Julho II

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Não consegui escapar da festa do Miguel e fui com minha mãe, meu tio e a mulher dele assistir meu primo dançar quadrilha. Foi super chato, na verdade. Fiquei sentado na mesa comendo cachorro quente a noite toda. Encher o estômago me ocupava de pensar, se é que isso faz sentido.

Minha mãe ficava conversando com a Andressa, mãe do Miguel, e eu me mantinha afastado, jogando no celular ou mastigando. Ou os dois ao mesmo tempo.

Mesmo estando todo confuso e irritado, mandei umas mensagens pro Sander nesse meio tempo. Eu sabia que provavelmente estaria ocupado, mas, para minha alegria, ele me respondia quase que imediatamente.

Sander: Vai ter todas essas comidas na nossa festa?

Renan: Acho que sim. O que vc ta comendo aí?

Sander: diz minha mãe que se chama "pé de moleque"...

Renan: Não é um nome estranho?!

Sander: é o que estou pensando que é??

Renan: acho que sim kkkk

Renan: no que você tá pensando?

Sander: pés.

Ele me fez gargalhar para o telefone. Minha mãe e minha tia me olharam desconfiadas, e a senhora Fabiana perguntou com quem eu estava conversando, que visivelmente me afastava o mal humor.

– Um amigo – eu respondi, mas ela estreitou os olhos.

– Sei, "amigo" – e se virou pra Andressa, como se eu não estivesse presente. – Sabe que ele anda todo cheio de compromissos ultimamente? Saindo todo arrumado, perfumado... Pra mim isso tem outro nome...

– Vai apresenta-la pra gente quando, Renan? – Andressa riu enquanto bebericava seu refrigerante.

Fiquei sem responder, ponderando qual alternativa seria a melhor solução.

Passou pela minha cabeça sim, não vou negar, em dizer a mais pura verdade. Confesso também que a ideia a princípio era só pra ver a reação da minha mãe. Acho que ela surtaria. Tipo, surtaria muito.

A imagem na minha cabeça era engraçada, mas igualmente preocupante.

Então desisti. Mesmo porque isso me causaria muitos problemas por agora e eu nem saberia exatamente o que dizer... Sabe, "Ah, eu tô de rolo com um cara aí" nem se encaixava exatamente na atual situação, encaixava? Ela já conhecia o Sander, não dava para "reapresenta-lo" como nada além de meu amigo, porque era isso que nós éramos, afinal de contas. Amigos um pouquinho íntimos demais, talvez.

Amigos com benefícios? Era um termo assim que usava lá no país do gringo, né?

Como se conjurada por um demônio ou algo assim, uma mensagem diferente apontou na tela do meu telefone, me fazendo ignorar a conversa momentaneamente. O número era desconhecido, mas o conteúdo era bem particular, digamos.

"Oi, gatinho! Adivinha quem é?! Saudades, vamos nos encontrar? Milhões de bjs!"

Não tinha assinatura, mas só uma pessoa me chamava daquele jeito. Meu coração até parou de bater por um momento... Pensei que tinha salvo meu número de ser assediado, mas, como sempre, ela acabava descobrindo uma forma de me encontrar.

Larissa.

É lógico que eu a ignorei, mas as mensagens continuaram chegando. Bloqueei o número de celular, mas aí ela começou a mandar pelo WhatsApp. Silenciei o negócio, coloquei o número na lista negra, mas tive a absoluta certeza de que ela tentaria de diversas outras formas.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now