28.Amargo Parte IX

2.2K 166 27
                                    

O corredor escuro da escola possuía duas iluminações distintas: A luz da sala de aula, deixada pelos garotos, e a luz do celular de Miguel, que apesar de fraca ajudava a identificar a passagem e analisar a escola.

— Pra onde a gente tá indo, Miguel?

— Então, na cantina. — Disse Miguel enquanto analisava uma torneira do antigo bebedouro da escola.

— Por quê?

— Oras, pra olhar a comida. Por que motivo alguém iria na cozinha?

Aghi franziu a testa, ainda não conseguia acompanhar a linha de pensamento de seu amigo. O que ele planeja? Como o Miguel pode estar tão tranquilo enquanto uma criatura horrível está prestes a devorá-los? Pensava Aghi.

Miguel abriu a torneira, bebeu um pouco de água de forma desajeitada com as mãos e encheu uma garrafa. Aghi achou estranho. O que causou estranheza não foi a coragem dele em beber água em uma escola abandonada e tomada por monstros, mas o fato de que o amigo abriu a torneira e a deixou aberta.

— Isso me lembra que a gente precisa passar nos banheiros também. De que tamanho você acha que é a caixa d'água daqui?

— Eu não sei, Miguel. Isso não é desperdício?

—Não nessa situação. — Miguel respondeu enquanto refletia sobre qualquer coisa.

Aghi estava perdido naquela situação. Não entendia absolutamente nada do que ele fazia. Seu amigo perambulava pelos corredores e banheiros procurando algo e abrindo todas as torneiras possíveis. Olhavam pelas janelas e a escuridão não permitia enxergar muita coisa. O garoto podia perceber que os pássaros voavam por cima da escola, de alguma forma isso chamou a atenção de Miguel.

Miguel estendeu o braço pra fora da janela, esticou o braço até tocar em algo, parecia uma parede invisível, intransponível.

— É como eu pensei, realmente não tem saída dessa escola. Provavelmente não deve dar pra passar na força também.

Continuaram andando a passos lentos, Miguel não parecia ter pressa alguma. Quando chegaram na porta da cantina Aghi viu Miguel abrir um sorriso, o tipo de sorriso de quem está confiante. Tal confiança fez com que o garoto o segurasse pelo braço, afinal ele precisava entender o que estava acontecendo, precisava de uma explicação.

— Miguel, por favor! Me fala o que estamos fazendo.

— Relaxa, Aghi. Você vai entender tudo, eu prometo. — Miguel bagunçou a cabeça do garoto, era típico dele fazer isso como sinal de amizade.

— Mas... Eu não entendo como você pode estar tão calmo? Aquele cara tá cheio de raiva. Ele quer te matar. Essas criaturas só fazem acordos com pessoas desacreditadas e frustadas, elas se alimentam dos piores sentimentos.

Miguel suspirou fundo, passou a mão na própria nuca e disse:

— Olha só. Eu posso ter medo desses Carniçais e tudo mais. Afinal, eles são assustadores e devoram pessoas. Mas esse cara, ele... Nossa. — Miguel fez uma breve pausa, parecia refletir sobre Thomas e aquela situação. — Enfim, eu te garanto que não existe nada nesse mundo que me faça perder pra ele.Confia em mim vou tirar a gente dessa.

Aghi sorriu para o amigo. Era tudo que ele precisava escutar, a confiança de Miguel era o que ele tinha de mais sincero. Se ele não estava com medo, era simples: tinha um plano.

Abriram a porta da refeitório, estava como de costume: os bancos de concreto alinhados em fila, e as poucas cadeiras espalhadas pelo ambiente impecavelmente limpo. Andavam em direção a dispensa, Miguel ignorou a cozinha onde os alimentos eram preparados, limitou-se a olhar alguns potes que estavam vazios.

Chegaram a dispensa, uma pequena sala nos fundos do refeitório. A porta de madeira estava aberta, Miguel a empurrou e usou a luz do celular para iluminar o local. Encontrou diversas latas de comida e sacos com alimentos diversos. Não tinha nenhuma fruta e a única geladeira guardava alguns cortes de carne, eram poucos. Provavelmente abasteceriam o armazém apenas nos dias de aula.

— Bom, muito bom. É exatamente do jeito que eu imaginava.

— Como assim? Você vai comer agora? —Perguntou Aghi, assustado.

Miguel deu uma risada e balançou a cabeça:

— Eu vou te dizer o que vamos fazer: Nós vamos sumir com tudo isso. Não vamos deixar nem farinha.

Dito isso, começaram a pegar todas as latas e todos os alimentos daquele lugar, Miguel não queria deixar nem um grão de arroz naquele lugar escuro e sinistro.

****

Capitulo bem curtinho,

obrigado pela leitura!

"That's all folks!"

Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora