CAPÍTULO 17

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Oi minha gente bunita, tudo bem com vocês? Desculpem a demora para postar, é que mais uma vez eu não estava me sentindo bem e nem mesmo escrever ajudou...
Mas tá aqui um capítulo novinho pra vocês porque sei que vocês estão amando a história. Aliás obrigada pelo apoio, e vamos ler...

CALLYEN

Amren estava me forçando ao limite e eu havia conseguido um total de zero resultados, isso além do que eu já tinha. Eu estava mentalmente exausta de erguer e levantar escudos e vasculhar os cantos escuros da minha própria mente durante as últimas horas consecutivas. E o pior, que a pequena monstra não deu um minuto de descanso e eu sentia que estava próxima a exaustão.

Eu estava vasculhando cada centímetro quadrado da minha mente num espaço delimitado por vez, mas sabia que Amren que me forçaria mais longe até o abismo escuro que parecia cada vez mais perto sempre que eu me aprofundava para dentro.

— Do que você tem medo de ver menina? — a pequena fêmea rosnou depois de um momento longo de silêncio.

Abro os olhos surpresa com a repreensão abrupta, e a encaro.

— Eu vejo, menina. Eu ainda vejo. Sua relutancia em encontrar algo, alguma informação, que não vá ser agradável. — ela me observa e eu entendo o que quis dizer. Amren não enxerga como antes, mas ela ainda enxerga muito. Resquícios ainda estão por ali, deslizando e rodeando por trás íris cinzas como o céu nublado de inverno.

— E você está com medo, criança. — não era uma pergunta, era uma afirmação. Uma afirmação dolorosa e... Completamente verdadeira. — Então, novamente, do que você tem medo, menina?

Mordo a ponta do lábio inferior, com força o bastante para começar a sentir o gosto ferruginoso e ocre de sangue, sopesando se deveria ou não responder ao olhar interrogativo acinzentado da pequena fêmea sentada a minha frente.

Do que afinal eu tinha medo? De encontrar as respostas para meus questionamentos, e de não gostar do que eu poderia encontrar se olhasse demais para o abismo.

— Quando se olha demais para dentro do abismo, o abismo te olha de volta.

— E você está com medo disso?

— Eu tenho medo de confirmar os monstros que estão presos em alguma jaula dentro de mim. — Sibilei.

— Todos temos monstros aprisionados em nosso âmago, criança. Alguns realmente perigosos e feios que outros, mas todos temos. Nós só precisamos encara-los e mantê-los como estão, sob controle.

Bufei um riso sem humor.

— Você fala como se fosse algo fácil.

— Eu sei que não é fácil, menina. Eu convivi com meus próprios... monstros durante milênios, e aprendi que ou você os controla ou eles controlam você. E que não dá pra conviver muito tempo com medo deles.

A fêmea diz, sabiamente. E eu a encaro puxando uma respiração baixa, porém profunda. Ela tinha razão, eu estava com medo de perceber o que eu era e o que isso poderia causar... Se as grades que prendiam meus monstros fossem finas, elas quebrariam se eu não aguentasse muito, e o meu medo de olhar de volta para o abismo... Era que de certa forma, o que quer que se escondesse em meio a escuridão, poderia me devorar. E a biblioteca era bonita demais para ser destruída.

— Mudei de ideia quanto a percepção anterior... Acho que seria mais fácil se Rhysand ou sua Grã Senhora me orientassem. — resmungo, vendo Amren me olhar com os olhos cinzas em fendas.

— Se você quer que alguém lhe dê suas respostas, eles estão fazendo sabe-se os deus o que no Chalé da Cidade... Mas aviso que eles não gostariam de serem interrompidos.

A fêmea lança como se pouco se importasse se eu iria ou não deixa-la. Decidi que, por mais rabugenta que a fêmea poderia ser, era melhor continuar com ela de qualquer forma. Inspiro profundamente novamente, antes de fechar os olhos e voltar a rastejar nas entranhas escuras de memórias podres e embaçadas...

A primeira coisa que me recordo é exatamente isso, o escuro. E depois a dor. Como uma picada queimando em minha pele, a medida que formava marcas incandescentes sobre minha pele...  E então eu volto no tempo...

“ Eu estava parada diante da tropa. Olho em minha volta e nenhum deles se move em minha direção para oferecer o mínimo de ajuda. Oh não, eles não me ajudariam. Eu podia ver que cada um deles esperava um deslize meu, e Ykner, esse sim, estava sedento por meu deslize. Porque seria uma desculpa para voltar ao meu aperfeiçoamento, se é que poderia ser chamado assim.

Ele estava lá, sentado em seu trono observando. Ele sempre observava. Talvez para relatar os avanços das experiências, para saber se seus experimentos funcionariam o bastante... Mas também sabia que ele não disperdiçaria meu sangue... Era valioso demais para isso, ainda eu tinha a certeza que ele se divertia com a angústia, com o sangue e o massacre que se desenrolava a frente. A Iniciação. Em seus olhos, negros como a noite fria sem luar, ele me encarava. Um deslize, uma demonstração de fraqueza... Eu não daria isso a ele.

Olho para a besta a minha frente, os olhos vermelhos injetados de ira e fome, era apenas uma das suas muitas experiências. Um de seus bichinhos de estimação, presenteado pelo pai igualmente insano. Essa manhã, antes mesmo que o sol despontasse na aurora eu receberá uma nova marca, marcada com o metal retirado do próprio Caldeirão na carne das minhas costas, ainda ardia. E sempre que eu ganhava uma nova, ou sempre que ele criava alguma coisa, eu era a porcaria do teste de qualidade.

Vejo a besta vir em minha direção, sobre suas patas, eu podia ver a morte... Sentir seu cheiro a cada bufada de ar solto por ela. Então o centro de minhas costas arderam, ainda mais, e eu senti que já não era mais eu no controle... Eu havia me transformado naquilo. Eu podia sentir a fome da morte, o vermelho tomando parte da minha visão enquanto eu me lançava em direção a besta, segurando-a pelos dentes quando ela tentou tomar uma parte da minha carne. Meus dedos transformaram-se em garras, as pontas vermelhas de sangue a medida que as afundava na carne do bichinho de Ykner, sentindo a pele, massa e tudo o mais rompendo... o sangue negro e espesso, correndo em minhas mãos e a vontade absurda de sorver o líquido... Eu me vejo enfiando a outra mão no centro do peito do monstro, esmagando o osso e puxando para fora. Seu coração vem pulsante em meu punho fechado, gotas espessas e quentes do líquido negro — seu sangue — pingando e manchando o solo terroso. E eu gosto da sensação, quando eu levo o órgão a boca e tomo uma mordida, arrancando entre dentes sob o olhar de aprovação de Ykner enquanto ele caminha em minha direção.

— Foi uma boa demonstração de sua capacidade. — ele diz, segurando meu queixo sujo com o sangue de sua besta. — Ele ficará feliz com o seu progresso. "

Arfei o ar ruidosamente a medida que parte das lembranças vinham a tona, cada vez mais dolorosas, cada vez mais sombrias sobre a verdade. E então, já não era mais ali.

 E então, já não era mais ali

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Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now