Julho I

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Quando acabamos as provas, no fim de Junho, os professores passaram a lista de tarefas para a Festa Junina. Nos dividiram em grupos aleatórios e colocaram um prazo de cinco dias para estar tudo devidamente acertado para o evento.

Cinco. Dias.

Para completar, a sorte não foi muito favorável para com a minha pessoa. Não é o que dizem, que quando a gente tem sorte no jogo, nas outras esferas da vida a coisa sempre desanda? Não sei no amor, até então não tinha do que reclamar, mas no resto...

– Cara, cê ficou no pior grupo da nossa sala! – o João Vitor comentou assim que a gente saiu pro almoço, depois do sorteio que fizeram. Eu me mantive calado, soltando a fumaça do vulcão em erupção pelas ventas. – Vai ter que aturar todas as meninas te enchendo o saco o tempo todo! Imagina na hora que vocês forem fazer os doces!

Eu tinha sido alocado num grupo de quatro garotas. Nós ficaríamos responsáveis pelos beijinhos, aqueles docinhos de coco, sabe? Na primeira oportunidade que tiveram, na hora do sorteio mesmo, elas já vieram me falar que fariam tudo em casa, pra ficar com "gostinho especial", seja lá o que isso quer dizer.

Daí que minha mão de obra seria requisitada para enrolar os doces.

Não tive onde enfiar a cara de tanta frustração.

Digo, nem sei o que podia esperar de um trabalho para a Festa Junina, mas com certeza não era passar o dia enrolando docinhos com quatro garotas da minha sala. Eu nem conversava direito com elas, não eram do meu círculo, saca? Ia ser muito chato e não teria ninguém pra me salvar.

No restaurante, na hora do almoço, o pessoal tava super empolgado, o que me deixou ainda mais nervoso... Aparentemente o segundo ano A tinha se separado em grupos maiores; a Natália, a Isa, o Carlos, o Joel e o Caíque estavam todos juntos, comentando sobre o caldo de milho verde que iam preparar. Reparei que a Camila não estava presente no meio da algazarra e comentei isso em voz alta assim que me acomodei numa cadeira vazia. O povo do terceiro ano ainda não tinha chegado.

– Ah, aquela traíra ficou no grupo do Luiz – a Nat empinou o nariz e revirou os olhos. – Ela só quer saber daqueles nerds agora!

Daniel, sentando-se do meu lado, se recolheu um pouquinho na cadeira ao ouvir o nome do Luiz Eduardo. Não sei se isso acontecia sempre, mas, agora, era muito visível pra mim que até isso o incomodava... Deixei o assunto morrer pro meu lado e fiquei quieto observando-os discutir, diferente das meninas do meu maldito grupo, qual cozinheiro iam contratar pra fazer o tal caldo.

Passei a semana flutuando entre a irritação, o tédio e a ansiedade. A escola tava uma merda sem precedentes; enquanto esperava o resultado das provas, os professores iam destilando ameaças e brincadeiras com as nossas notas. Isso me deixava muito nervoso! Minhas férias inteiras dependiam daqueles números, como eles podiam brincar daquele jeito?!

Infelizmente, como não tínhamos muito o que fazer a respeito, quase todos os dias íamos para a casa do Caíque jogar videogame. Era bem pertinho do colégio e do meu próprio apartamento, inclusive, mas eu só comparecia aos encontros pra não gerar muita reclamação dos outros.

Eu não me sentia nem um pouco à vontade com o pessoal mais, isso era outro ponto muito esquisito naquela minha vida toda cheia de bizarrices.... A gente zoava e tal, mas eu sempre me pegava com uma resposta pronta, na ponta da língua, pra rebater uma brincadeira de mal gosto – uma resposta que renderia uma briga daquelas, com toda certeza do mundo. Então eu a engolia de volta, e isso me dava uma indigestão horrorosa. Meu estômago até chegava a doer.

Eu ficava perto do Dani, pra ver se ele me acalmava, mas a situação só piorava: por já ter consciência das coisas que eu pensava, me sentia mais "livre" com ele. Então as explosões aconteciam com mais frequência, agora que eu tinha com quem explodir, se é que dá pra entender...

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now