Janeiro ∞

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Enviado em: quinta feira, 01 de janeiro (08:33 pm)

De: Sandy.wolliner@freetalk.us

Para: renan_souza171@mail.com.br

Assunto: Happy New Year!

Hey, hot Brazilian guy :)

Como passou o fim de ano? Aproveitou a virada?

Fui com o Kevin e a Madison a uma queima de fogos num lago que tem na saída da nossa cidade. Todo mundo estava lá, praticamente. Eu tinha me esquecido de como é esquisito, se comparado com vocês, o modo como nós, os americanos, celebramos as coisas... Cada um no seu mundinho, pouca gente se mistura. Por exemplo, havia obviamente o grupinho das líderes de torcida, e outro dos jogadores de futebol... Eles ficam o tempo todo separados, só quando vão embora é que cada um sai rebocando uma garota diferente...

Não cheguei a comentar, cheguei? Todos os meus antigos colegas, pelo menos os que efetivamente conversavam comigo durante as aulas, me perguntaram se eu estava falando espanhol fluentemente. Acredita? Eu disse que não, que no Brasil se fala português, e eles ficaram debochando, dizendo que obviamente sabiam daquilo, que era brincadeira e tal...

Me lembrei de como comentavam aí comigo que os americanos sempre tentam sair por cima. Eu nunca havia reparado em como isso acontece até nos pequenos detalhes...

Fiquei feliz por perceber que nem todos os americanos são assim, porém, porque a Madison até aprendeu algumas palavras em português para tentar conversar comigo – achei o ato muito bonitinho, mas não disse isso a ela. Talvez eu devesse, não é?

Talvez eu fale. Ela merece ouvir.

Bem, ainda no Ano Novo, Kevin dirigiu pela cidade para me inteirar de algumas novidades, mas eu fiquei o tempo todo prestando atenção em como não existem baladas ou boates por aqui: parece tudo meio chato porque todas as festas são nas casas, nos jardins, quando os pais de alguém saem... Sempre às escondidas!

Isso também me levou a refletir se não era um hábito nosso guardar as coisas, sabe? Fingir, omitir...

Então, estávamos prestes a entrar numa loja de conveniência pra comprar uma bebida, porque a Madison não parava de dizer que precisava beber para sobreviver àquela noite, quando eu disse:

– Vocês sabiam que eu sou gay?

Kevin pisou de supetão no freio, quase bati a testa no vidro da frente! Ele me olhava e as sobrancelhas sumiam por debaixo do capuz que usava. Ah! Não nevou, mas estava com certeza abaixo dos 5ºC porque a superfície do lago estava congelada, apesar de não ser suficientemente segura para esquiar...

– Mas é claro que a gente sabia, seu idiota. – do banco de trás, a Madison resmungou e lascou um tapa no ombro do Kevin. – Agora acelera de novo que a loja vai fechar e vocês vão se arrepender! Eu que não serei responsável por qualquer ato sóbrio que fizer hoje...

E foi isso.

Ele acelerou, nós compramos a bebida, e voltamos para o lago. A Madison não acabou fazendo nada de mais, só reclamou da vida, mas também se empolgou com nossos planos de dali uma semana começar nossa road trip.

Mas lá no lago eu vi a Suzy beijando um cara pela primeira vez – não era a primeira vez dela, eu fiquei sabendo depois, mas devo dizer que foi deveras desconfortante ver que minha irmã mais nova não era mais tão novinha assim.

Deu pra perceber o quanto esse tempo longe foi ao mesmo tempo difícil e necessário pra mim?

Eu jamais teria tido coragem de dizer o que disse no carro, com o Kevin e a Madison, meus melhores amigos desde criança. As pessoas que eu mais deveria confiar...

Eu jamais teria sido conivente com o namoro da Suzy, muito menos quando ela disse que ele era um cara do último ano colegial – ou seja, da minha idade –, mas que eles estavam saindo há uns dois ou três meses. Ela teve receio de contar pra mim, mas até minha mãe sabia porque o cara – o nome dele é Derek – já até frequentava a nossa casa!

Eu jamais teria conseguido fechar os olhos e agradecer por tudo o que aconteceu nos últimos onze meses da minha vida se não tivesse me dado a oportunidade de vive-los.

E eu queria que você soubesse que, quando os fechei, antes dos fogos estourarem no céu, em frente ao lago de uma cidade interiorana dos Estados Unidos, eu pensei em você.

Mais que isso, eu agradeci por ter conhecido você, por ter me feito perceber e viver todas essas coisas, algumas vezes direta e outras indiretamente.

Então, como não conseguimos nos falar por telefone, e eu acho naturalmente que nos falaremos cada vez menos, este e-mail é pra te agradecer diretamente dessa vez: obrigado por fazer parte da minha vida. E também é pra pedir que não desapareça dela.

Vamos combinar uma coisa? Você definitivamente vai ter que se acostumar a usar mais o seu e-mail, ok? Independente dos nossos compromissos, conosco ou com outras pessoas, independente do celular... Vamos nos manter assim, por favor. Você aí, eu aqui, e as palavras que às vezes não dizemos em voz alta, mas conseguimos escrever.

Que esse ano seja repleto de memórias maravilhosas para nós dois, juntos ou separados.

Amo você, Renan Souza, por ter me amado de volta e me permitido ser eu mesmo pela primeira vez na vida.

Com carinho,

Sander Wolliner.

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Agora é oficial: chegamos ao fim, depois de mais de um ano de postagens, depois de 75 capítulos! Renan, Sander e eu agradecemos quem nos acompanhou até aqui :)

Há um capítulo extra, mas só vou postá-lo quando o próximo livro for divulgado aqui, tá? Então fiquem de olho. E já podem começar a cogitar de quem será a próxima e última história da série "Aprendendo"!


Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now