Julho X

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Descobri uma coisa em que sou bom: em predizer catástrofes.

Acertei direitinho a reação do meu pai: quando cheguei em casa na segunda-feira de tardinha, ele estava me esperando, sentado à mesa de jantar com minha mãe. Eu não fazia ideia de que a diretora da escola já tinha conversado com eles e, pior, tinha enviado um telegrama para avisar da reunião de pais e mestres.

Sério. Telegrama. Que tipo de pessoa ainda faz isso hoje em dia?!

Ele gritou, lógico. Gritou literalmente, perdeu a compostura mesmo. Minha mãe ficou calada, porém, sentadinha observando seu marido tentar "colocar algum juízo na minha cabeça", como Fabiana costuma dizer. Meu pai fez um discurso épico sobre responsabilidade e não sei mais o quê, maior e mais enfático que o do Nasser, com direito à tapas na mesa de vidro de vez em quando.

Eu só sentei e ouvi com as orelhas abaixadas... até chegar na parte da punição.

– Vou te buscar todos os dias – ele começou. –, você vai estudar todos os minutos em que estiver acordado! Já conversei com seus professores e eles passarão exercícios extras pra você fazer em casa depois das aulas de recuperação, então não tem desculpa.

Como assim exercícios extras?! Meus olhos dobraram de tamanho, mas ele ainda não tinha terminado:

– Sem viagem, sem piscina, sem videogame. Tá entendido, Renan? – ele não me deixou nem balançar a cabeça e emendou: – E estou confiscando seu celular também, passa pra cá. Anda! E sem internet, já tirei até o cabo do computador do seu quarto. Vai usar só se precisar fazer alguma pesquisa e terá que fazer isso na minha frente, usando o meu notebook. Nada de facebook e essas palhaçadas aí!

Parei de raciocinar direito quando ele disse "confiscando seu celular". Não, não! Cheguei a implorar! Afinal, como eu ia falar com o Sander?! Ele estaria fora da cidade, nem nos veríamos mesmo! O mínimo que eu podia ter era a comunicação, mas o senhor Nelson não deu o braço a torcer.

– Você acha que sou trouxa, é? Filho meu não vai reprovar em escola nenhuma, tá me entendendo, Renan?! Não foi essa a educação que te dei! Quero essa porcaria aqui – ele pegou o boletim, a essa altura já nas suas mãos como a prova do crime. – brilhando da próxima vez! Tem ideia da humilhação que é ter que ir na sua escola conversar com a diretora sobre essas notas em vermelho? Não, acho que você não faz nem ideia! Porque não consegue nem se comprometer com a única obrigação que tem! Vai ser um fracasso na vida desse jeito, tá me entendendo?! Um fracasso!

– Meu bem... – a voz da minha mãe veio acompanhada de um toque no cotovelo dele. Só assim meu pai parou para encará-la, a fúria visível pelo peito que subia e descia, a respiração acelerada.

Meus olhos ardiam e minha boca tremia de vontade de responde-lo, mas me mantive o mais imóvel possível. Inclusive não reagi à surpresa de ver minha mãe meio que me "defendendo"...

– Cansei de brincadeira. – Nelson voltou a falar, a voz um tico mais calma. – Se em agosto essas notas não estiverem cem por cento perfeitas, você não vai nem nesse tal campeonato de futebol.

E saiu, me deixando espumando de raiva.

O resto da semana foi uma tortura porque os professores pareciam dar uma atenção exagerada a mim, e isso me incomodou em níveis extraordinários. Meu estresse me fez explodir várias vezes com o Daniel, mas ele foi mais compreensível do que o imaginado. Novamente me ofereceu ajuda com os estudos e me indicou uns sites pra planejar minha rotina... O problema era que não poderia usar a internet, e contei isso pra ele também. Minha chateação maior, porém, estava no fato de que ficaria sem celular.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora