41. Carmesim Parte V

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Após o embate com Majora, voltaram para o apartamento de Miguel. Aghi estava ansioso para descobrir o que seu amigo sabia sobre a misteriosa mulher.

— Tem certeza que você sabe quem ela é? — Questionou Aghi.

— Tenho sim, só um instante.

Miguel abriu suavemente a porta do quarto de Sofia, a garota dormia tranquilamente. Olhou para o quarto do avô que também dormia, tudo estava em paz em sua casa, ninguém parecia ter notado a ausência deles, naquela noite.

Miguel puxou um pequeno baú ornamentado, localizado em baixo da estante da sala. Abriu o velho baú, diversas folhas, alguns livros e fotos de sua família estavam guardadas ali.

— Que baú é esse, Miguel?

— São coisas do meu pai. Quando você falou o nome da Majora, um rosto me veio a mente na hora.— Miguel levantou os papéis, a maior parte, escritos a mão, um deles, pelo envelope, parecia uma carta do pai dele. Tirou algumas revistas velhas que estavam guardadas.

Começou a olhar a capa de cada revista, algumas eram notícias cotidianas, outras de esporte e economia. Abriu um sorriso quando encontrou a que procurava.

— Olha essa família, Aghi. Você reconhece alguém?

Era uma família linda, uma mulher jovem com um elegante vestido branco, um homem usando uma camisa social listrada, e uma garotinha. Estavam no sofá de uma casa, parecia ser a casa deles, no título da revista estava escrito "Forbes", o subtítulo dizia "Poder e carisma contra o preconceito".

— A garotinha, Aghi! Olha bem para o rosto dela.

—Nossa! Essa é a Majora? — Aghi perguntou assustado.

—Sim! Muito mais nova, lógico! Mas só pode ser ela. Meu pai guardou essa revista com muito carinho, dizia que podia ser uma das mais importantes do século. O pai da Majora foi o homem negro mais rico da América Latina, Sabastião Okafor. Ele era dono de um império financeiro: lojas de comida, joalherias e shoppings.

Aghi não parecia entender, a mulher que buscava vingança desesperadamente não se assemelhava à alguém que viveu uma vida tão tranquila.

— A Majora tem pais ricos?

— Não mais. Eles morreram há muito tempo. na época foi um escândalo gigantesco.

—Como assim? O que aconteceu com eles?

Miguel folheava a revista, até que finalmente chegou a matéria que tratava sobre a família de Majora. As fotos eram lindas, uma família maravilhosamente feliz.

— Eles eram a família perfeita, ou pelo menos assim a mídia mostrava. O que se sabe é que em uma noite, após voltarem de uma festa beneficente, a mãe da Majora, Amanda, uma jornalista aposentada esfaqueou o marido na cozinha, de madrugada.Tudo aconteceu bem na frente da filha que já era adolescente, um pouco mais velha que você.

— Não pode ser! Por que ela fez uma coisa dessas?

— Ninguém sabe, Aghi. Quando a polícia chegou, Amanda estava encolhida no canto da parede chorando e sussurrando coisas estranhas, ela foi levada ao hospital, mas na manhã seguinte já tinha cometido suicídio. Majora mudou-se para o Estados Unidos e ninguém mais teve notícias dela.

O garoto ficou triste e confuso, aquela história era angustiante e sombria demais para seu jovem coração. A única certeza disso tudo é que Majora carregava uma dor imensa em sua alma. Tanto ele quanto Miguel sabiam a dor de perder os pais, mas dessa forma era diferente. Violência deixa cicatrizes e aqueles monstros sabiam disso, e claro se fortaleciam disso.

— Eu escutei um Carniçal falando com ela. Procurei, mas não encontrei nenhum.

—Estranho você dizer isso. — Disse, Miguel, que levava a mão à nuca.

— Por quê?

— Quando lutei com a Majora toquei na nuca dela, por baixo do cabelo, tinha alguma coisa estranha presa nela, como um osso. Quando toquei naquilo senti um calafrio estranho.

Ambos compreenderam que de alguma forma a coisa na nuca dela só poderia ser um Carniçal, da mesma forma que aconteceu com Thomas, Majora estava em algum tipo de acordo sinistro com a criatura em questão. Uma parceria entre a mulher e o Carniçal poderia explicar o tiro feito à vários kilometros que foi noticiado na televisão, responsável pela morte de Enrico Gaspartti.

— Miguel, se ela matar aquele senhor, ela morre.— Lamentou Aghi

— Eu pensei isso, Aghi. Essas criaturas se alimentam de pessoas, provavelmente. à ligação entre os dois acaba assim que ela conseguir terminar sua vingança. E todo acordo tem um preço, certo?

Aghi consentiu com a cabeça. A única chance de evitar duas mortes seria chegar até o local onde Emiliano Espada passaria a noite.

— Eu escutei a criatura falando com ela. O senhor Emiliano se hospeda em um hotel chamado Central Palace. Você conhece?

Miguel deu um sorriso, o hotel em questão era de um preço elevado, nessa vida ele e sua família nunca poderiam pagar por uma estadia lá.

— Eu sei onde fica. A boa notícia é que ela não tem como chegar lá essa noite. Se ela tentar alguma coisa vai precisar de algum plano para pega-lo a curta distância. As janelas não tem vista alguma para alvejá-lo com um tiro, como ela fez com o general.

— Você acha que ela vai entrar lá, no prédio? — Perguntou, Aghi.

— Não, seria um massacre se ela fizesse isso. Provavelmente ela vai dar um jeito de tira-lo do hotel, precisamos analisar as saídas. Principalmente aquelas que tem pouca circulação de pessoas.

O garoto ficou admirado, apesar da situação sinistra, era maravilhoso ver a forma como Miguel raciocinava, possivelmente ele e Majora eram igualmente inteligentes, o que o fez questionar: Seria possível Majora ter um lado bom e generoso como Miguel, ou seu amigo também poderia se perder motivado pela raiva?

— Acho melhor dormimos, amanhã nós acordamos cedo. Essa vida dupla ainda vai acabar com a gente. Não sei quanto tempo eu aguento lidar com essas coisas sem surtar, Aghi.— Realmente Miguel parecia cansado.

—Miguel.

— Fala, Aghi.

— Posso ficar com a revista?

Miguel ergueu a sobrancelha em curiosidade, mas não perguntou nada. Apenas entregou a revista e bagunçou o cabelo do garoto.

— Boa noite, Aghi. — Disse o rapaz dirigindo-se para seu quarto.

— Boa noite, Miguel.

Aghi pegou o cobertor e deitou no sofá da sala, ficou olhando aquela família feliz na capa da revista. 


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