Agosto V

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O domingo veio com mais um jogo.

Nada de novo: 3 a 1 para nós, obviamente. Passamos a noite num hotel no centro da cidade daquela vez, então o Nasser deixou que saíssemos para "conhecer as redondezas", nas palavras dele.

Não sei se ele sabia, mas não tinha absolutamente nada para conhecer ali. Só um trailer de sanduíche, um posto de gasolina e uma casa de forró que, por sinal, estava fechada. A cidade parecia morta e nosso ânimo também. O Joel deu a ideia de afogarmos as expectativas no bacon e na batata frita, e foi isso que fizemos. Claro, não sem antes o Carlos reclamar que isso era "coisa de gordo", que a gente era atleta, que tinha que cuidar da saúde, e blábláblá. Devo dizer que ele perdeu feio quando os gêmeos pediram um X-Tudo com o dobro de queijo, bacon e carne, com uma Coca grande para acompanhar. Comemos pra caramba e ainda pagamos uma mixaria – quase 10% do que pagaríamos se fôssemos comer no shopping, por exemplo.

– E aí, gringo, aposto que seus cachorros-quentes nem se comparam a isso aqui! – o Joel mostrou o sanduíche dele, pingando gordura. Sander riu e confirmou.

– Não mesmo. – ele também estava com um X-Tudo, sentado na minha frente nas junções de mesinhas de plástico que tínhamos colocado na calçada. Soltou uma risada gostosa, que me fez encará-lo, nossos joelhos se encontrando por debaixo da mobília, e continuou: – Não sei nem o que tem aqui dentro, mas está muito bom.

Na noite de domingo pra segunda, nós dormimos juntos numa cama de solteiro, já que o quarto era bem apertadinho e obviamente projetado para três pessoas dormirem separadas, né. Sander não se importou, porém, de ficar se equilibrando entre as minhas pernas e braços desajeitados. A gente demorou um bocado entre as risadas e mãos bobas; acabamos ficando quase sem roupa debaixo do edredom quentinho – bem, pra ser totalmente sincero, eu estava completamente sem, mas o gringo ficou de cueca em respeito ao Daniel. Não creio que este tenha se incomodado tanto, contudo, pois dormiu feito pedra depois do X-Egg Bacon que botou pra dentro com meio litro de Coca-Cola.

Tínhamos a segunda livre, íamos viajar somente de tarde, então o pessoal convidou umas meninas que estavam nos assistindo no dia anterior para dar uma volta. Não sei como conseguiram telefone nem nada, mas foi bem fácil. Fácil demais até. Era um grupinho de oito garotas, então alguns de nós ficaram sobrando.

Os reservas saíram ganhando logo de cara, porque uma menina e a prima dela não desgrudaram dos dois do primeiro ano! Do meu lado, o João Vitor resmungava porque as meninas eram "do mato" e feias pra ele, que tinha um "padrão bem refinado".

– JV, aquela garota ali se parece muito com a Maria Eduarda... – o Gustavo comentou enquanto caminhávamos atrás delas. João fez uma careta que contorceu até o cérebro dele, não duvido.

– Exatamente por isso tô dizendo que isso aqui tá uma merda. Não chega nem perto do meu padrão.

O Daniel, que andava uns dois passos na nossa frente, estancou completamente ao ouvir a frase. Eu tive que parar atrás dele para não atropelá-lo, as mãos meio que empurrando-o para seguir em frente.

Eu não sei o que estava acontecendo, mas, de uns tempos pra cá, o Dani havia ficado menos "tolerante", por assim dizer. Se antes ele fazia vista grossa pra qualquer comentário ou ação, agora eu podia vê-lo ferver, por fora e por dentro.

– Não seja hipócrita, João. – ele estreitou os olhos quando o amigo passava ao seu lado, fitando-o com certa incredulidade pela valentia do próprio Dani. – Você passou anos da sua vida correndo atrás da Maria. Não venha com essa agora porque todo mundo sabe que você fazia qualquer coisa pra ficar com ela.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora