22.Amargo Parte III

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Quando Isabel entrou no prédio, Miguel olhou para Aghi e deu um tapa na nuca do garoto que pulou para trás assustado, os tapas de desaprovação em sua nuca já estavam virando uma tradição entre os dois.

— Que papo foi aquele? Não combinamos que você não falaria nada pra ela! — Disse Miguel.

— Eu disse que não falaria de Carniçal. E não falei.

— Olha só. Bico calado, entendeu? Se você falar essas coisas de guardião Santo e não sei mais o quê as pessoas vão achar que você é louco.

Aghi não era bom em esconder as coisas e nem queria ser, mas se aquilo era o suficiente para trazer paz para Miguel ele não teria problemas em se esforçar um pouco mais.

— Tudo bem. Eu não vou falar nada. Só não me chama de Marcos.

Com isso Miguel foi obrigado a concordar, a mentira do primo Marcos foi a coisa mais idiota que ele poderia dizer. Era o tipo de mentira que faz com que o mentiroso se sinta ridículo antes mesmo de terminá-la, além do mais Isabel não acreditaria nisso.

— Combinado. Eu paro de inventar besteiras e você não fala mais sobre coisas sobrenaturais. — Aghi preparou-se para interromper quando Miguel ao entender o que o garoto gostaria de acrescentar antecipou-se dizendo: — Pelo menos, não fale disso com pessoas que você acabou de conhecer.

Alguns minutos depois Isabel estava de volta. A garota explicou que Sofia não queria ser grossa com o irmão apenas estava com muita dor para prestar atenção em qualquer coisa, mas que o remédio a ajudaria e mais tarde naquele dia estaria mais acessível para conversa. Miguel pensou que talvez fosse melhor não dizer nada, quanto mais a garota soubesse mais perigo ela correria e isso até mesmo Aghi parecia entender.

Apressaram-se para chegar na escola, uma caminhada simples e rápida que Miguel se habituou a fazer sozinho. A cidade Cinza tinha um ar diferente quando se está em grupo, naquela manhã não enxergou acidentes ou brigas mas em algumas ruas percebeu Carniçais esguios espreitando. Isabel não podia enxergá-los e Aghi era totalmente indiferente a tais criaturas, simplesmente as ignorava. Miguel calculou que em todos os seus dias de vida diversas dessas criaturas devem ter cruzado seu caminho sem que sequer os percebessem. Que estranho mundo novo era esse, ele pensou. Eles eram pequenos e covardes, tão diferentes do monstro da noite anterior.

Ao chegar na escola uma multidão de alunos amontoavam-se perto do muro próximo a entrada, uma lista com as notas do primeiro simulado para o vestibular estava pendurado para consulta. A escola tinha o costume de expor todos os seus alunos para julgamento público fazendo com que as notas altas fossem exaltadas e as piores notas sofressem com o julgamento público de alunos, pais e professores.

— Caramba, eu tinha esquecido que hoje era o dia da divulgação das notas. — Miguel comentou aproximando-se da multidão.

Quando os alunos de sua sala o avistaram ele foi saudado com palmas, sem entender aproximou-se do muro para ver sua colocação. A escola colocou em uma folha separada os dez primeiros colocados:

MIGUEL ARCANJO MUNIZ 96 PTS

THOMAS KANNENBERG SOUZA 95 PTS

RITA LEVI 93 PTS

4° ELLEN J. SIRLEAF 92,5 PTS

5° MARIA CONSTANTE MAYER 90 PTS

6° BARBARA FERREIRA McCLINTOCK 84 PTS

7° ERLAINE DANDARA SILVA 83 PTS

8° ROSA CUNHA PARKS 82 PTS

9° ISABEL RODRÍGUEZ GARCIA 81 PTS

10° MARIA QUITÉRIA DE JESUS 80 PTS

— Meu Deus que emoção! Eu tô no top 10. Não acredito! — Dizia Isabel, comemorando com suas duas amigas Erlaine, que também estava na lista e Alice.

Erlaine e Alice aproximaram-se de Miguel e Isabel para abraçá-los e dar os parabéns por suas excelentes notas conquistadas. Miguel recebeu uma série de elogios de outros colegas, de certa forma ele era muito querido pelos alunos de todas as cinco turmas do terceiro ano do ensino médio.

Aghi observava Miguel confraternizando com todos, era estranho como ele realmente podia ser simpático e querido por outras pessoas. Mas nem todos os alunos gostavam dele, em meio a multidão alguém aproximou-se e disse:

— Muito bem, Miguel! Quem diria que você conseguiria uma nota assim? Quero dizer, pra um repetente é incrível mesmo. Quantas vezes você já fez essa prova?

O autor da tal provocação era Thomas Kannenberg, um jovem bem-apessoado de estatura mediana e um sorriso irritante. Thomas era da sala de Miguel, mudou-se no último ano para a cidade e seus pais o matricularam no Instituto Educacional Demétrio.

Quando o jovem provocou Miguel com tais palavras todos se calaram e espantados esperavam qual seria a reação de jovem que olhava para ele com seriedade. Os alunos acostumados a brigas tolas na frente da escola esperavam que Miguel, sendo tão pavio curto e mais velho que o ofensor, atacasse primeiro com um soco, ou algo assim. Não aconteceu, ele simplesmente virou-se para Alice, uma das amigas de Isabel, e disse:

— Alice, qual foi sua nota mesmo?

A garota assustada pela surpresa de tal pergunta, ajeitou os óculos timidamente e respondeu com voz baixa, temendo ser escutada pelos outros alunos que os rodeavam:

— Eu ainda não fiz a prova, estava muito doente. Vou entregar o atestado e fazer nos primeiros horários, hoje.

— Então essa lista está errada, certo? — Miguel disse com um sorriso sincero, já que ele conhecia a capacidade da garota.

— Talvez... Eu não sei. — A garota, cheia de vergonha, respondeu inclinando-se para perto de Isabel.

Ao ser ignorado por todos que estavam perto Thomas mudou seu semblante para frustrado e saiu a passos largos de perto de todos. Enquanto a multidão prestava atenção em Miguel e seu grupo, Aghi olhava atentamente para Thomas. Algo na postura do garoto chamou sua atenção.

Era o ódio, sentimento tão comum para a maioria das pessoas, mas para Aghi existia na raiva de Thomas um elemento único: desespero e frustração. Sentimentos que levam pessoas adultas a cometerem erros terríveis e na maioria das vezes machucam as pessoas próximas. Aghi sabia que aquilo não era o fim e que em breve encontrariam aquele jovem novamente, só não sabia em quais circunstâncias.

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Já faz algum tempo que a história estava parada, né? Peço desculpas para todos os amigos que tiraram um tempo de suas vidas para acompanhar essa jornada. A vida cobra alguns preços e a falta de tempo é um deles. 

Agradeço pela leitura e

aquele abraço!

****PRÓXIMO CAPÍTULO 08/07****

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora