CAPÍTULO 70 PARTE 2

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(lendas nunca morrem quando o mundo chama por você
Consegue ouvi-los chamando o seu nome?)

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Calmaria.

Foi a primeira coisa que ela sentiu quando abriu os olhos para imensidão a sua frente. Ela ergueu a mão, tocando a relva, sentindo as folhas tocando sua palma, mesmo que ela de fato não as estivesse tocando, era como se a folhagem molhada pelo orvalho transpassasse por sua mão.

A brisa leve balançou a vegetação ao redor a medida que ela continuou caminhando, a frente uma clareira se estendia límpida. O cheiro suave de vento tomou conta de seus sentidos. Limpo, de pinheiros e neve. Ela se lembrava daquele cheiro, embora nesse momento ela não conseguisse se de onde o conhecia.. onde já o havia sentido, algo no cheiro do vento a lembrava de estar em casa.

A fêmea continuou caminhando em direção a clareira, era estranho que ela soubesse que tinha ir até ali, mesmo que ela também sentisse que não deveria estar naquele lugar. Que ali não era seu lugar, ela continuou caminhando.

— Você não deveria estar aqui. — a voz soou as suas costas quando ela alcançou o espaço aberto. Ela se virou, a postura tão reta quanto sua coluna permitia, todos os seus músculos prontos para atacar, ou se defender.

A risada entretanto pareceu relaxa-la. Soou divertida, soou como um aviso também quando ela deixou as presas a mostra. A fêmea a sua frente estava em uma túnica verde escura, tão escura quanto a copa dos Pinheiros que cercavam a clareira. Asas majestosas, repleta de penas negras, eram manchadas com uma linha tênue de penas brancas, quase como uma cicatriz através da envergadura. E o par de olhos cinzas como o anúncio de uma tempestade olhavam para Callyen com uma curiosidade aguçada.

— Onde é aqui? — questiona. A voz soando como se fosse difícil falar, como se fosse difícil respirar.

A fêmea a sua frente sorriu, condescendente, para a pergunta. Callyen se moveu novamente pela clareira, os pés descalços tocando a relva, e olhou para o céu acima da redoma verde da copa das árvores. Era do mais belo tom de azul que a fêmea já havia visto, e a lembrava de algo, um lugar. Um lugar importante. Callyen gemeu quando sentiu a cabeça doer.

— Aqui.. — a fêmea as suas costas caminhou em direção.. — aqui tem muitos nomes, criança.

Sua mente girou em conhecimento, quando ela se moveu um passo, para olhar novamente a fêmea as suas costas, e quando a mulher sorriu novamente ela soube...

— Eu conheço você. — não fora uma pergunta, e a fêmea sabia disso quando sorriu novamente. Dentes brancos e pontiagudos brilhando por lábios cheios e bem desenhados.

— Lembro-me de tê-la ajudado uma vez... não muito tempo atrás. — respondeu parando em frente a Callyen.

— Porque? — Callyen questionou sentindo o nó se formando em sua garganta, dolorosamente difícil de engolir.

— Porque eu estou aqui para te ajudar novamente, Princesa.

— Não me chame assim.. — retrucou com um fio de voz quando ela finalmente entendeu onde estava. O céu acima mudou de cor, tomando colorações laranjas e lilases.

Então era assim.. o além mundo.

Callyen quase riu quando percebera que esperava um pouco mais. O senhor da morte estava sendo misericordioso com ela, deixando-a transpassar seus portões. Ou estava sendo demasiado cruel, deixando que ela tivesse a visão do paraíso para então devolvê-la ao seu verdadeiro lugar.

— Não se engane Callyen... — a fêmea, agora a sua frente, diz. Um sorriso no canto dos lábios informando que ela sabia mais do que gostaria, ou do que poderia, compartilhar. — Você é o que é, e não que ele quer que você seja. Você é a princesa do Caos, e não a princesa dele. Seu poder é maior do que você se quer imagina..

Príncipe das SombrasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora