34.Família Parte IV

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— Então, você é o tutor do Aghi? O famoso senhor Todorov?— Perguntou, Miguel.

— Sim, é um prazer conhecer você. Acredito que esteja cuidando dele, certo?

— É, estou sim, nossa. Muito prazer, eu sou o Miguel.— Miguel apertou a mão do homem, apesar da idade tinha firmeza nas mãos. — Não é maravilhoso, Aghi? Ele te encontrou!

Então, percebeu que o amigo estava chorando, não um choro de alegria por encontrar um familiar querido, suas lágrimas eram de terror. Seus olhos estavam esbugalhados, a boca tremia de uma forma estranha. Era como se a visão de um fantasma tomasse o lugar.

— Não, não, não. Vocês não precisavam ter feito isso. Eu fui embora. Eu fui embora, achei que ele estaria a salvo. — Aghi, dizia tais palavras confusas em meio ao choro.

O garoto caiu no chão de joelhos. Estava desesperado.

— Aghi, o que tá acontecendo, esse não é o senhor Todorov?

— Acho que ainda está ressentido comigo, certo? Me perdoe, filho. Agora estou aqui pra você.

A chuva ficava mais forte, mas nenhum dos três aparentava ter o desejo de procurar abrigo. As palavras do homem, despertaram a atenção de Aghi que focou seu olhar triste para a figura do homem a sua frente.

— Você sabe que eu nunca ficaria com raiva dele. Vocês não precisavam fazer isso. Ele era um bom homem. Vocês corromperam a alma dele, não era o suficiente?

— Filho, eu não sei o que você está dizendo. — Interrompeu o homem.

O velho se agachou para abraçar o ombro do garoto, a essa altura Miguel não sabia o que fazer. Obviamente, pela descrição do próprio Aghi, aquele era o senhor simpático e amável que criou a criança na ausência dos pais. Contudo a recepção do amigo era a mais aterrorizada possível, como apenas alguém em pânico poderia oferecer.

O garoto empurrou a mão de Todorov, se afastou imediatamente. Aquilo pareceu a deixa para uma intervenção.

— Olha, senhor. O garoto não parece bem. Acho melhor nos encontrarmos amanhã com todo mundo calmo. Hoje foi tudo meio agitado, estamos nesse cemitério porque alguém atacou os túmulos dos meus pais.

— Ninguém atacou o túmulo de seus pais, jovem Miguel. — Interrompeu o velho.

— Como é, que é, cara?

— Sua mãe, meu jovem. Ela está viva, ela veio pra você.

Aquilo era tão absurdo, que Miguel não reparou a névoa contornar o seu redor, lentamente. Secava o rosto com os braços encharcados, enquanto, perplexo, encarava o autor daquelas palavras.

— Minha mãe morreu, meu senhor. Ela estava enterrada aqui até algumas horas atrás. Era bem ali.— Tentava apontar mesmo com a visão limitada.

— A morte não foi suficiente para separar Joana de seus filhos, ela está aqui essa noite.

Joana? Como diabos aquele senhor sabia o nome de sua mãe? Nada daquilo fazia sentido.

— Não use o nome da minha mãe! Você é uma daquelas aberrações? Por isso o garoto tá desse jeito? O que aconteceu com o homem que criou o Aghi?

— Eu sou Alexandro Torodorov. Não sou um Carniçal, sou um amigo. Da mesma forma que o presente que eu te trouxe essa noite é uma verdadeira benção.

— Que presente?

Fixou os olhos em Aghi esperando alguma explicação plausível, e não encontrou nada. O garoto parecia fechado em seu próprio mundo sussurrando não e não enquanto balançava a cabeça. Nem a água fria parecia distraí-lo.

— Que presente, merda? — Insistiu Miguel.— Do que você tá falando?

— Por que não vai conferir com seus próprios olhos? — Apontou para uma árvore encoberta pela névoa.

Fixou os olhos e com dificuldade enxergou um vulto, aos poucos a visão se tornava menos turva e era capaz de ver, alguém além dos três estava naquele cemitério.

— Tem alguém ali?

— Não é qualquer pessoa, você deveria ir ao encontro dela, rapaz.— A voz do homem se tornara doce, quase hipnotizante.


Resolveu atender o conselho e se encaminhou lentamente naquela direção, à medida que se aproximava podia reconhecer uma figura feminina de cabelos longos, usando um vestido branco.

— Quem? Quem está ai? Apareça logo.

Foi quando a voz,aquela voz, tomou seus ouvidos de assalto.

— Miguel, meu filho. Você está tão lindo.

Era única. Era som da boca dela, sua mãe.

Mesmo com todos os anos, mesmo com o barulho da chuva, era inesquecível: aquela voz pertencia a Joana. A medida que se aproximava notava que aquela mulher era sua mãe. As roupas, a altura, aquela voz, ainda que algo esteja diferente no tom, a sonoridade era levemente mais intensa.

— Mãe? Mãe, é você mesmo?

Um raio cortou o céu entre as nuvens escuras e a ausência de estrelas, o som alto mal pôde ser percebido por Miguel, sua atenção estava voltada para a mulher cujo o rosto não podia ser visto.


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****PRÓXIMO CAPITULO 19/05****

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