Julho XI

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– Você veio só me desejar feliz aniversário?!

Mas que pergunta mais idiota, né, Renan? Às vezes fico impressionado com a minha falta de inteligência, fala sério.

Sander riu quando eu questionei, de novo, como ele estava ali, na quinta-feira, já que só chegaria no próximo domingo.

– Não, desculpa – ele riu de novo, encostando a testa em mim. Como nossas alturas eram ligeiramente diferentes, a boca dele beijou meu queixo no processo e me fez rir também. – Desde o começo pedi pros meus pais adiantarem a volta para hoje. Não contei porque queria fazer surpresa. Você fez a mesma coisa no meu aniversário, lembra?

Abracei-o mais forte e ficamos assim por alguns minutos, em silêncio, ouvindo as batidas dos nossos corações descompassados.

E então me lembrei de que o porteiro poderia dedurar a visita do Sander para o meu pai. Fechei os olhos e fiz uma careta.

– Seus pais ainda estão viajando? – o gringo perguntou e eu afirmei. – Então... você está sozinho?

Respirei fundo. Aquele seria o momento perfeito depois de todas as... hm, coisas que estavam acontecendo entre a gente desde o aniversário dele. Poderíamos ficar sossegados em casa, curtir, sabe? Se eu não tivesse a nítida certeza de que seria dedurado.

Expliquei mais ou menos o "castigo" em que estava enfiado, e em como o porteiro e a empregada viraram espiões do meu pai, mas o Sander não se deixou abalar. Como quem já tinha pensado numa solução antes de simplesmente aparecer ali, ele se virou e disse:

– Eu cheguei dizendo que era uma emergência. Digo que perdi minhas chaves, que não tenho como avisar meus pais porque ficaram para trás na viagem, resolvendo coisas de trabalho...

Só então reparei que ele estava, de fato, com uma malinha pequena à tiracolo. Ela se encontrava jogada de qualquer jeito perto da porta. O gringo literalmente viera do aeroporto pra minha casa, sem escalas.

Senti meu coração acelerar.

As sobrancelhas dele se levantaram em expectativa.

Sério mesmo que aquilo estava acontecendo?

– Você quer ficar...? – sussurrei, chegando mais perto de seu ouvido. Senti seu sorriso antes de vê-lo.

– Era essa a intenção, na verdade.

Então aquilo estava definitivamente acontecendo.

Num acordo mútuo, resolvi não interfonar o porteiro pra dizer que o Sander ficaria. Fingiríamos que tínhamos esquecido e sei lá, torcer pra que a fúria do Nelson já tivesse passado quando voltasse.

Eu ainda tinha argumentos a meu favor: não haveria aula na sexta, já tinha entregue todos os trabalhos, e estudar para a prova era a última coisa que faria naquela noite – com ou sem a presença do Sander. Eu estava disposto a arriscar uma segunda briga com meu pai, ciente de que estava fora de cogitação ir mal na prova da recuperação. Mas eu tinha estudado muito nas últimas semanas: meu esforço tinha que ter uma recompensa, certo? E se eu não tivesse aprendido nada nelas, não seria em menos de 24 horas que aprenderia.

Sander estava com fome, então aproveitei a comida que a empregada tinha feito para dividir com ele. Pudemos comer na cozinha mesmo, os dois sentados na bancada de mármore, os joelhos se tocando, as mãos brincando com nossas peles. Os dois rindo das coisas que ele me contava da viagem, das descobertas que ele tinha feito...

– Quem descobriu o Brasil foram os portugueses, certo? – ele comentou, entre uma garfada e outra de estrogonofe e batata palha. Ri antes mesmo de saber o que viria em seguida, passando a mão pelos poucos fios de cabelo que ele cultivava... Espera, estavam crescendo! – Então. Tô me sentindo muito português.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now