Abril III

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Meus pais normalmente implicam com minhas saídas – só quando vou com o Rogério e ele diz que vai "ficar de olho em mim" é que eles relaxam um pouco. Não sei o que se passa na cabeça dos dois, porque, convenhamos, é mais fácil eu ficar de olho no Rogério do que ele em mim. Na vez que ele quase entrou em coma alcoólico quem o acompanhou ao hospital fui eu; e quem teve que mentir pra mamãe dizendo que tínhamos passado a noite na casa de um amigo dele também fui eu...

Enfim. O fato é que, naquela quinta-feira véspera de feriado, eles não disseram nada quando eu me aprontei pra sair. O Rogs estava em casa, falando ao telefone com alguém sobre qual carro usar, o dele ou o do fulano do outro lado da linha, mas eu cheguei no quarto dos meus pais e disse que já estava saindo.

– Não vai esperar seu irmão? – minha mãe perguntou. Eu neguei e disse que não ia para o mesmo lugar que ele. – Não?

– Não, mãe. Vou sair com um amigo pro Bar da Copa.

Meu pai simplesmente se esticou na cama, pegou a carteira e tirou de lá uma notinha verde, passando-a pra mim sem muitas palavras. Diz ele que era pra eu pegar um taxi pra volta e pra pagar a conta. Subi as sobrancelhas e saí do quarto quando vi que eles não tinham mais nada a acrescentar.

O que um boletim bom, todo verdinho, não faz, né?

Pensei em subir pra casa do gringo andando mesmo, mas não queria chegar suado, então combinei que chamaria um taxi e passaria lá pra já irmos direto. Ele desceu sozinho até o hall e entrou no carro, inundando o interior com um perfume super refrescante. Eu até respirei fundo, me sentindo meio embriagado. O cheiro era muito bom.

Americanos não tem muito senso de estilo, não que eu saiba, mas acho que os quatro meses no Brasil deixaram o Sander mais atento pra essas coisas. Ele tava usando até um sapatênis arrumadinho, um bermudão de cor escura e uma camisa de gola V. Super ajeitado. Eu vestia uma coisa bem parecida, tirando o fato de que estava de calça e não de bermuda, e que tinha nos pés uma chuteirinha society mesmo.

Ele me cumprimentou todo sorridente e fomos comentando umas bobagens no caminho, só pra não deixar o ambiente em silêncio. Nós chegamos ao bar rapidinho e logo o riso dele se alargou. O pub era num nível abaixo da rua, então na entrada não dava muito pra ver o interior, só que, já na porta, a decoração se destacava. O chão era daqueles tapetes verdes que imitam grama, sabe? As mesas eram quadradas e a pintura era de um campo de futebol. As cadeiras eram redondas como bolas e, nas paredes, posters com fotos oficiais de times, uma estante com taças e medalhas, um telão que passava os melhores momentos dos melhores jogos da história... Um capricho só. Imagino que o dono deva ter gasto uma fortuna com o bar, mas era por pessoas como o Sander que devia valer a pena.

O gringo só faltou me abraçar de verdade dessa vez. Sério. Se eu tivesse dado mais abertura, acho, ele teria feito...

Nós nos sentamos em uma mesa perto da estante de troféus e ficamos conversando sobre tudo. Contei as coisas que eu sabia sobre as fotos das paredes, os jogos que passavam no telão; mostrei o totó pra ele e insisti pra gente jogar uma partida.

– Se eu não sei jogar em campo com os pés, quanto mais com as mãos! – riu, mas eu o reboquei para a mesa e expliquei como funcionava os comandos.

No fim das contas, o Sander se saiu (muito) melhor no pebolim que numa partida de verdade de futebol! Ele me derrotou facilmente, e olha que eu tava me esforçando!

Nós bebemos refrigerante de guaraná, pedi uma porção de carne na chapa com fritas e cebola; devoramos tudo rapidamente! Nem vi o tempo passar no meio das nossas risadas e brincadeiras. Tava tão bom que eu me recusei a olhar no relógio, mas, em certo momento, percebi que já estava ficando meio tarde.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now