ADENDO DO LIVRO

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KALLIANE
❄️

O vento frio soprou através das portas da varanda enquanto Viviane observava o lado de fora, para o estrago sendo remendando novamente nas terras brancas do seu reino, da sua Corte. Novamente. Em tão pouco tempo, sua corte havia sido ferida pelos mesmos algozes. Seu senhor parecia desolado com a sensação de incapacidade em proteger os seus, mas ela sabia, todos sabiam, que Kallias havia dado tanto para protegê-los. Parte das muradas já haviam se reerguido com magia, e graças a Mãe — e aos aliados da corte Noturna que felizmente, não ouviram a recusa em ajudar — não houveram baixas maiores entre seus cortesãos. Ainda assim, o medo era algo que estava se alastrando entre todos.

A fêmea suspirou exausta, ela havia passado o dia anterior cuidando dos civis, dos feéricos menores, cuidando para que os feridos fossem devidamente cuidados e abrigados. Era seu trabalho, fora assim anos antes com Amarantha, quando todos os senhores foram presos abaixo de Sob a Montanha, quando o único macho por quem nutria amor se declarou para ela antes que fosse preso sob o poder da alto intitulada Grã Rainha. E então, novamente, ela se vira tendo que conviver com a sua ausência, cuidando de sua Corte durante os cinquenta anos seguintes. Sozinha, embora o laço que concretizou após a confirmação de Kallias estivesse ali, ouvi-lo através da ponte naquela época era difícil.

A fêmea sorriu quando se afastou da varanda voltando para dentro do quarto perfeitamente branco, abrigando-se do vento gelado que tocava a pouca pele exposta, enquanto as lembranças de quase cinquenta e três anos atrás voltavam a aquecer sua pele.

**

"A primeira coisa que Kallias sentiu quando voltou a sua corte foi o puxão em algum lugar até então desconhecido em sua mente. A sensação de acolhimento veio logo em seguida, de finalmente estar em casa. Não somente por ter voltado a sua corte, mas também por causa dela.

Viviane. A fêmea de pele e cabelos brancos como a neve de sua Corte, os lábios entretanto vermelhos como sangue, e os olhos quase tão azuis quanto os seus. Tudo o que Kallias sempre quisera, desejou secretamente anos antes de ser aprisionado em Sob a Montanha e continuou a desejar todos os anos seguintes. Sua parceira. A mulher destinada a ser sua, porém, ele nunca havia dito diretamente a ela, até aquele dia. Fora injusto, ele sabia. Ele sabia que não podia ter jogado todas as palavras de amor, prometido voltar e ama-la todos os dias depois daquele, quando ele se quer sabia se voltaria. Ainda assim, ele agradeceu a Mãe e aos outros deuses da criação quando ela aceitou o laço, quando ele expandiu o restante dos seus poderes para avisá-la a proteger sua Corte como sua. E nos anos conseguintes, ela o fez.

O palácio de gelo tinha uma parte ainda sendo reconstruída devido a batalha, muitos dos cortesões não estavam lá, embora ele soubesse que havia uma presença, e para ele, a única que importava realmente e foi para lá que ele seguiu, o peito apertando a cada passo para mais perto. A fêmea estava em um dos quartos, não o dele como ele achou — como ele desejou — que estivesse, próxima a varanda onde a luz do luar parecia refletir prateada em sua pele, ou na camisola de seda azulada colada em sua pele, deixando os braços languidos a mostra, assim como boa parte de suas costas, onde uma tatuagem prateada em forma de um floco de neve em oito partes descia no centro de sua espinha, ligando por uma linha e um losango descendo pela linha de sua coluna. A marca de um acordo, a promessa que ela fizera para ele de proteger sua corte, e de ser sua quando ele voltasse.

O macho sentiu a pressão em seu peito, apertando, ao mesmo tempo que o impulsionava para mais perto dela, mandando, ordenando, para que ele se aproxime mais, para que ele a toque, para que ele a torne sua.

A fêmea fecha os olhos quando sente o toque subir pela pele exposta em seus braços. O toque tão leve e frio quanto a neve quando ela caminhava pela floresta gelada, para a clareira onde ela sempre o observou sozinho, o toque gelado e ainda assim, tão acolhedor que deixou o rastro quente onde ele a tocou.

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now