Fevereiro V

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O carnaval foi na última semana de Ferreiro e pegando a primeira de Março. Eu tenho o costume de viajar em todo e qualquer feriado pra visitar meus avós – o que era só uma desculpa pra sair de casa e poder passear sem minha mãe pegar muito no meu pé. Não perco uma oportunidade, e não foi diferente quando a sexta-feira anterior chegou.

A sala tava uma bagunça por causa da agitação das festas. Muita gente ia viajar, outros iam sair em blocos, ficar pra comemorar nas ruas, ir pra desfile de escola de samba e não sei mais o quê. Eu planejava aproveitar as baladas de Sampa, longe dos olhares curiosos!

No almoço, o Sander comentou que ia para o Rio de Janeiro com a família brasileira dele, conhecer e tão famoso carnaval que lá fora era a marca registrada do Brasil. As meninas ficaram dando dicas de onde ir e visitar, já que a Isadora tinha parentes no Rio, e os gêmeos chamaram a gente pra ir no sítio da família deles no fim de semana. Disseram que ia rolar um luau ou algo parecido, não sei, não prestei muita atenção. Tava louco praquilo acabar e eu também poder viajar.

Cheguei na pilha em casa, depois da aula. O Rogério ainda estava no estágio, então tínhamos que espera-lo, e também ao meu pai, pra poder pegar a estrada. A gente sempre enfrentava engarrafamento por causa dos atrasos, sempre saíamos em cima da hora, mas assim que era divertido! Não pegávamos avião porque minha mãe morria de medo, íamos de carro mesmo, e meu irmão e o papai revezavam na metade da estrada. Eu não via a hora de poder pegar no volante também, mas eles nunca me deixavam passar nem perto.

De qualquer forma, a casa dos meus avós paternos é bem grande. É um apartamento, na verdade. Cobertura, piscina, condomínio com quadra e campo. Tudo fino! Tem um pessoal bacana que mora lá desde sempre, e os vizinhos de baixo têm uma filha na minha idade que, ó, deixa todas as meninas do colégio no chinelo!

Ela é super gracinha, a Amanda, e tá sempre acompanhada de umas amigas muito gatas. O Rogério já ficou com todas elas, diz ele, mas eu duvido. Só vi ele beijando uma, e ele nunca ficou com a Amanda que eu sei. Ela disse que preferia ficar comigo, que sou mais gente boa – mas essa frase foi dita tem uns dois anos já. De lá pra cá, de vez em quando rola alguma coisa, de vez em quando não. Se ela não tá enrolada com ninguém, a oportunidade faz o ladrão, não é o que dizem?!

Pra minha decepção, os pais da Amanda tinham viajado naquele carnaval e rebocado a menina junto. Então não tinha nem ela, nem as amigas por perto. Isso já me deixou meio chateado quando chegamos no sábado de tardinha por causa do trânsito e tudo. Daí, à noite, o Rogério disse que não tinha conseguido nenhuma entrada pra nenhuma balada, e minha mãe ficou insistindo pra gente jantar com a vovó e o vovô, então acabamos ficando em casa.

No domingo, feriadão, fomos ao shopping dar umas voltas, mas tava super vazio. O pessoal todo se concentrava no centro, nos bloquinhos e tal, coisa que eu não curtia muito porque rolava uns assaltos de vez em quando e eu tenho muito apresso pelo meu celular, obrigado. Daí o domingo passou batido.

Na segunda, dei uma nadada, o Rogério e meu pai fizeram um churrasco, saímos pra jantar pizza... Nada que me empolgasse. Fiquei irritado mesmo quando meu pai disse que voltaríamos na terça à noite, porque quarta ele ia trabalhar e o Rogério também, e não dava pra confiar na sorte de pegarmos a estrada livre.

Cheguei em casa na quarta de manhã cuspindo marimbondo. O feriado já praticamente acabado e eu não tinha feito porcaria nenhuma! Tinha aula na quinta e na sexta porque a escola não podia parar por dois dias, né? Claro que não, a gente tinha que se matar de estudar mesmo, só assim teríamos um futuro...

Contrariando minha mãe, liguei pra todo mundo pra sair na quarta-feira de cinzas. Não tava nem aí se ela ia me colocar de castigo depois, ou sei lá. Queria aproveitar alguma coisa, poxa!

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now