Julho IV

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Quando a gente é convidado em uma festa, nunca para pra pensar no trabalhão que dá arrumar e organizar tudo, né? Fala quantas vezes você já foi num aniversário, ou num casamento, ou numa feirinha qualquer mesmo, e isso nunca te passou pela cabeça? Bem, pelo menos na minha nunca tinha passado. Não até aquela sexta-feira antes da Festa Junina.

No ano anterior, eu tinha ficado boa parte do tempo dentro de uma barraquinha à luz de velas, sentado num trono forrado de veludo, todo confortável. Ah, e tinha aproveitado muito, viu?! A nossa barraca do beijo fez um baita sucesso, ainda mais tendo euzinho como o protagonista da coisa toda – logicamente que eu e a Carol, minha companheira de crime, recusávamos algumas coisas. Ela, que estava revezando comigo, não quis beijar um monte de cara lá. Era só beijo na bochecha, mas muitos deles pediam beijo na boca, aí ela apelava e saía. Eu considerava as opções: se a menina era gata e tava solteira, porque não, né? Mas só se tivesse solteira, não queria confusão pro meu lado!

Na época nem me passou pela cabeça se algum cara chegasse e pedisse um beijo pra mim... Isso não aconteceu, mas, se acontecesse, o que será que eu teria feito?

De qualquer forma, eu nem tive que fazer nada mesmo, e foi super engraçado, mas naquele ano seria completamente diferente. Principalmente pelo fato de que eu não tava a fim de beijar bochecha, muito menos boca alguma – tirando a do Sander.

E tirando o fato de que eu teria que literalmente trabalhar para colocar a festa em prática.

Na sexta-feira anterior, depois de almoçar, o pai da Karina foi nos buscar no colégio. Ele tinha um carrão no estilo, uma Mercedes grandona, então coube nós cinco. Meu pai teria pirado no carro, já que lá em casa a gente só anda de Audi por ele conseguir os carros a um preço mais camarada com o chefe.

Fui só eu no meio das meninas, o que tornou o trajeto um pouco constrangedor. A Karina foi na frente com o pai, daí fiquei espremido na porta e do meu lado veio a Juliana, velha companheira de colégio – conhecida desde que me entendo por gente, aliás. Também faziam parte do meu grupo a Alícia e a Ana Cláudia, ambas vieram pro colégio no ano anterior, então não tínhamos muita intimidade.

O bairro da Karina é super chique, bem frequentado e tal. Ela mora numa mansão de dois andares cercada por muros com cerca elétrica. Pouca gente mora em casa hoje em dia. A não ser em condomínios, tipo onde o Dani e o Carlos moram... O resto dos meus amigos mora tudo em prédios.

O assunto foi o tamanho do jardim da frente deles: devia caber umas duas quadras de futebol ali, sem brincadeira. Pra chegar na porta de entrada da casa, a gente passou com o carro no portão e o pai dela ainda dirigiu por uns cinco minutos na estradinha de pedrinhas brancas. O lugar era um sonho! Me deu uma tremenda vontade de morar numa casa daquelas!

Inclusive acho que, quando cheguei em casa, comentei isso em voz alta. Assim, numa das poucas vezes em que falava com minha mãe depois do domingo anterior. Ela resmungou uma resposta ininteligível.

Enfim. A casa não era espaçosa só por fora, mas por dentro também. O quarto da Karina ficava no segundo andar, mas nem cheguei a ver direito. Ficamos na cozinha mesmo, já que não tínhamos que mexer com caderno ou efetivamente estudar: nosso trabalho era preparar doce.

A anfitriã já tinha comprado todos os ingredientes. Ela solicitou à empregada que separasse tudo e, em vez de falar pra ela fazer, pediu que nos deixasse à sós na cozinha gigante da casa. Tipo, a Karina fazia questão que a gente mesmo fizesse os doces. Muita. Questão.

Fiquei meio nervoso com isso. Eu não sei fazer nada na cozinha, nem me interessa! Ia sair muita porcaria se dependesse de mim! E ela tinha uma cozinheira a seu dispor, por que não aproveitar?? Não fazia sentido.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now