48.Amaldiçoado Parte III

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O estranho sujeito — agora agachado na altura dele — pegou a arma de fogo e a colocou na mão de Alfredo, sutilmente deslizou seus dedos para que Alfredo segurasse o gatilho.

— O jogo é simples e rápido: quem morrer perde. — O homem da boca costurada ergueu a mão de Alfredo com a arma apontada para sua cabeça. — Você começa, se você me matar pode ir pra casa, se eu sobreviver te dou um tiro na testa.

Era uma visão assombrosa, o sujeito com aquela arma apontada para a cabeça, com um sorriso maligno de confiança.

— Quem é você? Você é o diabo ou algo assim?

— Não seja idiota. Sou apenas um homem que quer morrer e você é um homem que quer viver. — Ajeitou a arma em sua testa e colocou o dedo de Alfredo no gatilho. — Então capricha. Atire bem na minha testa, sem medo. Vamos lá!

Alfredo tremia.

— Eu não posso fazer isso.

— Sério? Sendo assim, vou ter que te matar e sua família nunca vai saber o que aconteceu. Seus filhos crescerão com o pensamento de que o pai os abandonou.

Uma lágrima escorreu pelo rosto de Alfredo.

— Por favor, eu não quero...por favor!

Com a mão esquerda ele pegou seu facão preto, algoz de Rinha, e tranquilamente o erguia na direção de Alfredo.

— É uma pena, pena mesmo. Achei que você era esperto e...

Alfredo apertou o gatilho e o projétil atravessou a nuca do homem, que tombou na direção do solo em uma poça de sangue. A arma caiu no chão e ele tentou se erguer desengonçado, mas o ferimento na perna o fez cair sentado no mesmo lugar.

Lembrou-se do carro e começou a se esgueirar até conseguir inserir a chave na porta do passageiro, mas o veículo não abriu. Ele precisaria ir pela entrada do motorista.

Reuniu forças para se levantar, contudo, caiu novamente no chão quando percebeu que o corpo na sua frente estava se movendo, de alguma forma o tiro na testa não o matou.

Teria errado o alvo?

Impossível, a arma estava com o cano na testa dele, e a poça de sangue era a prova cabal de um cérebro perfurado.

— Parece que você está sem sorte, Alfredo. — Disse homem limpando o sangue da testa sem o buraco feito pelo projétil, momentos atrás.

Desesperado, Alfredo tentou pegar a arma que estava no chão, mas o homem pisou em sua mão e pegou o revólver.

— Não, não, não. Você conhece as regras: um disparo pra cada um.

Enquanto ele chorava e balançava a cabeça, o sujeito apontou a arma para sua testa.

— Essa sensação não é maravilhosa? Sentir a morte tão perto, a certeza de que em um instante tudo pode acabar. Invejo você.

Olhos fechados e os dentes pressionados uns contra os outros eram as únicas reações que ele poderia ter. O suor percorreu seu rosto se fundindo as lágrimas que rolavam enquanto ele tentava balbuciar alguma negação.

Pensava na família, em Alex e seu maldito papo convincente e claro na morte. Não existia escapatória alguma, estava nas mãos daquele homem ou demônio.

Aguardou até que um barulho de gatilho foi escutado, entretanto não foi acompanhado da morte.

O revólver não tinha mais balas.

— Me desculpe, amigo. A arma está descarregada, puxa vida! Acho que eu perdi a conta, não percebi, me perdoe — dizia o homem com um sorriso levemente debochado — mas a gente pode brincar outro dia, certo?

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora