63. Estrada Parte VI

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Sozinho, naquele velho armazém, Aghi percebeu que sua única chance de sobreviver envolvia fazer exatamente o que Alfredo lhe aconselhou. Balançou o corpo com força e tombou a cadeira no chão, ficou bem perto do facão cravado no piso, por algum motivo o barulho feito por ele não atraiu o homem lá fora, ou seja, ele realmente queria que ele escapasse.

Com os pés debilmente atados, ele engatinhou na direção da lâmina, com cuidado cortou a corda que prendia seus braços e com as mãos livres desatou o restante dos nós que o prendiam junto a velha e enferrujada cadeira.

Estava livre, lançou uma olhada rápida no açougue abandonado para constatar que o local contava com uma saída lateral. Depois de dois solavancos, o menino conseguiu mover a velha porta de ferro que estava desgastada pelas intempéries e pelo abandono. Esgueirou o pequeno corpo para passar pela pequena abertura que conseguiu criar.

Fora do velho armazém, a visão descrita por Alfredo se concretizou: poderia se esgueirar pela chuva até o matagal, que possivelmente o levaria a estrada que os trouxera, ou correr na direção de um casebre caindo aos pedaços, no alto de uma pequena elevação. A escolha óbvia tenderia para o matagal, onde a área livre facilitaria uma possível fuga, e já na estrada com um pouco de sorte poderia conseguir até uma carona.

Os empecilhos deveriam ser considerados, o garoto estava andando com dificuldade, a pancada que o desmaiou no carro cobrara um efeito pesado. Estava cambaleante e fraco, com a chuva pesada, que estava prestes a cair, não conseguiria chegar até a estrada antes de um ataque, seja de um Carniçal ou do amaldiçoado. Poderia se esconder perto de alguma das pequenas árvores isoladas pelo terreno, mas seria presa fácil para algum Carniçal, não poderia arriscar e contar que apenas Alfredo o perseguiria.

Optou por fazer o caminho mais óbvio, se esconder no casarão. Daquele lugar poderia ver todo o terreno próximo, se conseguisse um esconderijo aos poucos recuperaria sua força para uma fuga, a chuva em breve terminaria e seria mais fácil escapar das garras da morte.

Com o corpo pressionado contra a parede lateral, Aghi avistou Alfredo e o que mais temia nesse momento, um Carniçal. Os dois estavam em uma conversa que só poderia resultar em seu assassinato ou um sequestro, precisava ser rápido e discreto em sua fuga até a velha casa. Em passos cambaleantes se esgueirou pelo mato, usou um pouco da força que lhe restava para subir o pequeno morro com toda a velocidade que suas pequenas pernas lhe permitiram ter.

Aparentemente não foi notado por Alfredo ou pela criatura, se eles percebessem que estava indo para a casa seria encurralado e tudo estaria terminado. A casa, apesar de pequena, possuía dois andares, o segundo andar se destacava pela falta de acabamento das paredes que salientavam os tijolos de sua alvenaria. Na parte leste, um imenso buraco tomava metade da parede e a falta de boa parte do telhado, acarretava água da chuva invadindo os cômodos da residência.

Aghi entrou pela abertura daquilo que um dia foi a porta de entrada da antiga morada, certamente removeram as esquadrias do lugar, nada surpreendente vindo de uma casa abandonada no meio do nada. Dentro do cômodo principal, o piso de tacos de madeira, tão encardidos e manchados, recebia o garoto, foi necessário desviar das poças e buracos. Uma luminária parcialmente em pedaços balançava de um lado para o outro com vento da chuva que começava a se intensificar, um relâmpago cortou os céus e encheu de luz a fantasmagórica casa.

Era nítido que primeiro andar não tinha muitas opções para um esconderijo, os únicos móveis eram um sofá de um assento, que os ratos ou outros animais devoraram em grande parte, e a prateleira de três níveis. Subiu pela escada, o ranger dos degraus de madeira e o farfalhar das folhas que invadiam o lugar se fundiam ao som das pesadas gotas, que batiam contra as ripas velhas do lugar.

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora