Dezembro IV

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Na quarta-feira nós almoçamos no shopping, com direito a várias sobremesas – bolo de cenoura, brigadeiro, doce de leite, sorvete... E fomos ao cinema depois. Não me lembro que filme era, não importava. Saímos aos tropeços, de mãos dadas, risadas infinitas e o coração ficando aos pedaços pelo meio do caminho...

Na quinta-feira, ao acordar, minha mãe disse que haveria reunião no colégio para a entrega dos boletins. Nem me lembrava mais da existência dele, e ela perguntou se deveria esperar alguma surpresa, ao que eu respondi que não.

– Tenho certeza de que passei direto... – pigarreei. – Dessa vez.

– Assim espero... – ela suspirou enquanto se arrumava. – Vou me encontrar com o advogado. Mandei a empregada fazer algo pra você.

– Não precisa, vou almoçar fora.

Ela me olhou de soslaio e resmungou um "de novo?", mas logo deixou o assunto morrer, dizendo que estava com pressa.

– Nos vemos a noite então? Volte para casa hoje, por favor.

Assenti e ela saiu sem muita cerimônia.

Naquele dia, Sander disse que chamaria o Daniel para nos fazer companhia, perguntando antes se eu não me importava de dividi-lo mais um pouco.

– É claro que não. – eu respondi, afirmando que era brincadeira o que eu tinha dito ao Joel no começo da semana. Afinal, o Dani fazia parte daquilo quase tanto quanto eu.

Por falar no Joel, ele tinha sido liberado para ir pra casa naquela quinta também e, já de posse de um celular, me mandou uma mensagem perguntando quando o gringo ia embora, já que queria se despedir. Tomei a liberdade de convidá-lo para a festa surpresa de despedida, apesar de o Joel não ter confirmado.

Nos encontramos com o Dani na pracinha perto da escola e fomos andando tranquilamente para o apartamento do gringo. Compramos mais sorvete, olhamos as vitrines das lojas, conversamos sob o sol quente de Dezembro...

– Aposto que se tem uma coisa que você não vai sentir falta é desse calor insuportável. – Daniel comentou, ao que o Sander riu.

– Que nada; quanto tiver uns dez graus abaixo de zero com certeza vou querer estar aqui, andando todo suado com vocês.

– A gente pode trocar, eu não me importo.

– Nem eu. – concordei e eles sorriram pra mim. – Que você troque com o Daniel, é claro. Ele vai e você vem. Perfeito.

Levei um safanão na nuca, mas os dois riram até a gente subir para o que ainda seria o lar do gringo pelos próximos cinco dias. Lucas estava na casa de um colega da escola e os pais dele não haviam tirado férias, apesar de que provavelmente algum deles iria ao colégio pegar o boletim do Sander... O fato é que tínhamos o apartamento só pra nós.

Isso queria dizer que a gente podia se beijar e se agarrar o tanto que quiséssemos, mas.... não sei. Desde seu aniversário, tinha alguma coisa no Daniel Henrique que fazia nós dois, eu e o Sander, querer meio que mimá-lo, sabe? Deixá-lo fazer parte, confortá-lo, sei lá. Era uma vontade esquisita, mas eu sabia que ambos compartilhávamos porque em vez de nos sentamos agarrados um ao outro, o Daniel estava sempre no meio. Em vez de nos abraçarmos, meus braços estavam sempre em volta do pescoço do Dani, e as mãos do Sander brincavam com os dedos dele. Nossas conversas eram divertidas, nossas frases se encaixavam.

A gente se completava.

Mas era algo ainda mais esquisito que isso, porque, mesmo separados, ainda nos sentíamos juntos. Não precisámos do toque ou do gesto, muito menos de cobrança alguma sobre essa amizade esquisita. A gente só precisava do pensamento, do querer, do gostar, do lembrar... Nós, os três.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now