Março III

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Não tinha contado pra ninguém que ia no campo no domingo, mas, na segunda-feira, boa parte da galera parecia saber. Eu ignorei meu Facebook até a hora do almoço, desativando até as notificações no celular, mas aparentemente o Sander tinha postado uma foto nossa no segundo andar do estádio... Eu nem me lembrava dela, de ele tirando e tal, mas foi só bater o olho que a sensação voltou com força total.

A legenda que ele tinha colocado era: "Wonderful memory". E eu traduzi para "memória maravilhosa", ou algo assim.

Eu nem queria ir almoçar depois daquilo, com medo do meu estômago me trair e botar tudo pra fora, mas o João Vitor insistiu tanto que eu parasse de "agir como mulherzinha" e fosse com eles que acabei topando. O pessoal tava todo animado contando do fim de semana – parece que eles tinham saído em peso juntos, inclusive as meninas, e a Camila tinha até levado o Diego à tira colo, o que gerou uma comoção na discussão. Tipo, o Diego sair com o pessoal do futebol era um evento inédito e, convenhamos, super esquisito mesmo.

Daí, então, o assunto se virou pra mim. Do nada.

– Poxa, velho, cê devia ter falado que ia no campo! E nem pra descolar um ingresso pra gente, né? – o Carlos reclamou, me encarando de cima.

– O jogo nem foi tão bom assim, mas campo é campo, né! – o Caíque comentou.

– E tava lotado! – o Joel colocou mais pilha. – Cê viu aquele pênalti?! Eu ia xingar muito o juiz na cara dele se estivesse lá!

Eu fiquei calado até onde pude, sentindo minhas entranhas se remexerem. O Sander estava conversando com as meninas do terceiro ano, mais afastado, então não participava da nossa roda, mas os gêmeos tinham um ouvido lá, e outro cá.

– O gringo deve ter até desmaiado na arquibancada, não é? – o Rafa brincou. – Ele postou a foto de vocês dois e ficou todo empolgado respondendo os comentários, cê viu? Ele deve achar que foi num lugar super ilustre e tal, imagina se tivesse sido o Maracanã?!

Todo mundo caiu na risada. Eu só faltei abrir um buraco no chão pra me enterrar.

– Aliás, como diabos ele foi parar lá com você? Tipo, ele não explicou direito, disse que tinha sido de última hora, mas vocês se encontrarem foi pura coincidência, né? – o Gabriel perguntou, realmente soando interessado.

Eu cogitei mentir, mas logo notei que não ia rolar. Eles descobririam mais cedo ou mais tarde; pelo que eu conhecia dele, o Sander não mentiria... Não sem um bom motivo.

E ele não tinha motivos, oras.

Mas que mal tinha encobrir um pouquinho da verdade, não é mesmo?

– Meu irmão arranjou os ingressos – eu disse, parecendo muito preocupado com meus talheres. – Ele me ligou no sábado quando a gente tava no vestiário. O Sander escutou, perguntou como o esquema funcionava e tal... E eu cedi um ingresso pra ele. A gente se encontrou lá pra eu poder entregar, foi isso.

Dei de ombros, assim, como quem não diz nada de mais.

Todo mundo ficou me olhando em silêncio por um tempo, até o Carlos explodir:

– Quer dizer que o cara ainda foi de graça?! Porra, Renan, aí cê tá vacilando, mané! Podia ter dado o ingresso pra um de nós e vendido um pra ele, ué! Aposto que seu irmão conseguia mais que um par fácil, fácil!

– Não conseguia, foi o único que ele arranjou – rebati, meio nervoso. Eu nem tinha pensado em dar o ingresso pra ele, pra começo de conversa. Acho que o Carlos seria o último da lista, na verdade. Ele tinha condição suficiente de comprar com o próprio dinheiro o ingresso que quisesse, a hora que quisesse!

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now