Agosto IX

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Não sei onde estamos ou o que estamos fazendo. É noite, mas dentro da boate parece uma explosão de fogos de artifício. Meu estômago grita enquanto derramo mais álcool sobre ele, ignorando-o deliberadamente, é claro.

Daniel passa o braço pelo meu ombro e nós cantamos à todo pulmão o refrão da música que explode nos alto-falantes.

Dream of Californication

Dream of Californication!

Espera. Quando foi que ele chegou ao meu lado? Onde está a menina da bebida doce? Ah é! Eu dei um fora nela.

– Conheço um lugar mais reservado! – ela gritara no meu ouvido, babando no meu pescoço.

Me afastei num pulo, limpando a baba da risada dela com certo asco. Não babem em mim, não façam isso, nunca.

De repente, ela não era tão atraente assim. Uma ótima fornecedora de bebida ilícita e provavelmente batizada, sim, mas não valia a pena.

– Não estou a fim. – anunciei e saí marchando pro outro lado da boate.

Ah! Foi ali que encontrei o Dani. Ele estava com um copo bem parecido com o meu. Trocamos o conteúdo deles, misturamos, derramamos mais um pouco da garrafa que o Gustavo tinha comprado e fizemos nossa festa particular. O resto do time se espalhou e nós dois ficamos curtindo nossa bebedeira sozinhos.

Ele levanta o copo com a mistura na mão direita, eu ergo o meu na mão esquerda e a falta de equilíbrio nos faz derramar meio conteúdo em cima dos nossos tênis – aqueles ali mereciam um prêmio de melhor calçado do ano, com certeza.

A gente se olha e gargalha sem muito motivo, bebericando um pouco pra evitar um desastre ainda maior. Dani se inclina sobre meu pescoço e fala alguma coisa no meu ouvido, mas não consigo distinguir o que é. Me viro em sua direção e percebo que ele continua olhando pra mim, talvez esperando uma resposta. Balanço a cabeça e levanto as sobrancelhas em total desentendimento. Ficamos assim, nos encarando por alguns minutos.

Os olhos dele estão brilhando – eles vacilam entre minhas próprias íris e minha boca. Não noto que estou fazendo a mesma coisa, não dá pra notar... Não dá pra evitar.

Daniel faz menção de se aproximar pra cochichar no meu ouvido de novo, mas um movimento esquisito faz nossos narizes se esbarrarem no meio do caminho. Ele ri e eu espero que se afaste, mas ele não o faz. Ficamos com o rosto colado um no outro até um dos dois se mexer – não sei quem o faz primeiro, mas sei que nos movimentamos na mesma direção: pra frente.

Um para o outro.

É uma eletricidade diferente quando a gente se beija. Não é um beijo completo, tampouco, só um selinho que dura mais do que deveria durar. O engraçado é que não me vem nada à mente na hora: não penso que estamos numa boate no interior, rodeados dos caras do nosso time. Não penso – só estou tentando me concentrar para não deixar o copo cair ou derramar sobre nós dois...

Daí alguém esbarra na gente e nos faz abrir os olhos e se afastar um centímetro. Não sabemos quem foi, mas conseguiu fazer com que um dos copos se virasse totalmente. O dele, não o meu. Não inteiramente em cima de nós dois, mas o jeans do Daniel está encharcado da coxa pra baixo, a gente consegue ver mesmo na luz colorida e bruxuleante. Eu reviro os olhos, impaciente, efervescente, mas ele ri e gesticula em direção ao banheiro. Dou de ombros enquanto meu amigo se afasta, bebendo do resto do meu recipiente de uma vez pra não ser a próxima vítima.

Aprendendo a Gostar de Mim {Aprendendo II}Where stories live. Discover now