Setembro II

206 33 20
                                    

– Você nunca mais veio ver a gente!

Lucas estava de braços cruzados e um beiço enorme quando o Sander abriu a porta pra mim no sábado. Preferi subir até o apartamento pra cumprimentar os pais dele e lutei pra não cair na risada ao ver o menino. O gringo, por outro lado, soltou a gargalhada sem piedade.

– Ele vai vir outro dia, tá? Hoje não. – e esfregou a cabeleira dele, dando um tchau e me empurrando pro elevador sem nem me dar a chance de falar um oi com os mais velhos. – Minha mãe está no banho e meu pai desceu pra ver uma coisa no carro. Você não ia encontra-los de qualquer jeito...

Sozinhos na caixa de metal, nós nos fitamos por um segundo antes que eu o puxasse para um beijo. Dois, três, nossa respiração misturada e apressada, os números dos andares passando rapidamente pelo visor. Uma bomba-relógio.

– Desculpa. – murmurei entre um selinho e outro. – Pelo meu irmão.

Ele revirou os olhos e me beijou de novo antes que a contagem acabasse.

Já no térreo, meu celular vibrou indicando uma mensagem recebida e, antes mesmo de sacá-lo pra checar, a gente avistou o Daniel de pé na portaria. O carro do Rogério estava estacionado do outro lado da rua, então pudemos nos cumprimentar antes de encontra-lo. Quando o Dani soube que meu irmão ia nos levar, ele arqueou as sobrancelhas e deu um cutucão no intercambista.

Fui no banco do passageiro e o Dani e o Sander no banco de trás. Na hora de se cumprimentarem, meu irmão esticou a mão pra apertar a dos dois, mas ficou meia hora encarando o gringo, o que me deixou nervoso e me fez dar um pequeno show.

– Meu Deus, quer parar com isso?! – eu reclamei, puxando o braço dele de volta. Rogério fez uma careta. – Pronto, agora você já sabe quem ele é. Satisfeito?

– Foi você quem deu a ideia! – ele retrucou.

– É, mas só porque eu sabia que na sua cachola de merda tava se passando um monte de porcaria! E se não visse com os próprios olhos ia continuar imaginando bobagem!

– Você é louco, Renan! – ele tentou se defender, mudando de assunto.

– Temos o mesmo sangue, então a loucura é de família. – eu mostrei os dentes, cínico.

Do banco de trás, ouvi a risada abafada do Sander e dei uma espiada pra encontrar os olhos do Daniel triplicados de tamanho. Eu me virei pra ele e mandei:

– Rogério sabe. – ele fez uma cara de espanto, olhando de soslaio pro gringo, e eu acrescentei: – E ele sabe que o Rogs sabe.

Sander assentiu, encolhendo os ombros. E foi a vez do meu irmão se enfiar na conversa de novo:

– Espera, seus amigos todos sabem dessa sua... ?! – ele não terminou a frase. Não sei se eu o atropelei, mas a minha impaciência era grande.

– Não. – me ajeitei no banco, prendendo o cinto. – Só o Daniel.

O carro ficou em silêncio por algum tempo até o Rogério soltar, se dirigindo diretamente ao gringo:

– Então. Você fala inglês?

Eu ia retrucar a pergunta retardada, mas daí o Sander respondeu:

Yes, sir. – e a gente caiu na risada.

***

Ao contrário do que eu pensei que seria, o Rogério não comentou nada sobre o gringo e os dois se deram bem até, sabe, naquela convivência normal e tal. Não que eu estivesse preocupado com isso; não quero agradar ninguém, e nem o gringo tem que agradar alguém, né, mas é mais fácil assim. Menos um problema.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now