Agosto I

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Fiz a prova de recuperação, meus pais voltaram de viagem e as aulas recomeçaram pra todo mundo na segunda-feira seguinte. Por incrível que pareça, meu pai não xingou ou brigou por causa de nada, pelo contrário. Me trouxe uma camiseta da seleção, um boné e ainda me devolveu o celular assim que pisou no quarto. Minha mãe ficou dizendo que sentiu minha falta, que a viajem não era a mesma sem um membro da família e blábláblá. Ela estava de bom humor e era como se nunca tivéssemos brigado... O que a distância não faz, né?

Rogério ficou me zoando por ter perdido as maiores gatas na praia e ainda disse que papai tinha levado umas cantadas inacreditáveis, mesmo com a mamãe por perto.

– Cê perdeu, moleque! – ele ria, jogando as coisas da mala no corredor que dividia nossos quartos. Achei a história das cantadas do papai hilária, mas também me fez lembrar da mulher que não parava de ligar pra ele e uma ideia bizarra me passou pela cabeça. Comentei isso com o Rogs e ele revirou os olhos. – Tá com inveja, é? Aposto que ficou de molho em casas esses dias todos, só descabelando o palhaço!

A gente trocou uns tapas depois desse diálogo esquisito, é claro, o que provava que a rotina da família Souza tinha definitivamente retornado ao normal.

De posse do meu celular, pude voltar a me comunicar com o pessoal. O grupo do time tava cheio de vídeos hilários dos caras na festa do Carlos, na casa dele. Também tinha umas fotos das viagens do pessoal, mas a maioria era do Joel ou do Felipe estrebuchados no chão depois das bebedeiras. Eles tinham saído todas as sextas e sábados e domingos de Julho, isso eu sabia da nossa convivência na escola durante a recuperação.

Teve uma ou outra menção ao meu nome durante as conversas, mas, no geral, a minha ausência tinha passado batido. De imediato, me senti esquisito com isso. Digo, notei que sou, afinal, dispensável. Quando dei um oi, ninguém quis saber como eu estava ou como tinha passado as férias – mesmo conscientes que eu estava em prisão domiciliar, não custava perguntar, né? Nenhum deles ligava para nada além das zoações ou comentários maldosos sobre outras pessoas. No máximo, naquela volta às aulas, eles falavam do torneio de futebol e só. Era esse o assunto do grupo.

Depois, acabei me sentindo melhor por não poder me comparar a eles. Não mais.

O resultado da recuperação veio na sexta-feira da primeira semana de Agosto – até lá, meu pai realmente ficou me levando e buscando todos os dias, então nada de me encontrar com o Sander ou sair pra jogar videogame com o resto do povo. A diretora marcou uma reunião para a sexta de tardinha e me incluiu na conversa.

O encontro com ela foi rápido, mas daqueles que lavam a alma, sabe? Meu boletim novo foi entregue nas mãos do Nelson com ótimos comentários e elogios por parte dos professores. Também, ele estava todo verdinho e limpo, sem nenhum traço de rebeldia, como meu pai gostava. Não recebi nenhum "parabéns", ou "você conseguiu!" na volta pra casa, porém. No silêncio do carro, parecia que alguém tinha morrido!

Não que eu esperasse elogios nem coisa parecida, mas a esperança é a última que morre, dizem.

Vai ver foi ela mesma que bateu as botas dentro daquele carro...

O fato é que, com a minha vida acadêmica normalizada, meus pais não tinham motivos pra cortar minha participação no campeonato intercolegial. Eles só se lembraram que ele realmente aconteceria quando cheguei com um termo de responsabilidade que tinham que assinar pra eu poder viajar.

Sairíamos na sexta-feira da segunda semana de Agosto e voltaríamos só dez dias depois. A taxa de inscrição já havia sido paga, mas o Nasser mandou recolher um dinheiro a mais para nos hospedar em hotéis melhores. Como iríamos passar por umas quatro cidadezinhas, tínhamos quatro formulários para preencher com documentações e tal, já que a maioria ainda era menor de idade.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin