4.Ceticismo Parte III

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Aquele enorme fluxo de alunos e alunas marchava pelos corredores em direção a saída. Normalmente, Miguel esperava as aulas da namorada terminarem para acompanhá-la até sua casa, mesmo que apressadamente. Mas um impulso estranho o tomou, ele queria passar no beco que ficava atrás da escola. Queria não, ele precisava daquilo. Uma olhada rápida no celular para saber as horas deu a confirmação de que ele dispunha de um certo tempo antes de almoçar correndo e ir para o serviço.

Saiu da escola e na entrada do beco viu um senhor de cabelo grisalhado, olhos cansados e aquele ar de mendigo — que a roupa suja e a falta de banho dão a uma pessoa. O velho o encarou e subitamente disse:

— Você tem comida?

— Hoje não, tio! — Respondeu Miguel.

Virou-se, deu dois passos e lembrou da mãe que sempre dizia: meu filho, se alguém te pedir comida lembre-se de sempre compartilhar o pão. Compartilhar o pão? Que Besteira, pensou. Mas fazer o que sua mãe ensinara era mais que fazer o certo, era homenageá-la. Pelo menos em situações de generosidade.

Virou-se na direção do velho, tirou um sanduíche da mochila e disse:

— Eu tenho um sanduíche, quer dividir?

— Obrigado, mas não é pra mim é pro garoto ali. — Estendeu o dedo e apontou para um jovem.

E não era qualquer garoto, era o bendito garoto que ainda estava olhando para o nada. Miguel andou até o rapaz que permanecia agachado e se colocou na frente dele.

— Moleque, tá com fome? — Indagou com um sorriso.

— Sim! — Respondeu a criança levantando sua cabeça e olhando-o atentamente.

— É um sanduíche de alface, peito de frango e tomate. — Repartiu o pão de um jeito tosco, em metades desiguais, e deu ao garoto a maior parte.

— Obrigado. —A criança sorriu e pegou o alimento.

Miguel olhou assustado ele mastigar com pressa aquela refeição como se fosse uma competição de quem come mais em menos tempo.

— Qual é seu nome? — Perguntou Miguel.

— Agnathi Galardoni. E o seu? — Disse de boca cheia, de uma forma bem cômica.

— Caramba, que nome complicado. Eu me chamo Miguel. Posso te chamar de Aghi, ou algo assim?

O garoto parou de mastigar, lançou um olhar contemplativo para o nada enquanto balbuciava: Aghi, Aghi, sem emitir nenhum som dos lábios.

— Eu gostei, pode sim!

— Então, Aghi. Você tem pais? Como veio parar na rua? Alguém cuida de você?

— Eu não tenho pais, o senhor Todorovi cuidava de mim antes de vir pra essa cidade. — Respondeu o garoto.

— Então você fugiu ou esse senhor Todorovi sabe que você está aqui?

— Eu não sei se ele sabe, eu saí quando recebi o chamado, vim parar aqui. Agora estou esperando.

O que diabos uma criança esperaria em um beco sujo, ainda mais em outra cidade, perguntava-se. Tudo aquilo era muito estranho para Miguel que começou a verdadeiramente ficar preocupado com aquele garoto esquisito e sem família.

— Quem você tá esperando? — Indagou Miguel.

— O Guardião Santo. — Disse o garoto tranquilamente

— Guardião.... O quê? — Disse Miguel, assustado.

— Guardião Santo! — Respondeu com entusiasmo, o garoto que terminara seu sanduíche. — Eu sou aquele que sabe o nome de Deus e o Guardião Santo é o meu protetor.

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora