Outubro IV

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A conversa com os mais novos saiu melhor do que eu imaginava. Não ouvi mais um pio sobre o assunto "Sander e Renan se beijam na boca" enquanto estava por lá – e o gringo me disse que depois o Lucas também não comentou coisa alguma. Foi como se eles nem tivessem visto algo. Depois do frenesi inicial, acho que pelo choque de nunca terem imaginado a situação, ficou algo meio normal pra eles. O que era pra ser pra todo mundo, convenhamos.

Mas a minha ideia de passar a noite por lá no feriado não rolou – os pais do gringo chegaram e disseram que iam ao shopping jantar. E no dia seguinte de manhãzinha iam leva-lo para um passeio numa cidade vizinha, cheia de cachoeiras e trilhas ecológicas e não sei o quê. Só que eu não estava incluso no plano e soube reconhecer a derrota. Levei o Miguel de volta pra casa e nós dois ficamos jogando videogame na sala até o sono vencer.

Queria dizer que meu feriado foi super proveitoso, mas foi uma merda. O pior que já tive. Minha mãe levou meu priminho e a Bárbara (que, na real, é minha priminha também, né?) para passear em todos os shoppings e parques e praças disponíveis nessa cidade e eu fui a tiracolo, mais para babá mesmo. Nos dois primeiros até que aguentei bem, mas depois comecei a me estressar com tudo – desde o choro dos bebês alheios à casquinha de sorvete derrubada no meu tênis limpo.

Quando o Rogério viajou na quarta-feira à noite, eu quase enlouqueci. Implorei pra ele me levar junto, mas como eu não tinha R$200 pra ajudar na gasolina, nada feito. Pura sacanagem! Ele até me alertou de guardar uma grana porque no ano novo eles estavam pensando em fazer a mesma viagem e que eu poderia ir, mas, sem o dinheiro, nada feito...

De qualquer forma, o Sander ia voltar sábado só depois do almoço, e eu teria que sobreviver sem ele até a noite, quando era a comemoração dos gêmeos. Antes eu tava achando um saco ter que comparecer, mas devido às circunstâncias do meu feriado frustrante, fiquei mais que empolgado de ter uma balada para ir.

***

O barzinho era na mesma região que o Bar da Copa, lugar que eu e o gringo conhecíamos bem. Também ficava perto da boate gay que fomos na companhia do Daniel, o que me gerou um momento de nostalgia esquisita. O local da festa, porém, fora fechado exclusivamente para deleite dos convidados dos gêmeos, e já estava cheio quando cheguei.

Os parentes dos aniversariante estavam em peso no local – tinha uma mesa enorme na calçada só com eles, aliás. Encontrei o Rafa primeiro quando desci do táxi e já mandei o cumprimento pra todo mundo que tava por perto, apesar de não saber exatamente o nome de muita gente ali. Conhecia a mãe do Luiz e os pais dos gêmeos, mas de resto não me interessava. Entreguei uma lembrancinha que pedi minha mãe pra comprar de presente pros dois – acho que eram cuecas e meias, não sei porque não abri o embrulho tamanho era o meu cuidado, percebam.

– Tá rolando open bar lá em cima! – o Rafael cochichou no meu ouvido e indicou a entrada com a cabeça, ignorando o presente, o que me deixou aliviado. Uma escada de madeira, larga e com corrimão de metal era bem visível ao centro. A luz e a música estouravam no segundo andar. – É só chegar com isso aqui.

Ele colocou uma pulseirinha roxa no meu braço e deu uma piscadela antes de ir aceitar os cumprimentos de uma galera do terceiro ano que tinha acabado de chegar.

O open bar era real! Todo mundo no segundo andar estava pelo menos com um copo nas mãos e mexendo o esqueleto ao som de música eletrônica de um DJ contratado especialmente para a ocasião. Encontrei os caras do time logo de primeira – Gustavo, Felipe, Carlos e o Dani. A Natália e a Isadora dançavam ali pertinho, hora ou outra conversando aos sussurros com os meninos na rodinha. Cumprimentei a galera, peguei um copo de citrus com vodca e tentei me enturmar. A música tava boa, agitada, ótima pra desligar minha cabeça.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now