Junho II

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O dia doze de Junho caiu numa quinta-feira, infelizmente. Não podíamos deixar a data passar despercebida mesmo com a necessidade de ir ao colégio na sexta, então nossa festinha surpresa do intercambista da nossa escola teve de contar com um horário limite de duração. E um monte de gambiarra no processo.

– Até as dez e meia – o doutor Alfredo nos recomendou. – Podem fazer no salão de festas, mas esse é o horário que eles permitem o som durante a semana...

Eu e o Dani tínhamos, de fato, ido falar com eles naquele mesmo dia da conversa na quadra da escola. Acabei não entrando muito em detalhes, mas contei que eu já conhecia a família brasileira do Sander toda, e que podia deixar a conversa comigo. Foi exatamente o que ele fez, inclusive.

– E se fizéssemos aqui em cima mesmo? – eu dei a ideia. – Quero dizer, é uma surpresa, afinal. Ele com certeza vai ficar muito mais surpreso ao abrir a porta de casa e dar de cara com a gente...

O Daniel concordou e acabamos nem tendo que convencer o doutor e a Carmem, porque eles também preferiram assim. Dessa maneira, também poderiam ajudar com a decoração e participar, nem que fosse um pouco, da festinha. Lógico que eles estavam cientes de que seria um bando de adolescentes bagunceiros na sala de jantar de seu apartamento, mas acho que isso não foi um grande empecilho pra ideia passar na aprovação.

A Natália, a Isa e a Camila se juntaram às meninas do terceiro ano pra fazer a decoração. Aproveitaram que as lojas estavam vendendo coisas pro dia dos namorados e compraram um monte de bugigangas coloridas, fitinhas, brilhos e não sei mais o quê, e empanturraram a sala da Carmem com isso. O Lucas ficou todo empolgado e surripiou um bocado de material pra fazer "castelos e arminhas" no quarto dele. Melhor assim, não queríamos que ele ficasse perambulando entre a gente.

Isso tudo aconteceu na quinta à tarde, quando a gente matou as aulas todas depois do almoço e foi para a casa dele sem que o Sander soubesse.

Mas antes, na quinta de manhã, foi um esforço hercúleo evita-lo. A gente tinha combinado que fingiríamos esquecer que o aniversário dele era naquele dia, mas, poxa, como que eu ia esquecer? A primeira coisa que fiz ao acordar foi pegar o celular pra mandar uma mensagem, mas tive que conter meus dedos de digitar qualquer coisa.

Foi doloroso. Cheguei atrasado à primeira aula pra evita-lo no corredor ou na escada; na hora dos intervalos eu me enfiei no banheiro, e tive que contar com a ajuda do Daniel, dizendo que eu estava com dor de barriga.... Olha a vergonha que eu tava tendo que passar!

Por via das dúvidas, deixei meu telefone desligado o tempo todo. Só na hora de avisar em casa que ia chegar tarde é que eu voltei a mexer nele. A primeira coisa que apareceu foi uma sequência de mensagens... de quem?

Sander: Oi (hoje, às 06:43 am)

Sander: Você veio ao colégio? (hoje, às 08:11 am)

Sander: Tá passando mal mesmo? (hoje, às 08:55 am)

Sander: Não te vi hoje a manhã inteira. (hoje, às 11:30 am)

Sander: Podemos nos encontrar mais tarde? Pode ser rápido. (hoje, às 12:59 pm)

Eu me senti péssimo por tê-lo ignorado deliberadamente, mas esperava que tudo fosse explicado em poucos minutos, quando ele chegasse da escola.

Os gêmeos e uns outros colegas o tinham levado para uma volta no shopping ou coisa assim, pra distraí-lo, e o combinado era que eles aparecessem em casa às seis e meia mais ou menos. O relógio marcava seis e quarenta e sete e eles ainda não tinham chegado; as meninas estavam comendo os docinhos que a Carmem tinha preparado, e uma boa parte do time de futebol se concentrava em frente à TV para assistir um jogo qualquer – pra ver o quanto eu estava distraído, nem o futebol me chamava atenção!

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now