Julho IX

285 40 6
                                    

O saldo da Festa Junina não foi nem satisfatório, nem negativo.

Acabei me encontrando com o Sander durante vinte míseros minutos. A parte boa é que estávamos sozinhos atrás do palco, no escurinho, e deu pra aproveitar todos os 1200 segundos direitinho. Ele ainda ficou super contente com o pé de moleque e me deu uns beijos a mais como pagamento.

A parte ruim é que nos esbarramos na Larissa de novo quando estávamos tentando voltar pra realidade, contornando o palco. A presença dela me irritou tanto na hora que eu peguei o gringo pela mão e o reboquei de perto, enquanto ela vinha atrás, querendo ser apresentada e saber se eu estaria livre mais tarde pra ficar com ela – e ela usou exatamente essas palavras, não estou suavizando nem nada. Ela foi bem direta e as sobrancelhas do Sander até se levantaram... Aí eu me virei, no meio da multidão e, me aproximando o máximo que dava sem definitivamente me encostar, rosnei:

– Estou e estarei acompanhado, Larissa. Não tá vendo?

Não tive tempo pra ficar e analisar a expressão dela, já que dei as costas e puxei o Sander comigo. O intercambista não reclamou – comentou absolutamente nada, aliás, só afagou meu braço como despedida e marcamos de nos falarmos no dia seguinte.

Na volta pra barraca do beijinho, ainda tive o desprazer de ver o Joel vomitando num canto. O Caíque segurava um copo com bicabornato surrupiado da cantina, e o Gustavo ora ria, ora reclamava pro Joel virar a boca pro outro lado. Os três tinham bebido além da conta, tava muito visível. Tanto que o Nasser veio dar aquela bronca assim que os viu. Saí de perto nessa hora e voltei pro meu cantinho, sossegado.

O domingo passou batido. A Bárbara dormiu na minha casa, então meus tios não foram almoçar por lá, pra ficar o mais longe possível da menina. Minha mãe foi leva-la pra casa de taxi, porque meu pai também não estava de bom humor. Aliás, a família inteira, porque o Rogério passou o domingo fora de casa, com os amigos dele, farreando por aí, e eu fiquei trancado no quarto, ouvindo música.

Quando a segunda-feira chegou, tinha até me esquecido de que seria a última semana de aula antes das férias de Julho. E que também entregariam as notas, as provas, fariam reunião de pais e mestres...

– Da escola direto pra casa – meu pai disse assim que me largou na porta do colégio na segunda. – E quero esse boletim na minha mão hoje à noite.

Pelo visto, o mau humor dele não tinha passado, e foi contagiante porque subi as escadas até bufando. Tive vontade de me jogar por cima da grade do corredor do segundo andar quando avistei o Nasser conversando com o pessoal do time, mas fui muito lento: ele me viu assim que pisei nos azulejos azuis e me chamou com um gesto de cabeça. Sua expressão era séria e imponente. Quando me aproximei, percebi que estavam falando sobre o campeonato de futebol, marcado para o mês seguinte.

–... não quero farra nem bebedeira, e muito menos moleza nessas férias. Nós vamos continuar treinando todos os sábados e duas vezes por semana, ok? – Nasser lembrava um sargento ditando as regras do exército, mas ninguém parecia muito incomodado. Ou talvez fosse só o horário mesmo. – Quem for viajar vai me trazer, assinado pelos pais ou responsável, esse bilhete até quarta-feira, entendido?

Ele passou um pedaço de papel carimbado para nós. Todos assentiram em silêncio, mesmo sabendo que esqueceríamos de metade das suas palavras uma hora depois. Notei o Sander ao lado dos gêmeos assim que o Nasser lhe passou o bilhete. Nossos olhares se encontraram e suas covinhas se afundaram, fazendo meu estômago revirar com uma ansiedade gostosa.

– Renan!

Dei um pulo no lugar e senti o JV rindo do meu lado, mas o Nasser demandava toda a atenção.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now