CAPÍTULO 41

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CALLYEN

Eu ouvia, mas ainda assim eu não compreendia o sentido. Houve um momento que parei até mesmo de ouvir os murmúrios e até mesmo a voz de Azriel parecia abafada na minha cabeça, devido ao sentido que meus pensamentos procuravam e não achavam. Tudo aquilo, todas aquelas informações, o que foi me dito e o que havia visto... não faziam o menor sentido, e ainda assim, estranhamente faziam. Faziam, porque não havia uma motivação além da pura maldade em Ykner querer me machucar. Não havia a uma única motivação para ele saber quem eu era, ou onde me procurar, ou que meu pai estaria tão disposto a se livrar rapidamente de mim. Ykner poderia ser mal, horrível e merecia a morte pelo que havia me infligido por todos esses anos, mas se realmente ele era uma coisa, ele era conciso, pragmático, e sempre, sempre, planejava. Ao mesmo tempo que tudo isso parecia fantasioso demais.

Não era possível que eu fosse tudo o que eles insistiam em dizer que eu era. Eu não podia ser a casca escolhida para ser habitada por uma essência divina! Não fazia sentido.

Callyen, respira.

Eu finalmente o consigo ouvir por cima do torpor abafado em minha mente, novamente ele puxou na mente, puxando-a em direção a dele. Eu não precisava olhar para ver a preocupação estampada em seus belos olhos castanhos dourados, e o franzir no centro de suas sobrancelhas.

— Isso explicaria o interesse de Ykner sobre você todos esses anos. — ouço o Grão Senhor dizer, uma especulação, claro. Uma vez que apenas eu sabia o quão de fato Ykner poderia ser sádico não apenas por Poder. Não me deixei estremecer com o pensamento. — Afinal, você afirmou que ele estava tentando, de alguma forma, te aprimorar...

— Moldar na arma perfeita. — eu completei suas palavras, num sussurro baixo, ainda não focando em nenhum deles especialmente, mesmo sabendo que eu tinha todos os pares de olhos para mim nesse momento.

— Os símbolos, porque Ykner não iria querer que ela encontrasse seu parceiro? — ouço a voz profunda de Cassian soar em algum lugar dentro do espaço da cabana. Ergo meus olhos para encontrá-lo de braços cruzados próximos a soleira de entrada para a cozinha, ele tinha particularmente um olhar em seu rosto, analisando as prerrogativas e motivações, e então eu vi que ele passou seus olhos por mim novamente, e então para Azriel ao meu lado, um sorriso contido, embora feliz surgiu quando ele piscou em minha direção. Azriel tencionou o corpo ao meu lado eu jurei ter ouvido um rosnado, não podia ser impressão entretanto, quando todos os outros olhos saíram de mim e dispararam para ele.

— Tire esse sorriso presunçoso do rosto, Cassian, ou eu farei isso por você. — o mestre espião rosna em direção ao outro illyriano.

— Temos assuntos mais urgentes a tratar que a batalha de masculinidade entre os cães alfas...

— Cassian fez uma pergunta válida entretanto — eu interrompi Amren que, mesmo com as provocações de Cassian, ainda mantinha os olhos acinzentados entre mim e os pergaminhos sobre a mesa. — Qual a intenção de Ykner para que eu não encontrasse meu parceiro? E porquê não funcionou?

Olho mais um momento em direção a loira ao lado de Cassian, que deixa um leve ruído escapar pela boca. Não era de alívio, supresas ou raiva percebi, mas algo como esperado enquanto novamente, ela deixou seu olhar passar de mim para Azriel por um breve momento.

— Eu não disse que não tinha funcionado. Os símbolos são para que você não o sentisse, não o contrário. Diga-me, em todo esse tempo que esteve conosco, você se quer suspeitou que seu parceiro poderia estar tão próximo a você? — Amren diz, cruzando os braços pequenos sobre o peito.

Era verdade. Eu apenas desconfiava que havia alguma coisa, eu reconhecia seu cheiro, e antes disso, eu via imagens trêmulas dele sempre que eu conseguia dormir e sonhar, ambas coisas difíceis ao longo dos anos e sonhar, mais ainda. Mas sempre que eu abençoada, os sonhos me mostravam suas sombras, me mostravam o céu noturno como um borrão bonito, era como ver através do reflexo num lago, sem foco, mas reconhecia as imagens. E quando eu vi, achei que estivesse sonhando. Não porque senti o laço ou algo, mas porque eu só o reconheci dessa forma.

Príncipe das SombrasWhere stories live. Discover now