Maio IV

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Eu gostaria muito de não ter a obrigação de estudar, muito menos de ter que ir pro colégio, mas infelizmente esse dia ainda não tinha chegado e eu precisava me manter naquele recinto com, no mínimo, frequência e aprovação. A primeira eu já tinha – devido a minha aproximação com o Sander, faltar ao colégio era a última coisa que eu pensava em fazer, mesmo sabendo que eu poderia encontrá-lo fora dali. É incrível como sempre dizem que com o incentivo certo (o Sander) até a pior das obrigações (a escola) pode se tornar algo legal, né?

O problema era que a parte da aprovação eu tinha que correr atrás...

Não liguei muito pra nenhuma avaliação ou trabalho que veio depois das primeiras provas, daquela que eu tinha quase fechado de inglês e tal. Eu continuava indo bem nessa matéria específica, mas as outras.... Nem tinha me dado conta de que elas existiam até receber um bilhete da diretora dizendo que gostaria de marcar uma reunião com meus pais.

O motivo? Todas as minhas notas tinham despencado. Quase que abaixo de zero mesmo.

Tive que implorar quase de joelhos pra que ela não fizesse isso. Aquilo seria o fim da minha vida social! Uma coisa que meus pais não suportavam era que eu me desse mal no colégio, já que, de acordo com eles, era "só com isso que eu tinha que me preocupar".

Então pedi ajuda ao Nasser, inventei que não tava estudando direito por causa da preocupação com o futebol. A maior das mentiras, a única que consegui formular! Ele, por sua vez, disse que passar de ano devia ser minha meta porque eu já era um titular e um bom jogador... Enfim. Eu inventei a maior história, dizendo que o tempo livre que tinha eu passava organizando as coisas do torneio que, umas semanas antes, inclusive, ele e o Carlos haviam nos contado que aconteceria no semestre seguinte.

Nós não teríamos que fazer quase nada na verdade; o campeonato seria organizado pelas escolas da rede na qual a gente estudava; só teríamos que fazer as inscrições, pagar uma taxa e, bem, jogar.

Não sei se ele caiu na minha mentira, acredito que não, mas o Nasser pelo menos ficou do meu lado quando falei com a diretora. Ela me fez prometer que, nas próximas avaliações, minhas notas seriam as melhores. Senão, a reunião definitivamente aconteceria. E seria desastrosa.

Com isso, eu tive que dar o braço a torcer e estudar alguma coisa. Digo, estudar de verdade verdadeira.

Ninguém parecia tão desesperado quanto eu nesse quesito, então não tinha muito a quem pedir auxílio, mas eu sabia que o Daniel era dos que mais se importava com essa questão de nota. Comentei minha "situação" e ele se prontificou a me ajudar com o que soubesse, mesmo que não fosse muito. Infelizmente, o inglês não estava na lista, então dessa vez não teve nem menção ao nome do Sander na conversa...

O gringo, porém, foi diretamente afetado pela minha nova rotina de estudos, digamos. Tive que parar de ir à casa dele praticamente todo dia, senão eu o atrapalhava também. Ele estava em época de provas e vivia cheio de trabalho pra fazer com os colegas de sala... Eu parecia uma pedra no sapato, empacando o menino.

Aquilo nem era eu! Digo, de ficar grudado em alguém assim. Eu nunca me apegava às pessoas tão intimamente, nem sei porque estava acontecendo com o Sander em específico... O fato é que eu sentia a falta daquele americano quando a gente não se encontrava (em particular, porque nos esbarrar nos corredores ou no almoço era corriqueiro demais). Não era falta só de ficar com ele, era falta de papear a sós, de escutar ele falando português com sotaque, de rirmos juntos... Compartilhar os momentos, sabe?

Tive que afastar esses pensamentos da minha mente durante o resto de Maio inteiro, só pra ver se conseguia recuperar minhas notas um pouco. Se chegasse às férias de Julho e elas ainda não estivessem boas, meus pais nunca me deixariam participar do campeonato de futebol do colégio – muito menos porque ele envolvia viagens de vez em quando às cidades do interior...

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now