Janeiro I

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Final de férias é um saco. Ter que ficar planejando as coisas pra voltar à rotina da escola, acordar cedo, aguentar mãe e pai pegando no seu pé... E o pior: sofrer com tudo isso por antecipação.

Era trinta e um de janeiro, sábado, último fim de semana antes das aulas começarem.

Por que meu colégio não podia voltar depois do carnaval, como qualquer outra escola normal?!

Eu tava morrendo de tédio, esticado na cama com o volume do iPod conectado à caixa de som no máximo. O computador ligado, a cama toda desarrumada e a preguiça imperando. Até estranhei minha mãe não vir me mandar abaixar o volume, porque ela tava com a sobrinha dela na sala e tal, mas foi só pensar que ela apareceu, abrindo a porta sem nem se importar em bater... Não que eu fosse escutar, claro, com aquela altura.

– Mãe! – reclamei mesmo assim. – Dá pra bater na porta antes?!

Ela estreitou os olhos e apertou o telefone entre as mãos com mais força. Nem tinha reparado nele, e só então abaixei o volume e a indaguei com o olhar.

– Pra você. – ela me passou o aparelho e, antes de sair do quarto, desligou o som na tomada. – E sem mais fuzuê por hoje. Use fones de ouvido.

Revirei os olhos e atendi.

– Alô?

– Rê?

Caí na cama e fechei os olhos, contendo um suspiro. A voz do outro lado era tão energética que até me cansava de vez em quando.

– Oi, Nat, e aí?

– Ai, Rê! Tá muito ocupado? Tô te atrapalhando?

– Não, fala aí. Tô de boa.

Ela perguntou mais alguma coisa que nem fiz muita questão de prestar atenção, e introduziu o motivo da ligação.

– Tentei seu celular, mas só chamava e caía na caixa postal! – ela reclamou e eu olhei de soslaio pro retângulo preto em cima da mesa do PC. Acho que a bateria tinha acabado, inclusive. Revirei os olhos inconscientemente. – Tô ligando pra você e pros meninos pra gente se encontrar no shopping daqui a pouco, anima?

– Ah, sei lá... – eu não tava muito afim de fazer nada, na verdade. – Quem vai?

Perguntei só por perguntar, já que por "meninos" eu imaginava quem ela incluíra na lista.

– Olha, chamei o Carlos, claro, o JV, o Jô e o Dani, mas eu acho que ele nem vai. – ela bufou do outro lado da linha. – O Daniel foi convidado praquele aniversário hoje, acredita?! E disse que tava pensando em ir!

Levantei as sobrancelhas. Eu sabia que o Daniel tinha sido convidado, todo mundo viu o evento no Facebook e viu que ele tinha marcado um "talvez" – mas daí a ele efetivamente comparecer eu já achava que era meio inverídico. O Dani seria zoado o resto da vida se fosse.

Será que ele tinha coragem?!

– Vamos! – a Natalia se empertigou, chamando minha atenção. – É nosso último fim de semana e eu não tô a fim de ficar em casa fazendo nada. Anda, vou levar minha irmã e a Isa também vai. A gente se encontra lá daqui umas duas horas, ok?

E desligou sem nem esperar minha resposta.

Duas horas depois eu estava em frente à sorveteria do shopping, pedindo um sundae com cobertura de chocolate e ouvindo o Carlos narrar o jogo do campeonato inglês que ele tinha assistido pela milésima vez pra comparar os lances com não sei o quê. Nem dava muita bola, ele tava super empolgado e o João Vítor entrou na dele facinho, então eu não tive que participar muito.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now