2.Ceticismo Parte I

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"A morte é a morte. O que mais se pode fazer?" — O Cemitério, Stephen King

"As fronteiras que dividem a vida da morte são, na melhor das hipóteses, sombrias e vagas. Quem dirá onde termina um, e começa o outro?" — Edgar Allan Poe

 Era uma manhã cinzenta de quarta-feira, quando Miguel acordou com o despertador tocando aquele "TLING-TLING" nojento que ele tanto odiava

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Era uma manhã cinzenta de quarta-feira, quando Miguel acordou com o despertador tocando aquele "TLING-TLING" nojento que ele tanto odiava. Pela enésima vez jurou que trocaria por uma música agradável, talvez um som de pássaros na floresta ou algo mais eficiente. Tão eficiente quanto o "TLING-TLING", porém menos desagradável. Levantou-se, calçou seus chinelos ainda cambaleante e saiu do quarto. No banheiro, lavou o rosto com a água gelada — tão fria que acordaria qualquer pessoa e qualquer outra coisa viva que tivesse contato.

Dirigiu-se até o quarto de sua irmã, que ainda estava dormindo um sono tranquilo —, um sono justo. A garota, de pele rosada e cabelos castanhos, suspirava bem baixinho enquanto abraçava um urso de pelúcia encardido como se fosse uma criança com medo do escuro, mas Miguel sabia que a garota não era mais uma criança.

Pobre Sofia, pensou olhando fixamente para a jovem que tanto sofreu na vida. Perder a mãe quando era apenas uma garotinha não era dor suficiente, quis o destino que ela estivesse lá bem na hora que um assaltante, trêmulo e inexperiente, disparasse aquele maldito projétil em sua heroína. O tiro fez com que o sangue caísse em sua camisa e um trauma enorme marcasse seu pequeno e jovem coração.

Sofia, desde que perdera a mãe nesse assalto nunca mais foi a garota sonhadora e cheia de vida que costumava ser. As duas se davam bem, a menina enxergava na mãe uma mulher forte e carinhosa. Miguel também a perdeu enquanto era jovem, mas nada comparava-se ao desespero que abateu sua irmã. Era uma garota forte transformando-se lentamente em uma pessoa doente, triste e desesperada.

No início ela se fazia de forte, mas aos poucos, a dor no peito se transformou em trauma, ela só conseguia ir da escola para casa. Afastou todos os amigos, até que parou de sair e, por fim, perdeu a capacidade de falar. — Exatamente isso, ela parou de falar. Começou a balbuciar e escrever quando precisava se comunicar com o irmão.

Por um tempo, a casa foi sustentada pelo avô, Sr. Arcanjo. Um homem magro, com um grande nariz e um ar raivoso de homem cansado. O velho sustentou os dois irmãos com sua aposentadoria, somada a um trabalho de zelador e a pensão deixada pelos pais de Miguel e Sofia. Não durou muito tempo e o homem, já octogenário, deixou de trabalhar. Seu raciocínio começou a dar traços de que não moraria mais naquele lugar chamado cérebro, fez as malas e como em um divórcio levou metade da sanidade do pobre senhor.

Miguel cresceu rápido, começou a trabalhar cedo. Ajudava no sustento da casa com o pouco que ganhava trabalhando — em uma madeireira do pai de um amigo. O Trabalho era difícil e pesado, mas ao menos garantia o convênio médico do avô e da irmã. 

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora