Dezembro VIII

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Saí do torpor quando tive que descer do carro e subir para o apartamento. Mesmo consciente de que eu precisava fazer outra coisa pra me distrair, ao chegar em casa me enfiei no quarto para me afundar no meu drama, mas meu irmão logo abriu a porta e começou a fazer estardalhaço, ligando música alta, dizendo que era pra eu levantar e ajudar a mamãe na cozinha, já que a empregada estava doente.

– Aff, por que você não vai?! – xinguei. – Me deixa curtir minha fossa sozinho, que coisa!

A barulhada continuou por um tempo, mas depois veio o silêncio de repente. Fechei os olhos e respirei fundo.

– Renan, levanta. – Rogério entrou no meu quarto e cutucou meu pé. Eu o ignorei, ele suspirou audivelmente. – É sério. Você acha que ele ia querer te ver assim?

Meu coração se apertou todinho, como se tivesse se esmagando dentro de mim. Engoli o nó da garganta e ele bateu fundo no meu estômago vazio.

– Anda, vou planejar o roteiro da viagem de fim de ano. Vem me ajudar.

– Nem...

– Anda, Renan! – ele trincou os dentes e eu até ri sob o travesseiro. – Anda, senão vou fazer questão da gente ir pra cachoeira e dormir lá, tomar banho na água geladinha que eu sei que você adora...

Tirei o travesseiro da cara.

– Eu não vou com vocês.

Ele revirou os olhos.

– É claro que vai.

– Mas eu não tenho o dinheiro todo, não consegui economizar... – na verdade, eu tinha gasto o resto das minhas mesadas guardadas no presente do Sander. Nem me lembrava da viagem com os amigos dele.

Rogs bufou.

– Eu vou inteirar pra você. – nós nos entreolhamos e ele encolheu os ombros. – Meu presente de Natal, já que não vou te dar nada mesmo.

Pisquei. Na verdade, a gente raramente trocava presentes na família. Quando mais novos, nós dois no máximo nos juntávamos pra dar algo pra mamãe, mas a tradição murchou quando nosso pai parou de querer ir conosco escolher.... O pensamento me fez refletir se, já naquela época, o senhor Nelson não estava cansado da rotina do casamento...

– Você merece. – foi o que escutei meu irmão murmurar antes de dar as costas e sair do meu quarto.... Só por uns três minutos, só pra que eu assimilasse o que ele tinha dito, e depois voltasse bufando de novo: – Levanta essa bunda daí, estrupício! Tô te esperando na sala de jantar! Para de fazer drama!

***

O ano estava no fim. Nos dias seguintes, eu consegui aproveitar um tempo comigo mesmo, fazer um balanço geral e me acostumar com várias coisas que aqueles últimos 12 meses haviam me trago... Por exemplo: que meu pai não estaria conosco no jantar de Natal – ele não deu satisfação, não que eu saiba, mas desconfio que tenha ligado pro Rogs na véspera. Não soube dizer, porém, onde ele passou a data ou se sequer chegou a nos desejar algo; vou confessar também que não fez muita diferença, era só um prato a menos na mesa.

Tampouco passaríamos o ano novo na praia, pulando onda, já que as viagens nos custariam muito e mamãe decidiu que preferiria a companhia do travesseiro à balada...

O fim do ano trouxe o estouro de outra bomba: que meu tio Fábio e a Andressa estavam pensando em se separar também – sim, notícia que os dois resolveram nos dar no fim daquela semana, apesar de ainda estarem considerando fazer "terapia de casal" para evitar maiores problemas para o Miguel depois... Mas, olha, na minha humilde opinião sincera: o maior problema do Miguel será se ele continuar com os pais do jeito que estão, né?

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ