Junho IV

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– Você tem certeza?

Era quase onze horas da noite do sábado, na mesma semana depois da festa do Sander. Estávamos eu, ele e o Daniel perambulando numas ruazinhas menos movimentadas de um bairro na zona sul da cidade. Não queríamos gastar muito dinheiro, então o taxi não tinha sido uma opção. O doutor Alfredo tinha nos deixado em frente ao barzinho com decoração de futebol, onde eu e o filho postiço dele tínhamos ido na nossa primeira saída juntos. Era um ponto de encontro neutro; por causa da decoração e da ideia do negócio, o pai brasileiro do gringo não fez qualquer pergunta quando disse que íamos sair, nem estranhou a presença do Daniel. Afinal, éramos todos colegas do colégio – e ele já o conhecia da festa surpresa.

Nós de fato ficamos no bar... por uma hora. Comemos batatas fritas e o Sander aproveitou pra jogar totó com o Dani, afiando suas habilidades e arrancando risada de todos nós. Era muito bom vê-lo sorrindo, as covinhas aparecendo nas bochechas ao fazer alguma coisa que gostava, eu tinha que admitir. E ele tava ficando bom (demais) no jogo!

Só que a ideia de sairmos não era bem para ser no bar. Não dava pra "sair à caça" ali; o ambiente era muito descontraído e informal, sabe? Simplesmente não dava. Então fomos andando pelas boates ali perto, vendo o movimento, apreciando a vista... Chegamos a cogitar entrar numa delas, na que nós tínhamos ido daquela vez também, na noite do fatídico beijo – meu e do Dani; tenho certeza de que a memória veio direto pra cabeça de nós três quando passamos em frente ao local.

Mas ainda não era aquilo. Não era ali que eu desconfiava que ele conseguiria sair da rotina um pouco, se é que me entende.

Então a ideia pipocou na minha mente imediatamente e eu não hesitei em transpô-la em palavras, nem em colocá-la em prática.

E ali estávamos nós três, nos aproximando de uma boate gay.

– Veja só, – eu argumentei com o Daniel. – ninguém que a gente conhece entraria num lugar desses. Digo, ninguém "perigoso". Fala sério, quem do time teria coragem de sequer passar debaixo daquele letreiro rosa neon?

O Dani riu e o Sander enfiou as mãos ainda mais fundo nos bolsos dianteiros da calça. Eu não tinha explicado que local era aquele, não exatamente, mas dava pra notar pela quantidade de casais... hm, diferentes que se amontoavam na porta – e também pelo tamanho do salto alto e da quantidade glitter que muitas pessoas ali usavam.

Todo aquele cenário nos deixava nervosos, era óbvio, mas eu não queria fazer da situação algo constrangedor. Então subi os ombros.

– Tem algum problema pra você? – questionei e o Dani encolheu o corpo todo.

– Não – ele se remexeu nos calcanhares. – Digo, acho que não. Nunca entrei num lugar desses.

– Bem, então vamos todos compartilhar das nossas primeiras vezes.

Ele caiu na risada de novo e eu me virei pro Sander:

– Encare isso como um estudo de cultura brasileira, ok?

Ele sorriu pra mim e senti meu coração pulando no peito ao acompanha-lo.

– Certo – uma pessoa extremamente alta, com um sapato que devia pesar no mínimo cinco quilos, e muita, muita maquiagem passou por nós três. O Sander a acompanhou com o olhar e se virou pra mim, sussurrando. – Por favor, não me deixe sozinho lá dentro.

Com o canto do olho, vi que o Daniel também acompanhava o caminhar do pessoal ao nosso redor, então me aproximei do gringo e passei meu braço sobre seu ombro, puxando-o para mais perto de mim.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now