53. Guardião Parte III

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O véu de escuridão que os três adentraram deu lugar a uma imensa massa obscura, um prodigioso e abundante breu, era um local espaçoso,mas nada podia ser visto em meio a caligem, estava escuro demais.

— Aghi, cadê você?— Pronunciava Miguel, tateando àquela escuridão.— Droga, não estou enxergando nada!

— Estou bem aqui, acho que do seu lado... direito?

Miguel moveu o braço no sentido indicado pelo menino e não encontrou nada, tentou do lado esquerdo e percebeu que o garoto trocou as direções, ele estava lá, bem ao seu lado.

— Você consegue ver alguma coisa, Aghi?

— Muito pouco, espera... Viu aquilo?

Antes que Miguel pudesse perguntar, percebeu que cerca de alguns metros à sua frente uma esfera de luz azul, como um fogo-fátuo, se formava pouco acima das mãos daquele que os guiara até ali, as trevas começavam a dar espaço para que o local em questão pudesse ser contemplado.

Era uma imensa gruta.

O salão natural, um percurso enorme a perder de vista, era tomado por espeleotemas. Aqueles tubos cilíndricos crescendo em direção ao chão, dissolvidos na água que se cristalizava, criava naquele inóspito ambiente diversos tipos de formação no teto, paredes e chão da monumental caverna.

O local não era como outras grutas, em todos os aspectos,não existia forma de vida alguma, nem morcegos ou sequer uma aranha, nada além de pedras e escuridão em um caminho que se perdia nele mesmo, contudo presenças podiam ser sentidas, e elas eram conhecidas de Aghi e Miguel, que a cada dia podia compreendê-las melhor.

— Tem Carniçais aqui — pontuou Aghi.

— Eu também tô sentindo, que tipo de lugar é esse, cara? —Perguntou Miguel, fitando o ser que os levara para aquele local.

O Guardião Santo manipulou a forma azulada que dançava na palma de sua mão, até que ela se tornasse plenamente esférica, aquela estranha iluminação cumpria com êxito a função de lanterna. O local era extenso, contudo os únicos sons eram provenientes dos passos do trio, ou de suas conversas.

— Quando chegarmos lá, explicarei tudo.—O Guardião parecia pleno em sua confiança.

— Ah, nem ferrando, amigo! Fala logo que lugar é esse!

— Calma, Miguel! A gente pode confiar nele, ele é o Guardião Santo.

— Assim tão simples? Vamos apenas seguir esse sujeito em direção ao nada? Ou pior, em direção a morte!

O Guardião deu alguns passos, para descer de uma pequena elevação de pedras, e aproximou-se dos garotos com um semblante decidido.

— Vamos ou não? Escolham, temos pouco tempo.

— Pouco tempo? Tempo para fazer o quê? Você não consegue responder nenhuma pergunta?

O Guardião ignorou os apelos de Miguel, e começou a andar para o interior da caverna. Aghi rapidamente correu em sua direção enquanto seu amigo permanecia imóvel, o garoto parou no alto do pequeno amontoado de pedras,e pediu:

— Por favor, Miguel. Seja o que for, eu não consigo sem você.

Ele sacudiu a cabeça em desaprovação, poucas respostas e muitas perguntas, era tudo que ele mais odiava, Miguel gostava de controlar e planejar suas escolhas. Não seria assim naquela imensa caverna, tudo que podia fazer era seguir o fluxo e acreditar que aquele dia acabaria bem.

Em outras ocasiões Aghi jamais errou ao julgar o caráter e intenções de seja quem fosse, contudo, aquela situação em específico estava nebulosa, talvez o senso moral do garoto, um discernimento moral que como uma bússola os guiara em diversas ocasiões, poderia não funcionar adequadamente diante da esperança de um salvador.

— Você tem certeza que podemos confiar nele, Aghi?

— Claro que tenho. Vamos, por favor, Miguel!

O jovem respirou fundo, levou a mão até a nuca e fechou os olhos em sinal de inquietação.

— Que se dane, vamos com esse cara!

Os dois sorriram e quando perceberam que a luz se afastava,correram na direção do portador da única centelha de iluminação.

A caminhada prosseguia, já estavam andando há alguns minutos e nada na paisagem se alterava substancialmente.

Era perceptível que todo fluido que um dia formara àquela caverna a abandonou, criando um ambiente seco e sem cursos d'água, era seco e sem vida. Enquanto seu guia andava tranquilamente pelo percurso natural, quase uma estrada de terra em meio a rochas tão bem alinhadas, os dois jovens andavam lado a lado de forma cautelosa.

— Onde estamos? Digo, aquele portal estranho pode ter nos levado para qualquer lugar, certo?

— Como assim? — Perguntou Aghi.

— Bem, não existe nenhuma caverna assim na Cidade Cinza,aqui pode ser do outro lado do mundo, ou talvez nem neste mundo, aqui pode ser o inferno ou outro planeta... Sei lá.

O menino sorriu despretensiosamente para o comentário de seu amigo.

— Aqui não é o inferno, Miguel...

Um imenso e bestial grunhido ecoou pela caverna,interrompendo o raciocínio de Aghi e fazendo com que o próprio se assustasse e parasse o caminhar constante.

— Que merda foi essa?

— Uma das criaturas que vocês chamam de Carniçal. Estamos bem perto. — Respondeu o Guardião Santo.

Ele esticou a palma de sua mão e a força com que a luz iluminava a caverna se fortaleceu, revelando um percurso que se estendia em uma subida constante, íngreme e estreita.

— Cuidado para não caírem. Precisamos subir.

Miguel nem pensou em questionar o pedido, a feição de Aghi era tão determinada que nenhum apelo poderia alterar o rumo de tudo aquilo,apenas seguiram cautelosamente o portador da luz.

A cada passo naquele estranho caminho, algum grunhido era emitido do fosso abismal que se encontrava ao lado do estreitamento, na parte de cima da gruta os espeleotemas se tornavam alongados e pontiagudos, eram milhares de gigantescas estalactites que a qualquer momento poderiam cair em suas cabeças.

O percurso levou ao topo de uma imensa pedra, um enorme despenhadeiro, o fosso que emanava os guturais ecos de feras, separava o local onde estavam de outra imensa formação natural, que mal podia ser vista, mesmo com a iluminação da esfera.

— Chegamos.

— Onde estamos, Guardião Santo?— Perguntou Aghi.

Ele apontou com sua luz, que se intensificou, para a enorme separação criada pelo fosso que dividia às duas pontas da caverna. Uma imensa ponte de madeira, velha e deteriorada, separava os dois locais.

— Essa ponte é imensa! Quem construiu isso?— Questionou Miguel.

O Guardião, pela primeira vez, sorriu de forma simpática.

— Fui eu. Já faz algum tempo. — Ele intensificou seu olhar na direção de Aghi.— E hoje você vai atravessá-la, Agnathi Galardoni.

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Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora