Dezembro I

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A última semana de aula foi tão corrida que era difícil até parar para pensar em algo que não fosse as matérias das provas. Eu chegava sempre em cima da hora e era praticamente o último a deixar as salas depois dos exames. Exausto, eu nem tive tempo de perceber qualquer consequência do que eu tinha respondido ao JV naquele dia, na sorveteria. É claro que, depois de enviar a mensagem, entrei em pânico... Mas só por um momento. Não deixei que o Daniel soubesse o que estava acontecendo, então me esforcei para ignorar o ocorrido.

E o "engraçado" é que notei que não havia mudado muita coisa, o JV só parou de conversar de vez comigo e com o Dani, sendo sincero. Eram as últimas semanas dele no Brasil – soube que iria com a família para a Austrália antes do Natal, pra se ambientar e tal, e aproveitar as férias com os parentes. Então eu não o veria mais naquele ano depois do sábado do simulado.

E nem no ano seguinte, né.

É triste ver um amigo partir, mesmo que seja alguém que você já não tenha tanta intimidade. Querendo ou não, eram mais de dez anos de convivência, e mesmo para o próprio Daniel acabar daquele jeito era... devastador.

– Eles eram super grudados, sabe? Melhores amigos. – eu e o Sander estávamos sentados na cantina do colégio na hora do almoço. – O Carlos meio que colocou ele, o Dani, no nosso meio, mas foi ao JV que ele se apegou logo de cara. Até ano passado eles não se desgrudavam...

O joelho do gringo se encostou ao meu por debaixo da mesa e nós nos entreolhamos.

– Ele também não me chamou para a tal festa de despedida, – o gringo comentou. – mas os gêmeos vão, pelo que sei. Eu não ligo, você sabe, mas fico triste por vocês. Acho que ele vai se arrepender depois, mas por enquanto...

– É, eu sei... Quero dizer, não acredito muito em "redenção" e essas coisas... Você sabe o que é redenção, né? – apertei as sobrancelhas, mas o joelho do gringo bateu no meu enquanto ele ria, as covinhas aparecendo na bochecha e me fazendo sorrir de volta.

– Eu sei, já vi a palavra antes. Me admira você saber o que é. – foi minha vez de ficar ofendido! Sander retomou a fala depois de uns empurrões e beliscões escondidos. – A gente aprende muito fora de casa, longe da família, da rotina e daqueles que estamos acostumadas a conviver. Acredite em mim, ele vai voltar outra pessoa depois desse intercâmbio.

Não que eu não acreditasse nisso, eu só não sabia se estaria ali pra vê-lo mudar... ou sequer voltar.

***

Com Dezembro definitivamente no calendário e o desespero das provas escorrendo pelo ralo em porções diárias doloridas, porém, percebi com sofrimento que não era só o JV que faria uma despedida. A realidade bateu à porta quando, ao final da monitoria com a professora de química na última quinta-feira de aula, o Dani veio me dizer que a diretora queria nossa presença na sala dela.

– Vamos fazer uma pequena despedida para o nosso intercambista. – foi o que ela anunciou. – Então chamei alguns colegas mais próximos para me ajudar, que tal?

Estavam na sala eu, o Dani, os gêmeos, a Talita e o cara que eu teimava em esquecer o nome! Rafael e Gabriel, porém, pareciam um pouco deslocados e verbalizaram a confusão.

– Ah, diretora, a Talita é especialista nisso! Deixa que ela pode organizar tudo, né? A gente mantém o segredo. – o Rafa disse, sem o menor remorso.

A moça, a Talita, concordou e ainda disse que eles podiam permanecer de fora se quisessem, talvez sabendo que o Sander ficaria aliviado de não ter que agradecê-los forçosamente depois.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now