuperada, era minha mente. Mas eu tinha um pequeno plano para obter alguma ajuda quanto a isso.

Entro na água quente, deixando os músculos relaxarem a força da água. Havia outra coisa que eu precisava saber... Em relação a um certo Encantador de Sombras...

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Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now